Capítulo 9

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Capítulo 9 - Luara

Luara: Já vou! — grito, vestindo um top.

Desembolo a lateral do pano enquanto ando até a porta, imaginando que seja um dos soldados do Digão pra entregar a encomenda que ele ia me mandar.

Pensei pra caralho antes de recorrer a ele, não quero dinheiro de graça, só quero trabalhar e se prestar serviço pra ele for o caminho possível pra eu ter minhas coisas agora, é o que eu vou fazer.

Coloco uma mão na maçaneta e viro a chave com a outra. Sei que aqui na favela é comum deixar as casas sem trancar, mas eu fiquei medrosa depois que passei a morar sozinha.

Abro a porta e, diferente do que eu tava esperando, dou de cara com o próprio parado na viela, segurando duas bolsas de viagem.

A expressão dele é suave, mas o maxilar continua marcado, enquanto seus olhos me estudam. A camisa branca contrasta com a pele preta tatuada e a presença dele traz uma sensação diferenciada pro lugar. Acho que qualquer lugar na presença dele fica diferente, não sei se é o jeito que ele olha ou a postura sem fazer força, mas o cara tem presença.

Luara: Ué — franzo a testa — Achei que TH ou Picolé ia trazer — olho pros dois segurando fuzil atrás do chefe deles.

Digão: Mudei de plano, quero trocar mais uma ideia contigo — desvia o olhar de mim pra minha sala.

Luara: Vou ter que te chamar pra entrar, né? — seguro a madeira da porta e abro um pouco mais a passagem.

Digão: Aqui no meio viela pros teus vizinhos fofoqueiros ouvir que não vai ser — ele entra na minha casa, sem muita cerimônia, e coloca as duas malas na mesinha de centro.

Picolé entra com mais uma bolsa e eu sorrio pro TH, que me responde com um aceno de cabeça.

Digão: Fica lá fora os dois, sem chamar muita atenção. Um lá no pé da escadaria e o outro na frente do barraco aqui do lado  — ordena, sentando no meu sofá. Abusado — Abre aí. — faz sinal com a cabeça pra mim e os soldados saem da minha casa, fechando a porta.

Abaixo na frente da mesinha de centro que minha mãe deixou aqui na casa, seguro o pano e deslizo o zíper. Meus olhos se arregalam quando vejo a pilha de notas de duzentos ocupando todo o espaço da primeira mala. Me apresso pra abrir as outras duas e me choco pela quantidade de dinheiro.

Luara: Quanto tem aqui? — apoio o peso do corpo na ponta dos pés, ainda agachada, mas olho pra ele.

Digão: Três milhões e meio — larga os braços fortes no encosto do sofá.

Luara: Isso não pode ficar aqui — me levanto e coloco as mãos na cintura — Você não me disse que era tanto dinheiro assim.

Digão: Por que não? — franze a testa.

Luara: Meu Deus, é muito dinheiro — olho pras bolsas lotadas de notas de duzentos — Vai que alguém entra aqui pra tentar roubar e faz uma maldade comigo.

Digão: Ninguém rouba na minha favela, preta — diz, com um sorriso leve nos lábios.

Meu coração tá tão acelerado pelo medo de ter esse dinheiro todo na minha casa, que, pela primeira vez, esse apelidinho não me afeta.

Digão: Não sou nenhum maluco pra colocar meu dinheiro em risco — levanta e chega perto da janela — Vem cá – estende a mão pra mim — vem ver um negócio.

Olho pra mão dele e depois pro rosto, antes de caminhar até a janela, ao lado dele. Sinto um arrepio correr pelo meu corpo e respiro fundo, quando ele coloca a mão na pele nua da minha cintura e me puxa mais pra perto.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora