Capítulo 68

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Capítulo 68 - Luara

Itaúna: Qual foi, Picolé? — o próprio pai do Tauã foi tentar tirar Picolé de cima dele, metendo a mão no peito dele.

Ação suficiente pra fazer todos os outros chefões da mesa se levantarem.

Pretinho: Ó, com todo respeito, tira a mão do parceiro — interveio, se colocando no meio com as duas mãos pra trás do corpo.

Coreano: Vamo ficar namoral, rapaziada. Entender qual é o fundamento da história, porra.

Picolé: Fundamento é que esse tal de Rael é um menor que o Tauã apresentou pro meu patrão — segurou o moreno pela gola da camisa polo.

Tauã: E o que o moleque tem a ver com o sumiço do Digão, caralho? — peita o Picolé, com a testa franzida, e tira o Itaúna do meio — Peraí, pai.

TH: Tu que tem que dizer! — se exalta —Tu que apresentou o cara, tu que foi conversar com Digão pra resolver o k.o dos dois...

Princesa: K.o? Que k.o? — tenta entender, mas discussão continua.

No final, tudo é uma grande interrogação e ninguém tá entendendo porra nenhuma. O falatório me deixa atordoada e basicamente só consigo prestar atenção nas batidas frenéticas do meu coração.

Juro, eu vou ter um ataque cardíaco antes dos 19 anos.

Jogador: Coé, Picolé — chama a atenção do soldado — Tu tá na tua razão, mas solta o cara pra nós entender melhor.

Picolé: E ele vai falar namoral? — tirou o olhar do moreno e encarou o Jogador.

Tauã: Vou, porra! Ninguém aqui vai compactuar com o errado, eu não sou maluco de inventar historinha.

Picolé: o cara vai falar, cria... — diz, paciente — geral aqui é homem pra agir no certo.

Luara: Picolé — me intrometo pela primeira vez e espero alguns segundos até a atenção dele tá em mim — Solta ele.

Sei que quando o ódio tá lá no alto, é difícil pensar com o mínimo de racionalidade. A luta interna dele é essa: tá consumido pela raiva, mas me desobedecer aqui, na frente de todo mundo, é minar a minha autoridade que no momento já é quase inexistente.

Ele me olha por breves instantes e eu imploro através do contato visual pra ele me ouvir.

E ele me obedece, soltando o Tauã, que ajeita a blusa esgarçada pela puxada.

Jogador: Fala tu primeiro — aponta pro Picolé.

Picolé: Tempo atrás Tauã levou esse menor lá na favela, pediu oportunidade pro Digão pro cara tá ajudando nós no transporte das cargas. Digão deu o voto de confiança, o Rael recebeu a carga, mas na hora de entregar não apareceu. Eu mermo fui buscar e ele não apareceu.

Coreano: Digão foi desenrolar com ele depois, eu lembro dessa parada — acena com a cabeça.

Picolé: Foi, pô. Meu chefe tava na paz com a Lua nesse dia — mantém a expressão fechada explicando os detalhes — Saiu da casa dela pra resolver a vacilação com o cara.

Pepe: O cara não apareceu por que?

Picolé: Disse que a favela tava salgada, que tinha muito polícia em cima... Mas quando ele fechou o negócio, Digão avisou a porra toda, tá ligado? O cara sabia da situação e fechou o acordo.

Jogador: Esse foi o cara que ele baleou. — supõe.

Picolé: Na perna.

Fecho a mão no entorno da madeira da mesa, evitando uma tontura. Não é como se eu não soubesse a realidade da vida do Rodrigo e o que ele faz, mas ouvir assim, tão claro, que enquanto a gente tava vivendo maior romance ele saía pra resolver esse tipo de coisa...É estranho.

Jogador: E tu? — apontou com o queixo pro Tauã — Tá certo o papo do Picolé?

Tauã: Tudo verdade, pô. — manteve a testa franzida enquanto o pai o olhava de longe, com um rosto bem mais fechado — Eu apresentei o cara pro Digão, sabia que ia receber uma carga e era a chance de nós ter uma oportunidade dentro da facção . Meu objetivo sempre foi correr por fora, sem precisar depender do meu pai pra fazer o meu nome... Cumpri minha parte do combinado, mas Rael vacilou e eu mermo fui conversar com Digão pra resolver.

Princesa: Conhece ele da onde?

Itaúna: Menor cresceu com ele — explica, deixando o filho respirar um pouco — Mãe dele morou lá na comunidade, mas a família é de Campos do Goytacazes, são aliados nossos lá.

Coreano: Tudo metido com tráfico no interior do estado...

Tauã: Colei com ele pra fazer o serviço porque sabia que era um moleque correria. Não tá acostumado como nós, mas tem noção das paradas...

Princesa: Esse cara ficou puto com o desenrolo que teve com Digão.

Tauã: Papo reto mermo? A família ficou no começo, porque o moleque teve uma puta infecção, quase perdeu a perna e os caralhos, mas da merma forma que troquei uma ideia com Digão, troquei com eles... Entenderam o erro do menor, sabiam que era motivo pro Digão ter quebrado ele.

Pepe: É por isso que não pode deixar esses filho da puta viver...

Jogador: Dá um motivo pra nós não te matar aqui mermo por traição — fala cara a cara com o Tauã, sem se importar com a relevância do Itaúna pra facção.

Não sou experiente no assunto, mas tenho certeza que ele não é peixe pequeno.

Tauã: Meu pai tá aqui pra ouvir as minhas palavras. Ele me criou pra ser homem, não moleque — mantém o olhar nos olhos do Jogador — Não vou jogar uma amizade de anos no lixo por causa de uma mensagem que eu não conheço o fundamento, mas se o Rael tiver envolvimento com essa porra, eu mermo vou resolver o bagulho.

Coreano: Igual tu resolveu antes?

Tauã: Não tem papo pra segundo vacilo.

Luara: Tu falou com ele recentemente? — pergunto, chegando perto dos dois — Tem alguma coisa que a gente possa ir atrás?

Sinto meu coração queimar de esperança, porque agora eu realmente sinto que tô um pouco mais perto dele. É aquela luz no fim do túnel, você sabe que o caminho é longo, mas uma hora você chega do outro lado.

Tauã: Falei com ele normalmente ontem, bebemos juntos, resenhamo — ele me olha — Sem maldade, tô falando pra vocês, não tinha nem como eu desconfiar de porra nenhum.

Rapunzel: Olha, não vamo tomar nenhuma atitude de cabeça quente...

Princesa: Se essa mensagem vem realmente do Digão, tem alguém ajudando ele — usa as palavras pra me tranquilizar — A gente tá um passo à frente agora, porque, sendo esse Rael, ele não sabe que já sabemos sobre ele. O momento é de inteligência, não de força — ela diz e ouço o Jogador bufar do meu lado.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora