Capítulo 33

10.6K 876 135
                                    


Capítulo 33 — Digão.

Mandei instalar os moleques ontem com a ajuda do TH e já começamos a trabalhar na segurança pro próximo baile. Pensei muito sobre essa porra, mas vou precisar abrir a favela pra receber uns caras que quero negociar. Se não posso descer, só resta deixar eles subirem.

Hoje tenho reunião com Claudinho e Ney, mas acordei cedo e resolvi vir logo pra boca. Bom que dá tempo de ver com o Picolé qual foi da conversa dele com a Gabrielly antes de fazer o resto.

Digão: Qual foi o papo lá?

Picolé: Nas palavras dela merma — ele diz desconfortável — Gabrielly disse que Luara era uma piranha sem pai nem mãe. Po, patrão, achei pesadão esse bagulho aí...

Tudo o que eu penso agora é que a surra que a Lua deu nela foi pouco pro que essa vagabunda merecia.

Gabrielly nunca me enganou, sempre quis usar o meu status e o meu dinheiro, eu nunca liguei pra essa porra.

Eu vivia no modo vida rasa, não tenho vergonha nenhuma de dizer. Trabalhava pra caralho, ganhava dinheiro pra caralho e não tinha ninguém pra gastar. Vivia pra mulher, bebida e ouro, essa é a verdade.

O dinheiro que eu já dei pra Gabrielly não fazia a menor diferença pra mim e eu agradava ela pra aumentar minha autoestima também. O que a maioria dos caras de vivência igual a minha quer é isso.

No dia que ela me fez a primeira cobrança, cortei tudo. Dinheiro, presente, sexo... Era só menos uma das mulheres que tavam querendo sugar o que podia de mim, só que dor de cabeça, eu não aceitava mais.

Digão: Quero essa filha da puta fora da minha favela — digo, puto — E pode avisar pra mãe dela que não tem conversa. Se a Gabrielly aparecer aqui, vai pra vala.

Picolé: Ela já meteu o pé já

Digão: Mas avisa pra mãe dela, antes dela pensar em vir aqui bater na minha porta pedindo pra eu passar a mão na cabeça da cria dela — jogo o corpo pra trás na cadeira — Tomar no cu pra lá.

Picolé: Vou avisar, Patrão. Luara foi trabalhar normal.

Penso nela, sei que tá puta comigo, mas entre tantas coisas que tenho domínio, o passado não posso mudar. Mas se ela quiser, prego a boca de cada fofoqueiro desse morro e ela nunca mais vai ter uma perturbação.

Trato mais alguns assuntos do morro com o Picolé e espero Ney e Claudinho chegarem.

Fico em reunião com os dois a manhã inteira, discutindo sobre as coisas que vem acontecendo no morro. As contas melhoraram pra caralho e eu consegui ter uma visão melhor sobre as coisas depois que eu e Luara olhamos uma por uma.

Claudinho tá resolvendo o que tem pendente com os nossos contatos na polícia e agora nosso planejamento tá muito mais sólido.

Digão: Se esse cara não se meter nessa porra, pode falar que eu vou suspender o pagamento — digo pro Claudinho — Vou ficar perdendo dinheiro pra esse filho da puta e tomando no cu ainda? Não tem sentido essa porra. Com o dinheiro que eu pago pra ele eu contrato quantos soldados?

Ney: Uns dez... Pagando bem por semana.

Claudinho: Ele já tá avisado. Tá desconfiando que tem cara do Bope metido com os cara da Pedreira.

Digão: Eu invado lá amanhã — aponto na direção do morro rival — É só eu atravessar a linha do trem que eu quero ver se o Bope vai se meter pra ajudar a Pedreira. Posso até não tomar, mas vou sacudir eles.

Ney: Os cara é maluco, fechar com polícia assim do jeito que tão fechando... Depois de entrar aqui, vão querer entrar lá, e aí, como que fica?

Claudinho: Esse moleque que tá de frente agora é filho do Arão, tá ligado, né? - eu concordo - disseram que ele tá zaralhando o comando do pai dele.

Digão: Irmão, morreu já era... Virou poeira e a responsabilidade passou pra outro. Aquela parada de respeito acabou. Pai dele era rival, nós já trocou muita bala, principalmente na época do Manel aqui, mas era sujeito homem... Esse daí é moleque, uma hora vai tomar o dele e aprender que não dá pra peitar o mundo — apoio os meus braços na lateral da cadeira — Que horas tu vai encontrar o cara? — pergunto pra Claudinho.

Claudinho: Agora — levanta da cadeira e aperta a mão do Ney — Marquei na hora do almoço — faz o toque comigo.

Olho o Claudinho sair e me viro pro Ney, que me olha desconfortável, tô esperando ele abrir a boca pra falar da Luara.

Ney: Vai chegar carregamento aí no morro também — levanta e me olha — Vou botar o preço que nós fechou hoje, valeu?

Digão: Tranquilo. Mantém esse preço no baile também, não quero ninguém muito pancado, tu viu a merda que foi sábado passado.

Ney: Baile tava de verdade... — aperta a minha mãe e me olha — Queria falar outro bagulho contigo...

Digão: Manda.

Ney: Soube que tu tá com a Luara, não quis te desrespeitar falando aqueles bagulho da mina lá no bar... Se eu soubesse que tu tava querendo ela, tinha ficado quieto, mulher é o que não falta e eu não vou entrar no teu caminho.

Digão: Teve k.o nenhum da minha parte... A mina era solteira. Não ficou contigo porque não quis — digo dessa forma porque faço questão dele saber que a Luara não QUIS ele — Só serve de lição pra tu aprender a fazer as coisas calado, não sabe a intenção de quem tá ouvindo e se fode ai mesmo. Fala demais.

Ney: Eu achei que eu tinha visto primeiro — responde, sério.

Tô ligado que ele tá querendo me colocar pra refletir sobre a minha própria conduta, como se eu tivesse cobiçado uma mulher que já tava no porte dele.

Digão: E mais uma vez tu se precipitou no teu julgamento — relaxo na cadeira — Eu botei meu olho nela quando ninguém tinha olhado ainda, isso tu pode ter certeza. Quando tu viu ela pela primeira vez, ela tava entrando na minha sala e eu vi quando você parou pra olhar ela. Não sou otário, sou justo e vejo a porra toda que aconteceu à minha volta, Ney.

Ney: Se tu ta dizendo que não teve k.o nenhum da tua parte, por mim tá tranquilo — engoliu em seco. É um frouxo do caralho.

Digão: Só que agora é diferente — olho no fundo dos olhos dele — Não chega perto. Não tô nem aí pra quantidade de chifre que tu coloca na tua mulher, mas essa não. Essa é minha, o aviso que eu tô te dando é o mesmo pra qualquer um. Não mexe com ela.

Ney: Eu respeito, po, jamais ia mexer com uma mina sabendo que tá no teu porte. Sempre escolhi te respeitar.

Digão: Respeitar não é questão de escolha, Ney. É seu dever e sua única opção. Não esquece quem sou eu.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora