Capítulo 30

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Capítulo 30 — Digão

Entro na sala da boca e vejo a loira e a morena sentadas uma de cada lado, de costas pra porta, com três seguranças de fuzil ao redor delas.

Luara percebe a minha presença e vira o rosto por cima do ombro, me olhando. A testa franzidinha e a boca num bico não são nada perto do olhar de quem vai matar alguém hoje.

Ando até a minha mesa, vendo alguns respingos de sangue nela. Passo o olho por ela toda e não encontro nenhum arranhão. Ela tá bem, o sangue é da outra.

Desvio o olhar pra Gabrielly e puta que pariu... Que porra que aconteceu entre essas duas?

A mina tá destruída, acho que o nariz tá quebrado, a cara toda lanhada e o cabelo desgrenhado. Deu vontade de rir, papo reto. Eu tô surpreso pra caralho que foi a minha pretinha quem quebrou ela assim, porque a Gabrielly é no mínimo uns 10 centímetros mais alta que a Luara. Sem contar a diferença de idade.

Ela não para de me surpreender, mas dessa vez... Eu não sei nem o que dizer.

Digão: Pode sair vocês — digo pros soldados, que me obedecem — Tem como tu me dizer que porra aconteceu aqui? — viro pra Luara mais uma vez e pergunto sério, vendo ela cruzando os braços na altura do peito.

Gabrielly: Tu tá perguntando pra ela? — fala alto — Essa maluca me bateu! Ela quebrou o meu nariz!

Digão: Primeiramente — tiro a arma da cintura e coloco em cima da mesa, fazendo barulho — abaixa seu tom.

Gabrielly engole em seco, mas Luara não move um músculo.

Gabrielly: Essa doida me atacou e eu que tenho que abaixar o tom? — pergunta, desacreditada e fanha, passando a mão na ponta do nariz, limpando o sangue.

Digão: Se mede pela régua dela que tu vai acabar morta dentro de uma vala — aviso — tu não tá no mesmo patamar que ela.

Olho de volta pra Luara, estática. Essa filha da puta me desafia até de boca fechada.

Digão: Se nenhuma das duas me contar com detalhes o que aconteceu, eu vou saber, tem nada que eu não saiba aqui dentro dessa favela  — encosto as mãos na mesa — Não tenho dúvida que alguém viu e vai me contar  — olho rápido pra Luara e sei que ela não vai abrir a boca pra falar porra nenhuma — Só que vai ser muito pior se eu tiver que ouvir o papo reto de uma terceira pessoa — olho pra Gabrielly.

Gabrielly: Eu não fiz nada, Digão — analiso a postura de mentirosa dela.

Eu sei que ela disse alguma coisa que a Luara não gostou, Picolé já passou a visão, só não sei o que foi dito.

Luara: Sonsa — revirou os olhos.

Olhei pra ela, sério, avisando, do nosso jeito, que eu vou resolver essa porra e é melhor ela ficar quieta mesmo.

Digão: Eu já sei que tu foi na Padaria, Gabrielly — cruzo os braços — Tô te mandando o papo de que mentir vai ser pior.

Gabrielly: Fui só comprar pão — começou a chorar.

Digão: E ela quebrou a sua cara porque tu foi comprar pão? — chego perto dela — Eu tenho cara de otário? De moleque?

Gabrielly: Ela me deu o troco errado e eu reclamei, só isso — disse e as lágrimas caíram, não sei se por dor ou por medo.

Digão: Verdade isso, Luara? — olho de lado pra ela, já sabendo a resposta.

Luara: Não sou burra — mantém os braços cruzados e me olha nos olhos — E nem tô passando fome pra precisar roubar cinco reais dessa piranha.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora