Capítulo 32

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Capítulo 32 — Digão

É muita coisa pra um bandido só. Vai tomar no cu. O mundo caindo na minha cabeça e eu ainda arrumo uma novinha pra me deixar desnorteado.

Eu com 33 anos nas costas, 20 de correria, tomei um enquadro de uma mina de 18 anos... E ela bateu no ponto certinho onde sabe que eu vou entender ela. Uma vez que você tá acostumado a se proteger sabendo que não tem ninguém te dando cobertura, a tua visão do mundo muda... Não tem como voltar atrás fácil, confiar de novo é um desafio.

Digão: Tu sabe o que a Gabrielly falou pra Luara? — pergunto, quando o Picolé entra na minha sala de novo.

Picolé: Foi parada de família, falou da mãe, Patrão.  — diz, sério — Eu fiquei até meio pá de tirar ela de cima porque ela tava amassando a Gabrielly, na razão dela, tá ligado? Merecia até mais, po, mexeu com a família da mina... Mãe é sagrada...

O que me pega é que eu sei que a Lua tá sozinha aqui no morro, mas eu conheci a mãe dela quando eu era molequinho e se o pai dela for quem eu tô pensando, conheci também.

Não sei detalhes do que rolou com a mãe, mas to ligado que a pretinha já viveu coisa pra caralho. Ela mesma diz isso.

Digão: Moleque, eu tô até agora pensando como ela arrebentou a Gabrielly assim — passo a mão no rosto, sem acreditar ainda.

Picolé: Se vagabundo fala da minha coroa, minha conduta ia ser no mesmo nível também. Esse bagulho não dá pra perdoar.

Digão: Descobre o que a Gabrielly disse — pego um baseado em cima da mesa e acendo — Quero ela fora da minha favela. Se no próximo mês ela meter a cara aqui, vai ficar de exemplo, e não adianta mandar a mãe dela vir chorar no meu ouvido. Não respeita a mãe dos outros, não vou respeitar a dela. Um mês fora.

Picolé: Visão, patrão.

Digão: Luara chegou bem em casa? — pergunto, puxando a fumaça.

Picolé: Menó foi palmeando ela como tu mandou, ela chegou tranquila e aquele amigo dela tava lá esperando.

Digão: O de cabelo rajadinho e piercing na sobrancelha? — sopro a fumaça e ele concorda — Será que tu arruma o contato desse moleque com a mina do TH?

Picolé: Dá pra arrumar — ajeita a bandoleira — Mas esse menor aí, patrão... Tem risco não.

Digão: Tô preocupado com isso não, cara — rio e o Picolé ri também — Menor não gosta do bagulho não... Quero só ver como que ela tá, mas não quero mandar mensagem pra ela, porque ela não vai me responder.

Picolé: Com todo respeito, patrão, mas a mina saiu cuspindo fogo daqui...

Digão: Eu tô ligado, po — relaxo as costas na cadeira quando a onda começa a bater de levinho — Tenho culpa das mulher que eu peguei antes de conhecer ela? — ele ri e nega —- Não quero ela andando sozinha não, mas também não é pra deixar ela ver que vocês tão atrás, se não ela vai encher a minha cabeça.

Picolé: Bota quem?

Digão: Por enquanto, coloca Lazin... — penso mais um pouco — Só enquanto ela tá puta comigo, depois eu vou conversar com ela e colocar mais um com ele.

Picolé: Suave... Mais algum bagulho?

Digão: Os menor da Princesa chegar aí, tu deixa entrar.

Picolé: Deixa comigo, vou mandar o contato do JP aí...

Ele vira e sai da sala, me deixando sozinho, terminando de fumar o baseado. Só preciso disso antes de voltar pras contas do morro. Tem tempo que eu não vejo a cara do Ney na minha frente. 

Pego o celular e mando mensagem no grupo do comando, que tem eu, ele e Claudinho.

Mensagem de Digão:
Reunião amanhã
9 aqui na casa amarela

Passo o olho nos papéis pela última vez e graças a Deus que a Luara refez essa porra toda, porque isso ia dar um trabalho do caralho.

Ouço o barulho de notificação e desbloqueio o celular, vendo que o Picolé me mandou o contato do JP.

Mensagem de Digão:
Fala, JP!
Tranquilidade?
Digão aqui, meu mano.
Tlgd que tu tá com a Luara, qualquer coisa que ela precisar, tu me passa a visão?

Releio as mensagens que mandei e bufo.

Digão: Vai tomar no cu, virei um cachorro, que porra é essa? — penso alto.

Em um mês a mina me fez mudar em tudo com ela.

Mensagem de JP:
Oiii
td bem...
a gnt ta vendo tv, suavin

Mensagem de Digão:
ela machucou alguma coisa?

Mensagem de JP:
nada kkk a mona é foda
ralou um pouquinho braço só

Mensagem de Digão:
🙏🏼
vou mandar um bgl aí pra vcs comerem
querem comer o que?
tô lgd que ela não quer me ver kkkk

Mensagem de JP:
pode ser qlqr coisa...
melhor tu n vim mrm não kkkk

Mensagem de Digão:
japa?

Mensagem JP:
pode ser

Mensagem de Digão:
vo mandar ai pra vcs

Mensagem de JP:
🫶🏼

Bloqueio o celular e pego o rádio em cima da mesa.

Digão: Lazin brota aqui na minha sala — falo apertando o botão.

Dá nem cinco minutos e o molequinho aparece pela porta.

Lazin: Chamou, Patrão? — olho pra ele, analisando a postura.

Lembra muito de mim quando tinha a idade dele, 14/15 anos... Me pediu uma oportunidade e eu dei porque eu sei como é quando o desespero bate na porta.

Digão: Tá ligado a mina que o Picolé mandou tu ficar na cola? — concorda prestando atenção no que eu digo — Pede duas barcas de japonês e manda entregar lá na casa dela.

Lazin: Picolé mandou eu não meter a cara.

Digão: Não, pede e manda outro entregar, deixa ela te ver não — abro a gaveta e tiro três notas de duzentos — Leva e fica com o troco, qualquer coisa que ela precisar tu compra desse dinheiro aí.

Lazin: Tranquilo.

Digão: Pode ir la - aponto pra porta — se ela sair tu vai atrás e se alguém entrar você me avisa. Atividade, ein, menor!

Quando ele sai, os moleques do Jogador entram pela porta, me cumprimentando.

Pitbull: Satisfação, Digão — estica a mão pra mim e eu levanto pra cumprimentar.

Digão: Satisfação é minha, mano.

Concha: Tranquilidade, chefão? — sorri e bate na minha mão.

Digão: Tirei vocês da paz de vocês, né? Lá tá uma uva...

Concha: Nós trabalha pra caralho com aqueles dois lá — ri — Tem essa não, ensinaram nós direitinho.

Pitbull: Passa a visão de como nós pode ajudar...

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