Capítulo 21

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Capítulo 21 — Digão

Já é a segunda vez só hoje que passo de moto aqui na frente da padaria. Ela sempre parece sentir a minha presença e levanta o olhar pra mim lá de trás do balcão.

A porrada de elogios da sogra do Claudinho pra ela não me surpreende em nada. Ela é correria, tem visão de águia e fiel. Pra mim, esses são os três primeiros passos de uma mente milionária.

Ela pode me dizer que tem 18 anos e eu acredito pela carinha de princesa, mas a postura dela entrega que já viveu muita coisa nessa vida.

A gente enxerga essa parada um no outro, uma vivência que é diferente dos outros.

Eu ia parar e admirar mais um pouco o jeitinho dela, sempre sorrindo pros outros, simpática e fechada, mas resolvi continuar resolvendo o que tinha que resolver e dar um jeito de encontrar com ela depois.

Desço da moto em frente ao barraco que guardo uma parte do armamento e os moleques da segurança tão na atividade que eu espero.

Digão: Contou os fuzis? — pergunto pro TH, assim que entro na sala e vejo o Claudinho parado do seu lado.

Claudinho: Ele contou e eu já passei a visão pro Leão. Ele e Jogador vão contar com aquele parceiro do Paraguai. — responde antes e me mostra a tela do celular, em conversa com o Leão.

Eu concordo, Leão sempre foi o fornecedor de confiança da facção, antes mesmo do Dom, um fudido que traiu nós, chegar no poder.

Mas a aproximação dele com a rapaziada do Alemão e da Penha, trouxe uma vantagem do caralho, porque o cara é foda na negociação.

Leão não é um cara que tu ama de primeira, mas eu aprendi a ser parceiro dele hoje em dia. Ninguém pode ser tudo, eu sou estrategista, tenho sangue frio, mas o Leão é o melhor negociando. Não tem conversa, se é o melhor e preza pelo papo reto, tem que tá com nós.

Digão: Ele já me passou o armamento que vai chegar, a Princesa selecionou e os caras correram atrás. Vamo pensar nessa logística semana que vem. Vai vir tudo pra cá e depois distribuir entre Lins, Nova Holanda, Rocinha, Penha e Alemão — apoio na mesa — Tu conhece o Pitbull, TH?

TH: Conheço. Da segurança da Princesa e do Jogador, po

Digão: Ele vai te dar um toque, pra vocês dois irem lá verificar o armamento antes do transporte.

TH: Vou ficar na atividade — pega o fuzil em cima da mesa e passa a bandoleira pelo ombro.

Digão: Bora da um rolé — olho pro relógio no meu pulso e vejo que a Luara deve tá saindo agora — Claudinho, tu escolhe cinco soldados pra manter fixo aqui, os cinco reveza entre si, com mais três de fora. Vamo começar a botar esses moleques pra entender onde tão, tem mais tempo pra vacilo não.

(...)

Vejo Luara entrar no mercadinho na esquina do barraco dela e faço sinal pro TH parar na porta, na direita. Picolé continua na moto, do outro lado da rua, olhando o movimento.

Passo a mão no cordão mais grosso no meu peito, desconfortável por ter chamado atenção das poucas pessoas que tão aqui e sorrio pra tiazinha do caixa, que passa as compras de um molequinho.

Vou até a parte de trás do mercadinho, tá mais vazio ainda, não é a hora que o pessoal vem pro mercado.

O corpo dela de costas chama a minha atenção. O coque alto e a calça marcando a bunda faria eu encontrar ela numa distância de mil metros.

Me aproximo por trás, devagar, tentando fazer silêncio e sentindo o cheiro gostoso dela. Ela ajeita a postura e larga o molho de tomate na prateleira.

Luara: Eu sei que você tá aí, Digão— nem vira pra me olhar.

Digão: O que foi que me entregou? — seguro a lateral do quadril dela e puxo pra colar em mim.

Encosto meu rosto na lateral do pescoço dela, sentindo a pele macia. Linda e gostosa.

Luara: Teu cheiro não me engana mais — sorrio ao ouvir essas palavras e passo o nariz no pescoço dela, entendo exatamente o que ela quer dizer.

Cada pessoa tem um cheiro específico e isso não tem nada a ver com marca de perfume.

Digão: Muito espertinha, minha pretinha — dou um cheiro nela, que passa a unha no meu antebraço.

Ela vira de frente pra mim e me olha nos olhos, procurando indicativo de alguma coisa. Prendo as minhas mãos na lombar dela e beijo a boquinha linda dela.

Luara franze a testa e tenta sair do meu abraço, mudando totalmente a expressão.

Digão: Qual foi? — prendo ela mais forte — Virou a cara do nada.

Luara: Tu tem mulher? — lançou e eu não conseguir segurar uma gargalhada.

Tô ligado que eu mesmo plantei essa sementinha da desconfiança nela, agora vou ter que saber lidar com as consequências. Só não podia deixar ela cogitar a ideia de ficar com Ney, porque o fudido tem filho pra criar e eu não ia saber separar as coisas se ele toca nela.

Digão: Tá maluca? Tirou essa porra de onde?

Luara: Não ia ser o primeiro bandido casado que dá em cima de mim — dá de ombros.

Digão: Quem que deu em cima de tu? — jogo verde, pra ver se ela vai me falar.

Luara: Não te interessa — empina a pontinha do nariz perfeito — Tem ou não tem mulher? — crava a unha no meu bíceps.

Digão: Nunca tive mulher, pretinha, mas se um dia eu tiver, geral vai saber — falo sério.

Luara: Huuum — concorda, mas eu sei que ainda tem dúvida.

Não julgo, mesmo que eu não tivesse feito ela descobrir sobre a Isa, confiar cegamente em bandido é burrice. Ainda mais quando o assunto é mulher, 80% é safado. E é por isso que eu não tenho relacionamento sério, não quero ter que dar satisfação da minha vida só pra dizer que tenho mulher em casa.

Digão: Vou ter que te falar quantas vezes que eu gosto do certo, porra? — seguro o rosto dela com as duas mãos.

Luara: Tu gosta é que ajam no certo contigo, o resto é o resto...

Digão: E eu não tô agindo no certo contigo não? — dou mais um beijo na boquinha linda, sem conseguir me controlar.

Luara: Não sei — levanta levemente a sobrancelha — Tá agindo?

Digão: Sou puro contigo — beijo o queixinho dela — teu único mal é esquecer que não tem nada nessa favela que não acabe caindo no meu ouvido, isso quando eu não vejo com meus próprios olhos.

Luara: Não to esquecendo de nada... — fecha os olhos quando eu dou uma sequência de beijos do queixo em direção ao pescoço.

Ela fica mole na minha mão, essa porra enche meu ego.

Digão: Pra te provar que não tenho mulher nenhuma, vou te levar sábado pra curtir um baile comigo — falo perto da orelha dela, minha voz mais rouca.

Porra, tô fantasiando ela de tudo quanto é jeito.

Luara: Isso não prova nada...

Digão: Geral vai te ver comigo... No mínimo vai chegar fofoca no teu ouvido se eu tiver mulher — desço minhas mãos pelas costas dela.

Luara: Achei que você não queria que soubessem quem eu sou — abriu os olhos e me olhou.

Digão: Isso foi em outro momento — olho ela de volta — Queria tu escondida, mas foi idiotice, já vi que não tem jeito de te fazer passar batida em lugar nenhum. Linda pra caralho. Vagabundo não tira o olho de cima.


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NOTA DA AUTORA:

Oiii, gente!
tô amando esse povo novo que tá chegando por aqui ♥️

Lembrando que "Ligações de Alma" é um spin-off da minha outra história, "Sonho dos Crias". Ela já tá completa no meu perfil e conta a história da Princesa e do Jogador. Se quiserem conhecer mais desse universo de Digão e Lua, sugiro que leiam 🤍🤍🤍🤍🤍🤍🤍

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora