Capítulo 10

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Capítulo 10 - Luara

Luara: Tá melhor esse? — passo a mão na lateral do quadril, me exibindo pro João.

João: Esse te realçou muito mais — diz, depois de me analisar por alguns segundos — Tá bem mais piranha.

Luara: Não tá com cara de velho não? — rio, olhando meu reflexo no vestido branco no espelho do banheiro.

João: Tá não, amiga, tá curtinho só — ele me estuda de cima a baixo — Não sei o que te deu pra querer ir nesse baile do nada...

Luara: Minha tia me mandou dinheiro — desvio a atenção dele, porque não quero que ele pense que tô mentindo, apesar de eu realmente estar — Não vou gastar muito, mas pelo menos vou conseguir comprar um copo de bebida pra nós

Minha vontade era contar tudo pro João, porque o que eu mais considero na nossa amizade é a lealdade. Mentira não faz parte do que a gente construiu, mas realmente a escolha não é minha e eu sempre vou optar por nos proteger. Não tô afim de pagar pra ver o Digão cumprir cada uma das ameaças que ele me faz.

João: Mentira — levanta, ficando do meu lado, enquanto eu passo um restinho de rímel nos meus cílios — Essa vaca apareceu quando?

Luara: Foi hoje cedo, naquele horário que te mandei mensagem — olho pra ele pelo reflexo do espelho — Quando caiu a transferência, eu nem acreditei...

João: Finalmente lembrou que tem sobrinha — eu rio da carinha dele, todo indignado. A mesma que ele faz toda vez que eu toco nesse assunto.

Luara: João... Quem teve filho foi minha mãe, Valéria ficou pra titia mesmo, ela não tem obrigação não.

João: E tu ainda tenta defender essa piranha velha — espreme os olhos me fitando — Tu acha certo ela tá lá fora sentando pra gringo rico, tendo vida de luxo, e tu aqui passando necessidade? Ela é ser humano ruim, Luara, não apareceu uma vez pra te dar um apoio quando sua mãe tava doente, nem no velório tu disse que ela veio... Cem dólares pro macho dela, deve ser troco de pinga, mas pra gente aqui, quinhentos reais é dinheiro, cara... Ela tem dever moral de te ajudar.

Luara: Tudo isso eu já sei, João Pedro — Fecho o rímel e viro de frente pra ele — Mas eu não posso esperar isso dela e nem de ninguém... Depois que minha mãe morreu, minha família é só você, que me adotou como irmã — seguro sua mão e sorrio — De resto... Não vou contar com ninguém, mas se um dia, eu tiver no topo e ela tiver no fundo do poço, eu vou ajudar, porque eu sou uma boa pessoa.

João: Vai ajudar, mas não sem antes jogar na cara dela vinte e cinco vezes que quando você precisou, ela não ajudou — nós dois rimos juntos.

Luara: Sim, porque eu não sou nenhuma otária também... — viro de costas pegando a minha bolsa.

João: O sol em escorpião não falha...

(...)

O Baile do Egito não é um dos mais famosos do Rio de Janeiro por acaso... Enquanto o João me guia no meio da multidão, eu fico olhando ao redor. A favela se transforma, parece que tudo vibra igual ao funk no fundo.

João: Pessoal da escola chamou pra ficar com eles — fala gritando no meu ouvido.

Luara: Quem? — enrugo a ponta do nariz.

Não sou a maior fã do pessoal da escola não.

João: É a Luiza só, sua enjoada. Ela tá com o TH lá naquele canto — aponta pro lado perto de uma barraca branca.

Luara: Vamo lá — concordo.

O som tá tão alto e eu me sinto tão bem por ter estar saindo pela primeira vez depois de meses que eu sigo o João andando e dançando no ritmo da música.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora