Capítulo 19

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Mahelí narrando

Fomos para uma lanchonete em frente ao hospital, onde vendia hambúrguer, sorvete e milk shake. Pedi dois hambúrgueres e um sorvete.

- Você está com fome mesmo, não é? - Ele me observava.

- Nunca senti tanta fome na vida. - Falei com a boca cheia. De La Cruz me olhava em silêncio. - Você não vai comer? Tem que se alimentar.

- Tomei café da manhã, antes de sair de casa. Estou bem. - Ele sorriu.

De La Cruz era mais risonho e menos engessado que Alix. Enquanto comia, lembrava do que ele me disse.
Um homem tão bonito e tão novo, com uma doença tão agressiva.

- De La Cruz, tem quem cozinhe para você? Você precisa se alimentar nos horários certos. - Ele me olhou de um jeito diferente e sorriu.

- Tenho uma pessoa que cozinha para mim. Obrigado pela preocupação.

- Você vai contar para Alix? - O olhei nos olhos.

- Não pretendo. - Ele abaixou os olhos. - Ele vai querer que eu faça um monte de coisas, vai querer me monitorar. Ele é líder por natureza, vou acabar ficando sufocado. Alix é controlador e super protetor.

- Entendo. Mas ele vai ficar chateado.

- Com certeza vai. Mas eu não posso deixa-lo preocupado. Anota meu contato, se precisar de algo é só falar. Não queria estar na sua pele quando contar para ele, você não tem opção de não contar, a barriga vai começar a crescer. - Ele me olhava com carinho.

- Pois é! Tenho que arrumar um jeito. - Eu estava visivelmente emocionada. - Desculpe estar chorando, os hormônios da gravidez não ajudam.

- Está tudo bem, não se preocupe. - Ele anotou o contato no meu celular e me devolveu. Liguei para ele.

- Já salva aí. Se precisar de algo, promete que vai ligar ou mandar mensagem? Você é muito importante na vida de Alix automaticamente, é  muito importante na minha vida também.

- Obrigado pela importância.

- Você sabe que sou médica?

- Não sabia! Descobri hoje, pelo jeito que você falou com o médico no consultório. - Ele me olhou surpreso.

- Sim, sou médica. Posso te receitar medicamentos, caso precise. Ou posso fazer uma visita domiciliar. - Sorri para ele.

- Você fica bem sorrindo. - Ele sorriu de volta. - Mais uma vez, muito obrigado pela atenção e cuidado. Você consegue voltar sozinha?

- Consigo, estou com um segurança.

- Entendi. Então vou indo. Se cuida!

- Obrigada. Você também.

De La Cruz se levantou e eu levantei logo atrás, vi o mundo girar e o vômito veio logo em seguida. 
Coloquei a mão para prender e corri em direção ao banheiro. Tinha um balde com produtos de limpeza perto do banheiro, abaixei ali mesmo e enfiei a cabeça dentro do balde. Vomitei tanto que comecei a me sentir fraca.
Senti uma mão no meu ombro e outra na minha testa, segurando minha cabeça.

- Mahelí, toma. Beba a água. - De La Cruz estava parado do meu lado.

- Obrigada. - Meu rosto estava todo suado.

- Consegue levantar? Você está pálida. - Estendi a mão para ele, mostrando que estava tremendo muito. Ele abaixou e me pegou com facilidade do chão, me colocou sentada na cadeira mais próxima.

- Que vergonha. - Cobri o rosto com as mãos.

- Bebe a água, vou lavar o balde. - Ele falou sorrindo. - Isso é normal na gestação, não fique envergonhada.

- Deixe que eu faço isso. - Levantei e minha vista escureceu. Cambaleei e ele me segurou.

- Tem certeza que você consegue? - Ele sorriu. - Eu faço, não tenho nojo não.

Permaneci sentada e ele levou o balde para o banheiro masculino. Logo estava de volta com o balde, limpo.

- Obrigada. Estou vendo que esses bebês vão me dar trabalho. Ainda bem que você não tinha ido embora.

- Vou te acompanhar até ao carro, vai que cai no meio da rua. Vem. - Ele estendeu o braço para eu segurar. Fomos andando em direção ao carro. Entrei, agradeci e me despedi de De La Cruz.

Cheguei em casa e fui tomar um banho relaxante, tinha vômito na minha roupa.
Voltei para o quarto, me vesti  e fui preparar o almoço. O cheiro do tempero estava me matando, toda hora tinha que parar para vomitar.
Parece que só foi vê -los que aflorou o vômito.

Almocei e deitei, tenho ficado com muito sono ultimamente.
De La Cruz mandou uma mensagem perguntando se eu tinha almoçado, pediu para eu elaborar o jeito que ia contar para Alix. Ele me ajudaria, se precisasse.
Decidi que contaria hoje mesmo, tem dias que não o vejo.
Estou com tanta saudade do seu cheiro, da sua voz, da sua pele quente. Queria um abraço dele agora, me encolhi na cama e passei a mão na barriga.

- Olá, é a mamãe. Obrigada por vocês estarem aí dentro. Vocês estão fazendo de mim uma pessoa mais forte. Eu estava precisando tanto de vocês. - Acariciei a barriga e fechei os olhos. Adormeci em poucos minutos.

Acordei com um barulho do lado de fora, era Alix. Parecia que estava bêbado.

Alix narrando

Tenho vivido um conflito tão grande dentro de mim, tento sair antes de Mahelí acordar e volto depois que ela está dormindo. As vezes vou em seu quarto olha-la. Que vontade de deitar perto dela e receber seus carinhos.
Tem noites que não durmo, só consigo chorar.
Estou sem coragem de contar que sou um homem infértil, que não vou poder deixar herdeiros. Isso está me corroendo por dentro.
Hoje minha válvula de escape foi a bebida, decidi beber para criar coragem para falar.
Liguei para um segurança vir me buscar no serviço, acho que exagerei na bebida, não estou conseguindo ficar de pé.

Entrei em casa e acabei caindo por cima da mesinha na sala.
Isso fez Mahelí acordar e correr em minha direção.

- Eu estou bem, não se preocupe. - Falei com a voz arrastada. Ela ligou a luz e veio para perto de mim.

- Deixa eu ver se machucou. - Ela procurava por ferimentos, já que a mesinha estava toda estraçalhada no chão.

- Me deixa! Já falei que estou bem. - Tirei as mãos dela de mim. Eu não queria começar a chorar no meio da sala. Sentir o toque dela me dava vontade de abraça-la.

- Alix, por que você está me tratando assim? - Os olhos dela estavam cheios de lágrimas. - Por que você está fazendo isso com você?

- Mahelí, me deixe em paz, ok? Só quero ficar sozinho. - Fui seco para evitar o choro.

- O que está acontecendo? Você tem que se abrir comigo.

- E o que você é para mim, para eu me abrir com você?

- Eu não estou entendendo o que você está dizendo. - As lágrimas escorreram em seu rosto. - Então é isso, eu sou apenas alguém para você se satisfazer? Eu pensei que você queria construir uma família comigo. Mas vejo que eu estava enganada.

- Deus me livre ter uma família, eu nunca nem quis ter filhos. - Menti. - Acho que por isso descobri que sou estéril. Se você achou que eu me casaria com você e que seríamos uma família feliz, pensou errado. - Na minha cabeça eu estava liberando Mahelí para ser feliz, mas eu estava magoando a mulher que me amava e automaticamente me destruindo por dentro.

Fake Love - Triologia 1°Onde histórias criam vida. Descubra agora