AARON WALKER. Dêem ⭐
PRESSÁGIO INFERNAL- A melhor recepção que tive em dias! - o velho exclamou, soltando
um riso frio. As rugas na cara só não eram mais evidentes do que o broche,
uma bosta maior do que qualquer outra e que ele esbanjava abotoado à farda.
Me levantei junto ao som decrescente dos motores que paravam ao lado
do seu Porsche 968 preto, trazendo reforços.
Estávamos em seis. Os melhores caras do John, o próprio infeliz e eu,
vestido a caráter: máscara, colete peitoral, luvas integradas com socos
ingleses e meu melhor sorriso perturbado.
Fazia um tempo que não me via mergulhado em uma onda como
aquela.
Um dos caras teve a infeliz ideia de fazer um de nós aparecer primeiro,
como um morto, deitado no chão com o propósito de fazer o velho descer do
carro. Isso evitaria uma perseguição, uma possível chamada de reforços, uma
perda de tempo.
Eu me propus ao papel de ridículo, claro. Não por ser burro, mas pelo fato de poder estar perto, ser o primeiro, estar à frente. Apreciava a sensação
de ter o controle, de começar o inferno, mesmo que o problema fosse do
cuzão do meu irmão e eu não tivesse nada a ver com o novo porco que
tentaria impor ordens no Brooklyn.
Mas, afinal, "irmão é para essas coisas", como ele disse, e eu estava ali
para ajudar, mesmo tendo certeza de que quem estava comandando meu
corpo eram as drogas, não meus neurônios.
Munidos de alguns truques, não demorou para que soubéssemos qual
era o modelo, placa e até a cor do carro que ele conduzia. Levamos ainda
menos tempo para encontrá-lo no radar. Nossos informantes nos avisaram
quando ele atravessou a ponte e demos início ao plano que John bolou. Algo
rápido. Tirá-lo da estrada, matá-lo e se livrar do estorvo.
Antes de sair do ponto de encontro, juramos só dar o fora quando não
existisse sequer vestígios do novo delegado por aquelas bandas. Esse era o plano. Só isso. Mas tão certo quanto dois mais dois são quatro, teríamos
pedras no caminho. Mesmo chapado, eu evidenciei isso, mas John me
mandou ir para o inferno na primeira oportunidade, e agora lá estava a brecha
para propensão de erro:
Uma garota.
E não uma qualquer, como as de Manhattan, parecidas com poodles
brancos com fitinhas cor-de-rosa e pedrinhas quebráveis.
Estava mais para uma ratinha arisca, perspicaz e fujona.
E era o meu mais novo alvo.
Me aproximei devagar, em segundo plano, o nosso real objetivo se
desdobrava pela noite escura do Brooklyn e uma luta brutal ganhava força.
Ter cinco contra um nos entregava a certeza de que o velho estaria morto em
poucos minutos e não havia necessidade de tantos homens para garantir isso.
A garota estava atenta. Cada troca de tiros, gemido ou até mesmo o
estalar das folhas da vegetação que contornava a pista, fazia com que ela
supervisionasse quadrante por quadrante em segundos.
Seu medo era palpável, mas controlado, dentro do peito, mesmo que
seus pulmões sofressem com aquilo. Vi quando se abaixou devagar, com os
cabelos castanhos escuros ao vento e as mãos apalpando a porta do carro. Os
olhos se fecharam em sequência, na tentativa de regular a respiração e manter a calma.Esperta.
A maioria das garotas começaria a chorar e tremer como cadelas indefesas.
Cheguei um pouco mais perto, pela lateral de um dos carros parados
ali. Aos poucos, o formato de seu corpo começou a ganhar mais precisão sob
meus olhos. A posição evidenciava a pele das pernas, o volume dos quadris e
os glúteos apertados por uma saia de couro fino e curta. Ela apertava os seios
contra a lateral do carro e seus olhos brilhavam no escuro, como uma
roedorazinha percebendo a ratoeira, pronta para correr para o mais longe
possível da morte.
E foi isso que ela fez.
Enquanto o pai se embolava com os caras no meio da pista, minha
atenção a seguiu pela vegetação rasteira do lugar e, a cada passo que ela dava
sobre a terra, olhando para trás, uma quase premunição me fazia acreditar que
ela seria um problema se fugisse, e que eu deveria cuidar daquilo.
Joguei meu corpo pela pequena depressão que circulava o asfalto.
Estava me preparando para segui-la floresta adentro, até perceber que John
planejava o mesmo.
O arrastar de sua roupa alcançou meus ouvidos e, em segundos, eu o vi
ao meu lado, olhando na direção que ela havia sumido pelas árvores,
juntando-se a mim para farejar, como animais fazem às suas presas.
- Seu alvo é o porco, eu cuido dela - falei, pressionando os dedos
nos olhos para me livrar da sensação de poeira ali.
- Volte para a pista, os caras estão cansando. - Ele rebateu a
responsabilidade e segurou meu ombro. Olhos mais vermelhos do que os
meus e o cheiro de drogas exalando pelo ar. - Vai ser o reforço que veio ser.
- Vi para onde a garota foi, cara. Só vou certificar de que não vai ser
um problema, ela não viu nossos rostos.
- Não viu nossos rostos, mas ainda pode chamar por ajuda, foder com
a nossa missão aqui. - Fungou, olhando para os lados. - A garota é
diferente, você sabe disso, percebeu como eu percebi. - Riu, agora com as
duas mãos nos meus ombros. - Vai ver por isso somos irmãos, pirralho.
Temos o mesmo faro, os mesmos impulsos, mas agora, cabeção... - bateu
na minha nuca - o gato é quem persegue o rato aqui. Trate de abduzir o
careca lá em cima, os caras estão apanhando, vão precisar de você.
- Os caras vão precisar do líder deles - rebati, segurando seu braço.
- Você está se distraindo, já deveria ter a cabeça daquele velho nas mãos,
como disse que faria pessoalmente!
- A garota é minha, Aaron. - Igualou-se a mim na seriedade. - Eu não vou discutir isso com você. Estamos aqui, acima de tudo para nos
divertir, não? - Seus braços se abriram, seguidos de um sorriso e alguns
passos para trás. - Eu trago um tufo de cabelo para você, sei que gosta de
morenas.
- John! - esbravejei entredentes, assistindo a ele correr para dentro
da mata, procurando por ela.
Pela minha presa.
Fiquei ali, como um animal barrado da caça, colocado em segundo
plano.
E era louco, porque ela não era o centro de tudo. O velho delegado era.
No fim das contas, John me deixou para comandar o ataque a ele, matar a real
ameaça, mas desde que coloquei os olhos nela, passou a ser meu maior alvo.
Preparei os pés para uma corrida, eu iria entrar na mata. No entanto,
mal tive tempo para qualquer ação e recebi uma pancada na cabeça.
Era o delegado.
- Mato você na volta, verme - grunhiu, seguindo o mesmo rumo que
o meu irmão e eu me vi impossibilitado de impedir.

VOCÊ ESTÁ LENDO
AO CAIR DA NOITE
FanficLivro 1 O homem mais poderoso dos EUA te ofereceu um emprego como babá. Ele precisa de ajuda para cuidar de sua doce filha, que acabou de perder a mãe. Só tem um problema. Ele nunca está em casa. Você o encontrou só algumas vezes - e há meses isso n...