BRIANNA ABERWATHY. Dêem ⭐
EU SOU A PRESAVirei o rosto com força até sentir seus dedos escorregarem da minha
pele. As correntes balançaram de forma mais severa, apertando meus punhos,
e os músculos sob a pele do meu pescoço arderam, tensionados. Não me
importava. Faria o que fosse preciso para me livrar dele.
Uma vez livre, tentei manter a calma e captar tudo que conseguisse ao
meu redor para fazer um apanhado da minha atual situação.
Minha pele absorvia o frio caótico do piso. Sentada, amarrada ao pé da
cama de um quarto duas vezes maior do que o de uma pessoa normal, eu me
via em uma cobertura, que tinha seu requinte empoeirado pelos quatro cantos.
Contei três portas. Uma levava a uma suíte de vidro transparente, outra
ao que assemelhava a um closet e a última era a saída, todas pareciam ser
muito resistentes.
Uma parede de janelas vidradas completava o cenário, entregando a
visão do movimento frenético das ruas. Bastou bater os olhos ali para que eu
soubesse que estávamos em algum lugar da parte nobre de Manhattan. E a pergunta que não queria calar era: de quem aquele filhote de marginal tinha
roubado aquela cobertura?
Na primeira tentativa de olhar para ele mais uma vez, me encolhi. Senti
seu olhar predatório e recuei. Não precisei ver para saber que suas pupilas
permeavam na minha direção. Eu sentia isso.
O frio do metal contra minha pele e o amargo na minha boca eram duas
das piores sensações que eu sentia no momento, mas perderam para o que
senti quando percebi o meu bolso vazio.
Ele tinha pegado o meu celular. Aí,, sim olhei para ele. Ninguém
tocava no meu celular.
— E ainda é bravinha… — Sorriu de lado e engoli em seco.
— E você é o irmão do cara morto que acha que vai conseguir alguma
coisa com essa palhaçada — soltei.
Reuni toda a minha raiva naquelas palavras e não me arrependia de ter
dito com tanta expressão, mas, confesso, tive medo de permanecer olhando
nos olhos dele quando o percebi em silêncio.
— Aí está a filha do desgraçado! — grunhiu e, em um piscar de olhos,
estava segurando o meu rosto com força de novo. — Cadê ele? — Sua voz
saiu áspera e mais grossa do que o normal.
Olhei nos olhos. Escuros, sombrios. Intensos para caralho, um
verdadeiro propulsor de arrepios, mas ele não iria ter nada de mim.
Mesmo se eu soubesse a localização exata do meu pai, não diria. No
fim, a ameaça ia além da vida dele. Ela alcançava e estragaria a possibilidade
de reencontrarmos a minha mãe.
— Já disse que não sei! — retruquei com os lábios apertados entre seus
dedos. — E você não vai conseguir nada me mantendo aqui contra a minha
vontade!
— Ou você fala, ou ele vem até mim. De um jeito ou de outro, vou
conseguir, ratinha. — Ao som do apelido ridículo, puxei meu rosto de suas
mãos
Um riso cínico escapou dos lábios dele, antes de começar a se levantar.
Seus músculos flexionando e relaxando sob a sombra que contrastava o lugar.
Ele parecia ter quase dois metros de altura.
Aquilo me pegou muito, confesso.
No cós da calça, um molho de chaves sacudia e, como um carcereiro,
ele tocou nelas, como se soubesse à qual fechadura cada uma pertencia.
— Quanto tempo acha que ele precisa para perceber que você sumiu?
— perguntou.
— Meu pai sabe o que faz. Ele não é burro para cair numa dessas!
— Claro que ele sabe o que faz. — Olhou para mim. — Matar meu
irmão foi uma escolha dele. — Deu alguns passos na minha direção, com as
mãos na cintura. — Salvar você também será uma escolha dele. Ou não? —
Tentei controlar o tremor diante dele. Foi em vão. — Bom, talvez nem você
tenha tanta certeza… eu soube que ele fugiu e, pelo visto, te deixou para trás.
— Balançou a cabeça. — Não achei que homens como ele sentissem medo.
— Acha que tem medo de você? Ele vai acabar com você! — Puxei as
correntes.
Eu odiava meu pai, mas, no momento, nada me deixaria ficar por baixo
daquele maluco.
— Espero por isso desde o dia em que vocês pisaram no Brooklyn,
vadia. — Riu, as sobrancelhas franzindo. — Se lembra de mim, como me
lembro de você? Faz tão pouco tempo… — Seu rosto voltou a ficar a
centímetros do meu.
Era impossível não me mostrar ofegante, nervosa, receosa.
Porra, ele era um estranho e eu estava amarrada!
— Vamos ver quanto tempo aguenta até decidir cooperar. — Comecei
a hiperventilar enquanto seus olhos escuros percorriam meu corpo. Ele puxou
um dos meus braços, a marca da corrente já o deixava vermelho. Seu polegar
o massageou em círculos e eu só conseguia ver meu peito subindo e
descendo, como se eu tivesse corrido uma maratona. — Vou mesmo ter que
assistir a você definhar? — Seu toque era como uma brasa viva contra minha pele e ele me encarou. A pergunta no ar, como um eco reverberando na
minha mente. Tão rápido quanto começou, ele parou, deixando minha mão cair e se virando de costas. — Será um prazer, filha do delegado.
Era frio. Sem sentimento algum além do rancor. Ele deixou claro que
não mediria esforços. Não quando se tratava da cabeça do meu pai.
O molho de chaves voltou a balançar em sua cintura, me tirando
daquele mar de certezas obscuras, e percebi o cintilar mais nítido de uma
delas.
Era familiar, distorcido e meio feio, mas familiar. Eu já tinha visto
antes.
Semicerrei os olhos, tentando focar melhor, captar mais detalhes e me
lembrar, no entanto bastou piscar mais uma vez para que ela sumisse no meio
das outras, enquanto ele desaparecia pela porta da suíte.
Comecei a ouvir um barulho de água.
A torneira tinha sido aberta e parecia encher algum recipiente. Só fui
ter certeza quando o vi voltar com um balde na mão.
— O que vai fazer? — Meus olhos subiam e desciam em uma dança
desesperada entre ele e o balde de água.
O desgraçado não respondeu, apenas o colocou no chão, aproximou-se
de mim e colocou as mãos na minha cintura.
— Gosta dessa roupa? — Os dedos fortes juntaram o tecido da minha
blusa e ele a rasgou no meio.
— O que você está fazendo? — berrei, impossibilitada de cobrir a
renda do meu sutiã.
— E essa calça? — perguntou, investigando o tecido jeans e comecei a
me debater para tentar chutá-lo, mas foi em vão.
Aquele homem parecia ter uma força desumana sobre mim. Me fez
virar de lado, segurou nas bordas das costuras laterais e abriu a peça no meu
corpo.
O frio me fazia gemer. Puxei as correntes e me encolhi no canto da
cama, sob seu olhar satisfeito. Ele seguiu até o balde, trouxe-o até mim e
despejou até a última gota sobre o meu corpo, arrancando um grito da minha
alma.
— Com frio, ratinha? — Comecei a tossir, sentindo cada célula do meu
corpo reagir àquilo. Os poucos tecidos estavam ensopadas e agarravam na
pele como um abraço congelante. — Vou deixar pior.
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AO CAIR DA NOITE
FanfictionLivro 1 O homem mais poderoso dos EUA te ofereceu um emprego como babá. Ele precisa de ajuda para cuidar de sua doce filha, que acabou de perder a mãe. Só tem um problema. Ele nunca está em casa. Você o encontrou só algumas vezes - e há meses isso n...