BRIANNA ABERNATHY dêem ⭐
TORTURA— Só mais um… pouco… — Tentei conter o ardor no meu abdômen
enquanto me dobrava para terminar de puxar uma parte fina e longa da
estrutura de madeira da cama.
Bati nela a noite inteira, tentando manter a adrenalina para não
congelar, mas não adiantou tanto para mim. Meu corpo tremia mais do que
antes, sentia que minhas forças iam embora a cada segundo decorrido e meus
lábios estavam roxos, assim como as pontas dos dedos.
Pela manhã, a neve estava lá, colando em mim, enfeitando meus
cabelos, me deixando quase azul. No fim, ainda estava sofrendo com o frio, e
agora tinha um ombro quase deslocado, mas para alguma coisa o esforço
valeu: tinha algo longo para tentar derrubar o meu telefone dali mesmo, sem
precisar sair do raio de meio metro ao qual estava presa.
Levantei um dos pés, mirei a base da cama e dei um chute, a ripa fina
caiu comigo. Gemi quando minhas costas bateram no chão e comecei a me sentar, zonza, quase morta, mas envolvida em esperança.
A madeira era pesada para caralho, mesmo sendo fina. Sinal de que era
boa, dizia minha mãe.
Fechei os olhos. Lembranças dela eram tudo que eu tinha e o que me
dava forças ali. Cada movimento era uma tortura, mas, com muito esforço,
consegui derrubar o telefone e comecei a puxá-lo pelo piso polido.
Com um progresso considerável, me livrei da madeira. Minhas mãos,
que já tremiam, pioraram ao me aproximar. Estendi os dedos ao máximo,
tentando alcançar o que poderia ser minha única conexão com o mundo
exterior.
— Ah… por favor…
Finalmente, meus dedos roçaram a tela fria do celular. A sensação foi
como encontrar água no deserto. Meus olhos se encheram de lágrimas
enquanto eu digitava freneticamente o número de Meg. Quando a chamada
foi atendida do outro lado, meu corpo inteiro pareceu esquentar.
— Alô? Quem está aí? — Sua voz soou distante e preocupada.
— Meg, sou eu, Brianna. Estou presa... preciso de ajuda. — Minha voz
saiu fraca e trêmula, mas a sensação de falar com alguém me trazia uma certa
onda de alívio.
— Onde você está? — Soou afobada. — Estou indo aí agora mesmo!
— exclamou do outro lado da linha e meus olhos piscaram algumas vezes.
Deus. Onde eu estava? Não fazia ideia de onde eu estava.
— Você precisa ir até a polícia e pedir para que rastreiem… — Antes
que terminasse, um estalar me chamou a atenção.
Olhei para a porta. Alguém estava chegando. Ele estava chegando.
Meu coração doeu quando ouvi Meg chamando o meu nome
repetidamente, em desespero, e apertei o botão desligar. Engoli o choro com
o corpo tremendo e enfiei o celular embaixo de mim. Fechei os olhos, a
cabeça encostada na madeira da cama e um pouco de cabelo no rosto.
Eu esperava que ele entrasse, me visse e fosse embora. Só isso.
Vá embora…
A porta se abriu. O uivo do vento batendo nas cortinas pareceu se
intensificar, e então lá estavam os seus passos.
Um.
Dois.
Três.
Compassadamente, como um maníaco. Um predador.
Ouvi quando parou diante de mim. O som do tecido de sua calça
esticando ficou mais alto quando ele se agachou.
Senti a mão quente entrar pelos meus cabelos e acomodar a minha
bochecha na palma. Era forte, imponente até no toque. Era bom, eu estava
com tanto frio.
Ele segurou os meus ombros, mantive os olhos fechados e o corpo
mole. Seus dedos tiraram os fios de cabelo do meu rosto e, por um momento,
pude sentir a intensidade do seu olhar sobre minha pele. Mas, antes que meu
corpo aproveitasse a pouca quentura que suas mãos me transmitiam, ele se
afastou e passou a caminhar para longe.
Abri um pouco os olhos quando a claridade absurda começou a
enfraquecer.
Está fechando as janelas?
Mais passos. Ele estava voltando. Fechei os olhos. Silêncio.
No ar, somente o meu corpo tremendo incontrolavelmente e sua
respiração podiam ser ouvidas.
— Não é tão frágil assim, ratinha — murmurou firme, e um arrepio
diferente cobriu a minha espinha. — Não pode morrer agora.
Ele abaixou de novo. Senti suas pernas me envolverem, me puxou para
perto.
Deus, o que ele está fazendo?
Quando menos esperei, Aaron me fez encostar em seu peito e apertou
os braços ao meu redor, deixando clara a sua intenção: aquilo era uma
tentativa de me manter viva, me esquentar. Ele não conseguiria nada se eu
sucumbisse, e sabia disso.
A vontade de empurrar aquele infeliz para longe era desumana, mas a
sensação quente envolvendo meu corpo malroupido e frio, o peito que
continha os meus espasmos, suas mãos grandes passando por minhas
costas…
Me aconcheguei nos braços do meu fantasma, do mais novo pesadelo
da minha vida. Ele me puxou um pouco mais para perto, fazendo meu
coração começar a sacudir no peito. Era como se não achasse suficiente me
ter colada nela, e eu não pensava diferente. Era calor o que o meu corpo
pedia, eu queria mais, muito mais, e foi ali que, por um fio, pude sentir que o
celular começava a escorregar por baixo das minhas pernas. Não tive tempo
de segurar, eu tremia mais do que pensava, queria seu corpo quente mais que
qualquer coisa, e com isso, assisti ao desenrolar do fim da linha para a minha esperança.
A risada que ele soltou ecoou por todo o lugar. Um som que seria
difícil de se esquecer.
— Eu estou impressionado — falou no meu ouvido. Quando eu tentei
pegar o aparelho, ele o empurrou para longe com uma das pernas e fez meu
rosto permanecer junto ao dele, segurando-me com força, apertando minhas
bochechas. — Tirei a camisa, coloquei você no meu peito… — Seus olhos
dançaram junto aos meus. — Eu estava te dando o meu calor, ratinha. — O
dedo polegar passou pelos meus lábios, quando ele voltou a se afastar, franzi
as sobrancelhas sem pretensão alguma de o fazer.
Por tristeza? Raiva? Devido à falta de seus braços quentes ao meu
redor?
Eu não sabia.
Forcei meus olhos a acompanharem cada passo e o vi pegar o telefone
no chão. Estava desbloqueado, e, ao perceber minha primeira e única ligação
ali, eu poderia afirmar que seu suspiro foi audível por todo o bairro.
— Teve a oportunidade de chamar o seu papai, e ligou para Meg
Girard? — Seu cenho franziu. — Sério? — Ele colocou o telefone de volta
no chão. — Só tinha uma chance e a desperdiçou. — Sua sola esmagou o
meu celular com um único golpe.
— Não! — gritei ao som dos estalos.
Acabou. Lá se foi a minha chance.
— Não vou esperar que rastreiem e saqueiem você de mim. — O
desgraçado continuou: — Seu pai conseguiria te encontrar se fizesse isso,
estou errado? — Me encostei na cama em silêncio, com os olhos fechados. —
Começo a achar que ele quer mais é que você se foda. — Riu. — Mas eu vou
ter que provar a hipótese.
Sem forças, meus olhos caíram em algo pendurado em sua calça. Não
eram mais chaves, como antes, era algo…
— Gostou dela? — perguntou e tirou de lá. Era uma máscara. — Posso
colocar para você. — O elástico esticou e eu tinha um ghostface maníaco,
tatuado e sem camisa na minha frente. — Qual é o seu filme de terror
favorito, Brianna? — A frase de Scream fizeram meus pelos se arrepiarem
duas vezes mais.
Em passos lentos, ele passou para trás da cama. Senti as correntes
ficarem folgadas, pareciam estar sendo soltas de algum lugar e maiores. Mas,
quando pensei em me levantar, ele as puxou de novo. Confirmei que eram longas, ele as trazia nas mãos. No entanto, voltei a
ter um pedaço curto para me movimentar quando o desgraçado começou a
enrolá-las pelo meu corpo, prendendo-me na estrutura da cama.
Cada volta me fazia estremecer sob metal gelado, ele circulou minhas
coxas passando pelo meio das pernas, sobre a virilha, e reforçou as voltas em
meus pulsos, elevando-os para cima. As correntes passaram por dois orifícios
circulares da moldura da cama, e tendo certeza de que eu estava apertada o
suficiente, seus passos o levaram até uma cadeira a poucos passos de mim.
Eu não sabia distinguir os diferentes sentimentos que me tomavam
quando via o modo como segurava as pontas das correntes nas mãos,
ofegante e mascarado, enquanto eu sentia cada parte sensível da minha pele
sendo castigada pelo metal.
— Vou fazer algumas perguntas. — Começou a puxar as correntes de
onde estava e meus braços seguiram para cima conforme elas iam para ele,
enrolando-se na parte vazada da cama. — Acho bom me responder.
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AO CAIR DA NOITE
FanfictionLivro 1 O homem mais poderoso dos EUA te ofereceu um emprego como babá. Ele precisa de ajuda para cuidar de sua doce filha, que acabou de perder a mãe. Só tem um problema. Ele nunca está em casa. Você o encontrou só algumas vezes - e há meses isso n...