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AARON WALKER    dêem ⭐
INOFENSIVO, QUERIDA REITORA

- Vamo, porra!
Empurrei o botão do telhado móvel e o teto não abriu.
Eu deveria estar na Libert, mas tinha sol naquele lugar pela primeira
vez no mês. Almejava fazer a única coisa que meu corpo pedia no momento:
tomar um banho de piscina.
Nem isso consegui.
Atirei o controle para o lado e me joguei em uma das esteiras, para só
então perceber de onde vinha aquela puta energia carregada, que nem mesmo
o ambiente relativamente mais abastado conseguiu conter.
Do que adiantava uma casa espaçosa, com móveis elegantes e
decoração luxuosa, se essa fachada só servia para esconder tensões que
borbulhavam sob a superfície?
Não existiria trégua enquanto existisse a rainha de todas as intrigas.
Ela se chamava Emília Walker e era minha mãe.Não perdeu tempo em lançar seu olhar reprovador na minha direção.
Estava sentada elegantemente em sua cadeira de rodas, sua expressão fria e
distante.
Engoli um suspiro e comecei a me levantar.
- Você voltou - ela disse, sua voz gelada, enquanto empurrava a
cadeira de rodas para mais perto de mim. - Tive esperanças de que também
estivesse morto.
Apertei os punhos tentando manter entre os dedos a pouca compostura
que eu ainda tinha diante daquela mulher.
Sorriso sarcástico. Abri um desses. Era uma das minhas melhores
armas.
- Achou mesmo que iria se livrar da sua única família, mãe? - Ergui
as sobrancelhas e ela soltou um riso cínico.
- Família? Você é a escória que apodrece o meu sobrenome. -
Cuspiu as palavras. - Você é apenas um lembrete constante de tudo que
perdi.
Fechei os olhos, escolhendo as palavras certas. As mais pesadas. As
que me fariam dormir em paz depois que eu deixasse sair.
- Deveríamos ter deixado você apodrecer junto dele, velha ingrata
miserável.
Deixei-a falando sozinha e rompi o amplo espaço da área de lazer,
sentindo a fisgada da raiva de sempre, daquela vez mais forte que nunca.
O meu passado naquele lugar tentava me assombrar como um fantasma
arrombado. Ele estava nas palavras, nos olhos dela, pelas paredes dos
cômodos, pelos objetos no mesmo lugar há anos, sendo polidos duas vezes ao
dia.
Pela foto no grande salão que antecede a sala.
Uma desgraça de tinta à óleo que Emília Walker insistia em expor.
Uma arte morta, sem cor e com um demônio ao lado dela. A imagem de uma
família que nunca existiu, de uma farsa que foi destruída mais tarde do que eu
gostaria.
Com certeza a universidade é melhor do que este lugar agora.
Agarrei a mochila com a mão, já pronto para atirá-la no banco de trás
do carro. Passei os dedos livres no tecido justo de uma das trocentas
camisetas pretas que eu colecionava, conferi a jaqueta de couro que já viu
dias melhores e a bandana preta na cabeça.
Até que decidisse usar aquele uniforme ridículo preto e azul da universidade, aquele seria meu traje.
Liguei o motor da lata na qual derraparia com os caras mais tarde, uma
Lamborghini. Meu sorriso voltou a crescer quando me ocorreu que o puto do
John derrubaria o portão da garagem, se estivesse no meu lugar.
Mas eu? Eu faria coisa pior.
Girei o volante, fazendo os pneus irem pelas laterais do jardim, e
cheguei até a porta principal. Acelerei. O carro estava dentro da sala de estar
em segundos e a imensa porta de vidro, em estilhaços.
Aquela era pela memória do meu irmão. Do filho renegado pela própria
mãe, que não hesitou em comemorar sua morte. E ela ouviria cada uma
daquelas palavras no momento que olhasse para cada mísero pedaço de vidro
no chão e soubesse que fui eu.
Manobrei e saí de lá tentando deixar para trás o fato de que tinha uma
mãe, como em todas as outras vezes. Todas as que saí de lá por causa dela, do
ódio dela, do inferno que aquele lugar se tornava.
Olhei no relógio de pulso.
Da última vez, levei dez minutos para chegar na Libert. Desta ez,
quando conferi os ponteiros, os três minutos me parabenizaram brilhando na
telinha fria.
Tô de volta, vadias.
Minha reputação chegava primeiro, como sempre. À medida que me
aproximava do prédio da administração, me via sendo o centro das atenções.
Empurrei os cabelos para trás e dei meu toque característico na borda da
porta, um gesto que se tornou meu ritual, um teste silencioso de resistência.
Um passo para dentro e dois filhos da mãe colaram em mim.
Brandon e Benedete.
- Onde está seu cãozinho de estimação, Benedete? Melhor ir cuidar
dele. E Brandon, seus pneus estão horríveis, eu trocaria.
Conforme andávamos, as conversas entre as pessoas só variavam em
palavras, mas tratavam do mesmo assunto.

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⏰ Última atualização: Sep 02 ⏰

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