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AARON WLKER. Dêem ⭐
MEU ALVO

Nunca pensei que uma merda como aquela poderia me atingir. Não
àquela altura do campeonato. Com o meu irmão, o puto mais forte e
destemido que já conheci. Não com a porra de vida em migalhas que eu
tinha.
Achei que nada poderia piorar. Mas a minha existência era foda demais
para se manter em equilíbrio, mesmo estando em trapos.
Os cantos dos meus olhos ardiam de tão abertos e eu os mantinha
erguidos na direção, sem piscar, sem desviar nem por um maldito segundo.
Eu só enxergava, respirava e me alimentava da estrada, o meio pelo qual
chegaria no que se dizia o novo xerife do faroeste.
A risada que soltei estalou, enquanto limpava o suor escorrendo pela
testa.
Eles não faziam ideia do tipo de louco que conseguiram libertar, do tipo
de pessoa a quem deram um motivo para se levantar todas as manhãs a partir daquele dia.
As últimas vinte e quatro horas em que fiquei preso no luto,
submergindo e voltando à superfície para respirar, me serviram como
combustível. Juntei cada gota de ódio em um galão e estava sonhando com a
arte que teria, ao final da combustão.
Faria tudo sozinho. Por ele. Como ele sempre fez por mim.
Iria sozinho ao encontro do homem que matou o meu irmão e não
pararia até tê-lo debaixo dos meus pés, retalhado, perfurado com mil buracos
de bala. Me certifiquei de passar no armazém dos Skulls e alimentar o porta-
malas com armas só para aquela ação, para aquela festa.
E que festa seria!
Meu motor ganhava força, elevando o som do ronco e fazendo os pneus
do carro se desgastarem sobre a pista. Com certeza, estaria em Manhattan em
um piscar de olhos.
Eu almejava aquilo.
Mas, como sempre, nem tudo sairia como eu planejava e a infeliz
verdade foi lançada na minha cara, no momento que me vi indo de encontro
com os três cavaleiros do apocalipse do inferno: Brandon, Ryus e Benedete.
Em seus carros, com os olhos em mim e a determinação de um batalhão de
forças armadas.
Pelo visto, eles sabiam para onde eu estava indo e o que estava prestes
a fazer. Fazendo jus aos merdinhas que eram, nunca iriam me deixar passar
sem antes tentar enfiar os dedos onde não foram chamados. Era isso ou não
seriam os filhos da mãe que eu conhecia.
O som de seus motores acelerando junto ao meu não negava que fariam
de tudo para me impedir, mas não era como se eu fosse parar.
Nem se tivesse que passar por cima de todos eles.
- Eu vou matar você, Brandon! - gritei pela janela, quando o vi
tomar a frente dos outros e jogar o carro na minha direção. - Sai da frente!
Acelerei o motor feito um louco, até sentir a colisão abalar a estrutura
ao meu redor.
Estilhaços enfeitaram o lugar enquanto ele ainda insistia, com o vidro
trincado e gasolina vazando, o cheiro de ferro ardendo nas narinas e o ranger
de metal contra metal causando uma fissura infernal.
Também não parei. Mesmo que minha testa latejasse com a pancada,
comecei a empurrar o para-choque dianteiro do carro do desgraçado.
- Mandei sair da minha frente! - vociferei, mas, em segundos,Benedete e Ryus se juntaram a ele, dando força para me empurrar para trás.
Estava encurralado. Não tinha outro jeito a não ser descer, e foi o que
fiz.
- Ficou maluco, porra? - Brandon bateu a porta de seu carro com
dificuldade após desembarcar, seguido do Ryus e da ruiva Benedete, a mãe
do grupo.
- Pra quê, cara? - Ryus acentuou a seriedade. - Vai matar quem?
- Você quer saber quem ele quer matar depois de nos matar, certo? -
Benedete ergueu o tom sarcástico que só ela conseguia sustentar diante de
mim. - Eu também quero saber. - Cruzou os braços.
A insistência do trio em me fazer descontar tudo neles era nítida.
Nenhum escondia isso, e faziam seus papéis tão bem como nunca. Eles
sabiam que aguentavam ser meus sacos de pancadas, e preferiam isso a me
ver voltar a ser aquele monstro nômade e sem controle.
Segurei meu braço que sangrava e apertei a carne. Era o preço que
tinha que pagar por escolher aturar eles.
Procurei regular a respiração, mas não perdi a oportunidade de os
encarar, como o diabo faria com a cruz, antes de começar a falar.
- Vão se foder e saiam da minha frente. - Passei a língua por dentro
da bochecha, sentindo o gosto metálico de sangue, e me desviei deles. -
Vocês sabem para onde estou indo, não preciso me explicar. Agora, saiam da
frente se não quiserem que eu amasse essas latas e vocês junto.
- Não vai fazer isso - disse Brandon, convencido.
- Não tenha tanta certeza! - falei mais alto.
- Não vai fazer isso, Aaron. - Foi a vez de Benedete, me chamando
pelo nome, pela primeira vez em muito tempo.
Comecei a me virar para abrir a porta e eles sequer se mexeram.
- Você tá chapado, porra. Para e se acalma. - Ryus deu um passo à
frente, livrando-se do traço silencioso que lhe caía muito bem.
Balancei a cabeça, a pouca paciência escorrendo pelos meus dedos.
Comecei a sibilar.
- Vou es-ma-gar vocês no asfalto se não saírem agora. - Vi quando
Brandon cruzou os braços firmando os pés ali e soltei uma risada sincera. -
Tudo bem, só espero que saibam que eu não vou enterrar nenhum de vocês.
Segurei a maçaneta e abri a porta com força, mas, antes de me lançar
dentro do carro, Brandon começou a falar.
- Já perdeu um, não vai matar os outros.

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