Um erro como esse era inacreditável, inadmissível, inconcebível! Dante nunca tinha errado no julgamento de alguém e certamente não errou em ver em Ivy a ganância, a inteligência e a força que ele tanto desejava em uma parceira. Foi a certeza de que estava certo, a confiança desacerbada em seus próprios instintos e sua fé em seu súdito mais leal que o levou a um equívoco tão grave.
Isso só provava o valor do coelho assustado e o quão assertiva foi a leitura que o Rei do Inferno fez de sua Rainha, o único detalhe, mero detalhe, o detalhe odioso que ele não percebeu foi a real identidade de Ivy. Mas como ele poderia? Ela era tão diferente de seu suposto irmão. Enquanto a sua Rainha parecia uma divindade calamitosa vindo direto dos céus, assim como ele, o seu coelho assustado parecia apenas isso, assustado. A forma de falar e andar era diferente, a postura era diferente, as atitudes eram diferentes, qualquer um acharia que eram pessoas distintas... Entretanto Dante não era qualquer um... Ele devia ter percebido...
Mesmo vendo tudo sob o véu da obsessão e do desejo, como ele pôde ser tão burro?
Frustração corria por todo o corpo do Rei do Inferno, não era possível que por todo esse tempo ele foi enganado por uma coisinha como aquela. Ele precisava descobrir quem era o seu cúmplice e apenas um nome lhe vinha à cabeça nesse momento: Mike.
Não tinha a mínima possibilidade de Mike não saber de tudo, foi a ele que Dante confiou todas as pesquisas dos antecedentes de Ian, foi ele que falou sobre a irmã do jovem órfão, era ele que tinha contato direto com ambos, Ian e Ivy. Mas ele não cometeria tal traição. Cometeria?
O Príncipe do Inferno era o seu soldado mais fiel, a única pessoa em todo o Inferno que Dante confiava a própria vida, por isso foi tão fácil se deixar levar pelas mentiras de Ian, já que Mike deu a sua palavra de que tudo era real. Tinha que ser ele o traidor.
E os traidores tinham que pagar!
Era irônico que o último nível do Inferno fosse o Lago Cocite, onde o maior dos pecados era condenado, a Traição. Usar a inteligência para causar o mal a quem tem a sua confiança era um sacrilégio. Dante como Rei e governante do Inferno podia cometer crimes hediondos, mas jamais a traição.
Assim que Ian se retirou da sala de tortura, Dante conteve a vontade de confrontar Mike ali mesmo, pois ele sabia que o seu fiel, ou nem tanto assim, braço direito o aguardava do lado de fora. Mas se o fizesse com tantos materiais interessantes a sua disposição, ele o mataria antes mesmo de ter a informação que precisava.
Recuperar a racionalidade era essencial nesse momento, agir com frieza e astúcia, como sempre fazia. Dante deveria agir como o Rei que era, calculando os danos, os prós e contras e medindo as consequências dos seus atos.
Nada foi dito a Mike naquele dia.
Observar o comportamento do soldado, esse era o plano. Dante passou o dia normalmente lidando com a burocracia no Inferno enquanto evitava os pensamentos intrusivos de dilacerar a garganta de Mike e os pensamentos libidinosos de destroçar Ian na cama. Mesmo com a mente cheia ele forçou o foco, regado a uísque e charuto, os de sempre para suprimir os efeitos colaterais, menos as mulheres nuas, pois mesmo enganado, ele era um homem casado. E nem nessas circunstâncias ele aceitaria uma traição. Jamais aceitaria um adultério.
Nesse momento o inimigo foi uma benção enviada pelos céus. O Paraíso e o Inferno viviam em uma espécie de guerra fria, e um espião infiltrado no coração da organização foi descoberto, elevando as chances de que ações violentas estourassem.
Era a distração perfeita.
Também era o momento perfeito para observar Mike de perto, enquanto lidavam com o rato traiçoeiro disfarçado de benção.
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Jogo Perverso
RandomDante é o chefe da Máfia local, um homem tão poderoso que tem toda a cidade sob seus pés, conhecido como o Rei do Inferno, ele é promíscuo e cruel, sempre teve a mulher que queria como queria até que cansasse dela. Um dia tudo mudou quando ele se in...