Jogo Perverso

Capítulo 70 - Estrutura de Peões

A chacina deixou Ian verdadeiramente abalado. Nunca esperou que o seu pequeno ato desencadeasse tamanha crueldade. Perante seus olhos ele viu homens que há pouco sorriam e gozavam, morrerem de forma cruel. O cheiro pútrido da morte parecia abraçá-lo, os gritos agonizantes certamente o atormentariam até o fim da sua vida e o olhar atroz de Dante o assombraria até mesmo em seus sonhos. Não sabia o que era pior os seus pesadelos tenebrosos ou a realidade macabra.

Tremia tanto diante de tal cenário que não conseguia ficar de pé. Ian permaneceu sentado tentando não ver, não ouvir, não sentir, mas Dante sempre lhe chamava e lhe mostrava a sua perversidade. O Rei do Inferno não tinha aquele título à toa. Ele era o soberano do submundo e governava com punhos de ferro, destruindo tudo e todos que se mostrassem contra ele.

No fim do show bizarro, Dante parecia satisfeito. Coberto de sangue virou-se para Ian com olhos sedentos e ele sabia o que viria a seguir. Ian queria correr, se esconder e apagar da sua memória tudo que havia presenciado nesse dia, porém, seu corpo não se movia. Admirou o quão atraente Dante estava com o corpo ensanguentado e o rosto macabro iluminado pelo fogo. Irritado, com medo e triste, Ian aceitou a proposta de Dante. A única forma de parar de pensar naquele sofrimento, era mergulhando no sexo. O tempo em que estivesse transando sua mente estaria limpa.

Ian se sentiu bem nos breves instantes em que Dante o devorou tão docemente. Surpreendeu-se com cada movimento e por um breve momento sentiu como se estivesse sendo cultuado e amado. Agarrou-se a essa sensação para manter a sanidade quando se afastaram.

Voltou para o quarto sozinho e permaneceu assim por vários dias. Dante não aparecia em seu quarto e o dele estava sempre trancado. O máximo que conseguia era vislumbrar a sombra do marido passando apressadamente à noite. Dante parecia um fugitivo, escorando-se pelos cantos e se escondendo.

A solidão esmagadora voltou a ser a sua única companheira e agora que tinha experimentado a luxúria de Dante, ela parecia ainda mais aterradora. Os dias voltaram a ser como antes, sozinho e sem poder se comunicar com ninguém. Tudo que tinha para distrair-se eram os livros em seu quarto.

Ao menos podia escrever para Skyy. Agora que já sabia onde as câmeras estavam, conseguia pegar o livro e guardar os papeis de forma discreta. Não sabia como Mike faria para pegá-lo, mas confiava nele. Em sua primeira carta abriu o seu coração, não sabia o que queria alcançar com aquilo, mas sentiu-se muito mais leves depois que colocou as palavras no papel.

Querida Skyy

Tenho novidades para contar, não sei o quanto Mike te contou, então irei resumir brevemente.

Eu me casei!

Sei que foi um pouco repentino e fiquei muito triste, pois não pude te convidar.

Meu marido é uma pessoa muito importante e muito rica, por isso mantém nossa relação em segredo. Me sinto um pouco solitário vivendo em uma casa tão grande e nós quase não nos vemos, mas acho que é questão de tempo, afinal ele casou comigo, não foi? Às vezes acho que ele me rejeita porque ainda não aceitou os sentimentos dele por mim... Espero que tudo se ajeite logo.

Estou com muita saudade, mal posso esperar para voltar na Boaquete e cantar junto contigo.

Preferiu não reler, não queria sentir aquele peso no peito novamente. Guardou o pedaço de papel no lugar indicado e aguardou até o dia seguinte. Adormeceu lendo um livro e acordou com um pesadelo o assombrando. Levantou-se com um salto e correu para a prateleira, a resposta o aguardava.

Docinho, que roubada ein?

Larga esse fdp e vem morar comigo, não sou rica, mas te garanto um teto e um emprego.