Capítulo 40 - Coluna aberta

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Ter alguns dias de folga depois passar tantos anos trabalhando sem parar foi uma benção e uma maldição, ao mesmo tempo em que Ian pôde finalmente descansar, conhecer a Boaquete onde fez uma amizade maravilhosa e se transformou em Rainha pela primeira vez, também foi o período em que se tornou noiva do Rei do Inferno e foi rejeitado por ele logo em seguida, bem Ivy foi rejeitada, já que ele havia feito algo que nunca tinha cogitado e assim descobrindo o quão atraído ele era pelo mafioso a ponto de abrir mão da sua segurança só para senti-lo dentro de si uma única vez.

A verdade era que desde que conhecera Dante a vida patética de Ian saiu do ritmo pacato e insosso para um ritmo frenético e caótico, cada instante de sua nova vida era recheado de emoções, fossem elas positivas ou negativas, era melhor do que viver naquela inércia em que se encontrava, o jovem rapaz sentia como se tivesse morrido há muito tempo e seu corpo sem alma seguia apenas levado pela correnteza, porém depois do dia que pisou pela primeira vez no palco da Luxúria e que o Rei do Inferno começou a persegui-lo, tudo virou de ponta cabeça, seu coração voltou a rufar em seu peito, sua alma voltou para o seu corpo e finalmente ele se sentia vivo.

Talvez seja esse o fenômeno que chamam de "melhora da morte", Ian era como um paciente terminal, totalmente desenganado e que teve uma melhora repentina e milagrosa, só para se despedir dos seus entes queridos e então morrer em paz. E por ente querido ele queria dizer Ivy, já que o jovem não tinha família ou amigos, a única pessoa que ele tinha era ele mesmo. Talvez seja essa a sensação que tanto falam de quando a pessoa está prestes a morrer, o sentimento breve e intenso de vida, até que tudo finalmente se apague e se fosse mesmo isso, ao menos ele estava sendo capaz de viver novamente, de ser ela novamente.

Na realidade Ian nem se lembrava qual foi a última vez em que sentiu a vida pulsar em seu corpo, talvez no dia em que se vestiu como Ivy pela primeira vez, o que não durou tanto já que no orfanato reprovaram o seu ato e o pequeno feixe de luz em sua vida logo se apagou. Poder existir como Ivy novamente lhe fazia tão bem! Já não precisava trabalhar arduamente para ter menos que o mínimo, agora tinha um salário decente, carteira assinada com todos os direitos, plano de saúde e dentário, podia comer de forma adequada e se dedicar aos seus hobbies.

A mudança era tanta que ao olhar no espelho Ian quase não se reconhecia, suas profundas olheiras que pareciam tatuadas em seu rosto por tanto tempo se foram, seu corpo que era extremamente magro ganhou um pouco mais de gordura e músculos, seu cabelo estava sedoso, sua pele macia, ele estava renovado e tudo graças a Ivy e ao Rei do Inferno.

O destino é mesmo uma coisa engraçada e gosta de brincar com as ironias da vida.

Ian chegou cedo na Luxúria, ele já estava até sentindo falta daquele lugar, os dias de folga foram muito agitados e ele queria um pouco de normalidade na sua vida, se é que isso fosse possível tendo um grande mafioso envolvido nela. Ao menos a rotina na Boate era previsível, chegar se arrumar, ficar no bar até o cliente ilustre chegasse, subir para área VIP, descer para se arrumar novamente, dessa vez como Ivy, e finalmente se apresentar no palco, esse era o plano para essa noite.

Ao menos era o que Ian achava, ele foi surpreendido com a notícia que o Rei do Inferno já o aguardava na área VIP. Ele engoliu seco com a notícia, mas estava aliviado que Dante realmente apareceu, apesar de ter recebido um convite mais cedo para Ivy encontra-lo, o jovem rapaz ainda temia que o mafioso o evitasse afim de cortar laços com a sua suposta irmã.

— Já está melhor da sua alguma coisa iti? — perguntou Dante assim que Ian entrou na área VIP.

— Um pouco — disse Ian com uma voz mais aguda, fingido que a doença em sua garganta era o motivo para o seu grito mais fino durante o almoço.

— Sente-se aqui — disse Dante indicando o assento ao seu lado.

A área VIP estava estranha, vazia, nem Mike se encontrava em seu posto de sempre, Ian achou no mínimo suspeito, mas não podia recusar uma ordem direta, então só obedeceu.

Dante beliscou o queixo de Ian com as portas dos dedos, seu toque era quente pois os dedos estavam aquecidos devido ao charuto que a pouco tempo estava em sua mão e agora descansava no cinzeiro na mesa, o jovem rapaz olhou para cima à medida que seu rosto foi puxado fazendo-o encontrar não os olhos, mas os lábios do mafioso, aquele que ele havia beijado em duas ocasiões e que agora parecia ainda mais convidativo, exceto pelo fato de que não era Ivy sentada ali na área VIP e sim o Coelho Assustado e ele não tinha o direito de encostar naquela boca, ou encostar em qualquer parte do Rei do Inferno.

— Por que são tão parecidos? — perguntou Dante entre dentes.

— O que? — perguntou Ian confuso, ainda completamente perdido nos lábios de Dante.

Se Ian não estivesse tão focado onde não deveria, teria visto o ódio flamejar nos olhos do Rei do Inferno e talvez conseguisse se desviar, mas ele estava tão envolto no ato de admirar a boca de Dante que nem percebeu quando a mão do mafioso largou o seu queixo e envolveu o seu pescoço com um aperto firme.

O rosto de Ian empalideceu, suas mãos começaram a bater no braço firme em uma tentativa inútil de afastá-lo, o ar parecia faltar, seus olhos estavam anuviando enquanto as lágrimas se formavam ao seu redor. A sensação era assustadora e ao mesmo tempo... excitante? Enquanto o ar lhe faltava e parecia que sua vida lhe esvaia, seu peito acelerava e seu corpo esquentava. Mirar aqueles olhos raivosos, aquela expressão assassina, sentir aquela mão firme e forte ao redor do seu pescoço, era simplesmente enlouquecedor.

Dante soltou o pescoço de Ian e pegou novamente o seu charuto, ele estava muito irritado e queria despejar toda a sua raiva naquele jovem ao seu lado, ele sabia que não podia machucá-lo, mas sua mente lhe dizia como seria delicioso pressionar o seu charuto na pele sensível, como seria prazeroso o ouvir gritar de dor, como seu rosto ficaria vermelho e molhado com suas lágrimas e como a sua expressão seria... Sexy?

"Droga, esse garoto é perigoso, talvez tão perigoso quando a própria irmã"

Ele estava excitado pensando em um homem, isso nunca havia acontecido, isso era inconcebível, ele abominava aqueles como Isaac que se esfregava em outros homens, que sempre os buscava por prazer. Por que faria isso quando podia ter qualquer mulher que quisesse? Em alguns momentos completamente bêbado ele já havia fodido um homem ou dois, mas eram apenas buracos, ele estava duro, precisava meter e era o que tinha por perto, era apenas necessidade, se houvesse qualquer mulher por ali ele jamais faria algo assim.

Mas aquilo era diferente, nenhum dos homens que ele havia usado para seu prazer momentâneo havia lhe chamado atenção, nunca haviam entrado em suas fantasias, eles nunca haviam de fato despertado algum desejo e aquela coisinha desengonçada era capaz de deixá-lo pronto para uma maratona de sexo com apenas uma cara de choro, isso era ridículo!

A música da boate foi o único som por bastante tempo, Dante e Ian permaneceram em silêncio, enquanto o jovem rapaz buscava por ar e massageava o próprio pescoço rezando para que a maquiagem aplicada ali para cobrir o rastro da mordida que o Rei do Inferno havia deixado em sua pele não tivesse saído, o mafioso tragava a seu charuto sem pressa.

Ian apenas observava quieto do seu lugar como havia sido ordenado, tentando não entrar em pânico. Dante nunca havia ameaçado ele daquela forma, nem quando foi jogado aos pés do mafioso no meio da madrugada. Primeiro foi o empurrão no meio do boquete e agora isso? O que poderia estar acontecendo com o Rei do Inferno?


— Sua irmã gostou do presente? — perguntou Dante sem olhar na direção de Ian.

— Sim, ela adorou — disse Ian lembrando-se do colar que havia recebido essa manhã junto com um bilhete, ele não pedia desculpas, o Rei do Inferno nunca pedia perdão, apenas a convidava para um jantar após a apresentação. — Ela com certeza vai usar durante o jantar.

— Ótimo — Dante parecia perdido em pensamentos e Ian teve medo de dizer mais alguma coisa e atrapalhar, afinal ele não era nada perto do Rei do Inferno, que era um homem de negócios ocupado e cheio de preocupações diversas na cabeça, provavelmente tinha muitas coisas que o mafioso precisava resolver e que Ian não seria nem capaz de entender.

Mal sabia ele que a única coisa na cabeça do Rei do Inferno naquele momento era a imagem dele de quatro sendo fodido incessantemente enquanto choramingava manhoso em meio a dor e prazer.

Coluna aberta no xadrez é a coluna que faltam os peões, e por onde as peças maiores podem penetrar em território inimigo.

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Nota da AutoraIan sentindo que está vivendo os melhores e piores dias de sua vida (e os últimos) enquanto Dante está em meio a uma crise de Bi panic, tudo normal por aqui haha

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Nota da Autora

Ian sentindo que está vivendo os melhores e piores dias de sua vida (e os últimos) enquanto Dante está em meio a uma crise de Bi panic, tudo normal por aqui haha

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