A explosão foi algo que Ian não esperava, e esperava menos ainda que Dante usasse o próprio corpo para protegê-lo. Em outra situação ele sentiria seu coração bater mais forte e se afundaria na ilusão de que aquele ato significava algo. Dessa vez não sentiu nada.
Tentou se levantar para sair dali e parar de ouvir os sons grotescos de dor, mas seus membros estavam pesados. Parecia que fazer um simples movimento com eles exigia uma energia que não tinha. Sua única vontade era ficar ali parado olhando para o vazio dentro de si. Não havia lágrimas, não havia dor, não havia tristeza, apenas o mais puro vácuo. Não sentir era ainda pior do que sentir, pois quando a enxurrada de emoções aparecia ele podia se expressar, podia colocar para fora de alguma forma, fosse gritando, chorando, quebrando algo, ou fodendo com alguém e assim extravasar aquilo que o transbordava. Mas e o nada? Ele sequer existe como poderia extrair de dentro de si? Respirar era difícil, manter os olhos abertos era difícil, pensar era difícil, coisas que eram tão naturais e que tinha feito por toda a vida sem pensar muito sobre elas, agora requeria muito mais energia, e ele não tinha nenhuma. Nada. Vazio.
Arrastou-se como pôde até a frente da Boaquete onde o carro estava estacionado, a uma distância segura, e percebeu que o socorro não tinha chegado. O prédio queimava e ninguém tentava apagar o fogo ou resgatar as vítimas. Lá dentro era um verdadeiro pandemônio.
— É lindo, não é? — perguntou Dante orgulhoso, causando-lhe náuseas ao imaginar os corpos empilhados e cremados como na piscina da mansão.
Recusou-se a olhar para o brilho intenso e entrou no carro de cabeça baixa.
Um silêncio sepulcral tomava o veículo no caminho de volta para a mansão. Distante dos gritos desesperadores emitidos pelas pobres almas em agonia na Boaquete, a noite parecia calma. A lua se escondia entre as nuvens, como se não quisesse presenciar aquela brutalidade, e as ruas vazias transmitiam uma serenidade que não combinava com o momento.
O corpo de Ian estava dormente, quase como se ele não pertencesse ali e estivesse vendo de fora suas próprias ações. A chacina na Boaquete era totalmente diferente da chacina na mansão. Ele lamentou pela morte dos soldados, mas a verdade era que ele não conhecia aquelas pessoas. Era mais fácil superar quando eram totais estranhos. Porém, na boate ele conhecia muito bem muitos dos cadáveres incinerados. Eram companheiros com quem cantou, eram corpos com quem dançou, eram bocas que ele beijou.
A verdade é que mesmo indo poucas vezes até a Boaquete, se sentia mais em casa lá do que na Mansão, do que na Boate Luxúria ou até mesmo no pequeno apartamento no qual morou por anos. Agora a único lugar que se sentia pertencente e aceito tinha virado cinzas. E ele não sentia nada, pois não tinha mais nada para sentir, mais nada para perder. Já tinha destruído seu lar, colocado Skyy em perigo e perdido a confiança de Mike.
Tinha alcançado o fundo do poço.
E pelo jeito que Dante lhe olhava e Mike o ignorava, parecia que tudo iria piorar.
Só não conseguia se importar.
Como uma marionete, totalmente sem vida e guiado por fios invisíveis, Ian dirigiu-se ao seu quarto assim que chegou na mansão. Não se sentiu feliz ao deitar-se no colchão macio ou ao se cobrir com os lençóis aconchegantes. Tudo parecia insosso.
Perdido em sua apatia, não percebeu que Dante lhe seguiu até ali. Sentiu as mãos grandes e quentes percorrerem suas pernas através da meia fina que usava. Esperou os arrepios que costumavam tomar o seu corpo reagindo ao toque. Nada.
— Então você estava usando meias, por isso suas pernas estão diferentes — sussurrou Dante em seu ouvido enquanto apertava a sua coxa — Por que não tira essa roupa, hm? Vamos brincar um pouco, meu coelhinho.
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Jogo Perverso
RandomDante é o chefe da Máfia local, um homem tão poderoso que tem toda a cidade sob seus pés, conhecido como o Rei do Inferno, ele é promíscuo e cruel, sempre teve a mulher que queria como queria até que cansasse dela. Um dia tudo mudou quando ele se in...