Respirar era algo natural e Ian nunca foi tão grato por poder respirar livremente. O Rei do Inferno descobriu o seu segredo e mesmo assim ele estava vivo! Era uma benção. Todas as vezes em que imaginou essa cena em sua cabeça, em nenhuma delas resultava nele tomando um banho relaxante em uma banheira luxuosa em seu próprio quarto. Ele tinha passado por torturas terríveis e ainda se sentia um lixo por ter engolido Orlando – que ainda estava em seu sistema digestivo, mas ele sobreviveu e aquilo tinha gosto de vitória.
Jogar para vencer nunca foi a intenção de Ian, ele era um jogador vulnerável, não entendia as regras do jogo e apenas movia as suas peças de uma forma que o mantivesse vivo. Vitória era algo incomum em sua vida patética e aquela tinha um gosto muito agridoce.
Lavar o corpo tentando livrar-se da loucura não foi suficiente, Ian ainda sentia a vida pulsando em seu corpo, a mistura de euforia com tristeza e pânico. O futuro era incerto, Dante assim como ele ainda estava digerindo os acontecimentos da noite, o que lhe restava era dormir e esperar.
O sono o abraçou assim que o peso do corpo atingiu o lençol macio. O mundo girou e tudo ficou escuro, a pele antecipou o banho gelado e os ouvidos o barulho ensurdecedor. Não veio nada. Os músculos se contraíram, aquilo estava gravado em seu ser assim como o aperto em seu pescoço. O cansaço brigava com o desconforto, as pálpebras estavam pesadas demais para conseguir abrir, porém um barulho o impedia de escorregar para as profundezas do descanso.
Gritos baixos sopravam os ouvidos de Ian e ele não tinha força para pedir que o barulho cessasse e o som foi aumentando, ficando cada vez mais forte, cada vez mais alto, cada vez mais desesperado. Os olhos se arregalaram, tomado pela respiração ofegante e o suor frio escorrendo de sua nuca até o meio das costas. O som o envolvia, a série de gritos vinham de sua boca seca emitidos por sua garganta dolorida.
Desespero e angústia o dominavam.
Pesadelos sombrios perturbavam seu descanso e mesmo sem lembrar deles sua mente continuava em alerta. Dante havia assegurado a vida de Ian e lhe entregara uma meia vida. Aprisionado e isolado em seu quarto, tendo apenas como companhia os seus traumas.
Seu corpo antecipava o perigo, era difícil relaxar. Perigo este que nunca veio.
Nem os pássaros que costumam cantar depois das tempestade ousaram se expressar, o silêncio era mortífero.
No início a vida de Ian era um deserto, árido, seco e infértil, seus dias eram quentes, ele não tinha proteção contra o sol e nas noite gélidas ele não tinha agasalhos. A chegada de Dante mudou tudo.
Dante era a chuva fina quebrando o mormaço, aliviando o calor, regando o solo trazendo esperança de que ali poderia gerar frutos e flores. Foi ali que Ian encontrou conforto e depositou seus sonhos, no chuvisco leve de fim tarde junto a brisa gostosa, até que o temporal chegou.
A chuva engrossou, o vento soprava forte, os relâmpagos avisavam o perigo iminente, logo os trovões ficavam cada vez mais frequentes, cada vez mais altos e Ian ficou encharcado pela tempestade, foi arrastado pelo vento, atingido pelo raio e sofreu danos que seu corpo e sua mente jamais se recuperaria, além disso perdeu seu emprego, seu lar e a sua liberdade.
Apesar de tudo a tempestade era esperada assim como os seus danos, haviam avisos, já a calmaria, ninguém sabia o que esperar dela e era isso que a tornava aterrorizante.
Foram dias em seu quarto isolado novamente, dessa vez ele recebia alimentos nos horários das refeições, entretanto a fome era pouca, quase nenhuma. Sempre que colocava algo na boca, lembrava-se de Orlando, tanto da sua presença, quanto da sua ausência e de como tudo terminou. Comer tornou-se um martírio, assim como dormir.
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Jogo Perverso
AcakDante é o chefe da Máfia local, um homem tão poderoso que tem toda a cidade sob seus pés, conhecido como o Rei do Inferno, ele é promíscuo e cruel, sempre teve a mulher que queria como queria até que cansasse dela. Um dia tudo mudou quando ele se in...