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Março.

Você sabe qual é um dos maiores e mais grotescos erros que uma pessoa comete na vida? Desejar ser adulto quando se é criança. Eu fui uma criança "adulta" demais. Aprendi a ler com três anos de idade, contrariando todas as expectativas. Com dez, eu já tinha lido e entendido (acho importante frisar isso) o livro Sofies Verden. Com doze anos, eu decidi o que queria ser quando crescesse. Aos trezes, minha vida inteira já havia sido planejada por mim mesma. Eu seria uma grande jornalista, iria trabalhar no jornal que meu pai costumava ler pela manhã. Eu almejei pela vida adulta.
Imaginava-me andando pelas metrópoles mais importante. Cheia de projetos e contatos, bem encaminhada profissionalmente, com um relacionamento amoroso saudável, cheia de amigos e com sapatos de salto alto. Entretanto, aqui estou eu. Aos vinte e um anos, não me considerando nem um pouco adulta e sentindo como se o mundo inteiro conspirasse contra mim. Quase reprovando em várias matérias na faculdade, completamente perdida no meio de trabalhos e mais trabalhos, provas surpresas e professores indignados com a minha falta de responsabilidade. Morava em uma cidade considerada pequena, não tinha nenhum projeto, solteira, apenas uma amiga de verdade e sapatilhas.

A mini-eu de treze anos de idade estaria bastante desapontada, porém, eu atribuo a culpa a Hollywood e seus filmes e séries que me prepararam para o mundo de um jeito errôneo.
A única parte da minha ilusão de infância que poderia até ser considerada verdade era estar encaminhada na vida. Como eu disse, poderia ser verdade. Eu havia conseguido um estágio no Daily, um jornal que recebia tantos empréstimos de políticos que era quase inteiramente financiado por um único partido. Era considerado um jornal tendencioso e quase falido.
Eu sobrevivia apenas na esperança de conseguir algum dia escrever em alguma coluna. Ir contra o sistema, sabe? Mas o número de decepções que eu tinha a cada reportagem enaltecendo políticos e suas corrupções só aumentava; E minha vontade de ser jornalista e escrever só diminuía. Eles diziam ver grande potencial em mim, então me exploravam usando a desculpa de "me formar como profissional" e coisas do tipo. Eu sabia que estava sendo explorada, que estava sendo responsável por trabalhos variados e que não deveriam ser meus. Mas eu necessitava daquele estágio remunerado. Precisava da experiência e principalmente, precisava do dinheiro. É claro que eu fui avisada que as coisas no mercado do meio jornalístico eram meio alienadas e incoerentes, mas eu também tinha certeza que o colunista das sextas feiras pedir para eu aumentar meu decote para lhe dar "inspiração" DEFINITIVAMENTE não é certo.

A verdade é que no momento eu tinha mais responsabilidades e problemas que minha sanidade era capaz de aguentar. E tudo o que eu queria era tomar uma cerveja. Foi assim, enlouquecendo entre um relatório desnecessário e as secretárias fofoqueiras do editor chefe, que eu resolvi aceitar o convite de Bibi para tomar umas em um pequeno clube da cidade.
Bianca era uma bela loira de cabelos longos que eu chamava de melhor amiga e apelidei de Bibi. Nos tornamos amigas na escola. Até conhecê-la, nunca imaginei que uma pessoa como eu poderia ser amiga dela, mas também não entendo como não nos tornamos amigas antes. Eu não sei de onde surgiu o apelido, eu provavelmente estava bêbada quando inventei. Eu ficava constantemente bêbada no meu último ano na escola. Não, eu não me orgulho disso. Mas adolescência é uma fase estranha e as coisas que fazemos nela não podem definir nossa vida inteira.

Ela era publicitária. Começou a faculdade antes de mim e acabou se formando antes também. Trabalhava em uma agência publicitária, mas sua beleza, carisma e grande desenvoltura com as mídias a possibilita de ter várias outras oportunidades de trabalhos. Tipo, trabalhar como modelo, se arriscar como atriz, dançarina. Enfim, Bianca era aquela pessoa de mil e uma utilidades que a gente até odeia um pouco por ser boa em tudo.
Não entendi a urgência dela ao me mandar cinco mensagens seguidas, mas ela devia imaginar que o final do mês estaria me deixando meio louca mesmo. Avisou que estava no Lá vence com uns caras que ela conheceu. Mandou mais umas quatro mensagens perguntando onde eu estava logo que confirmei minha presença. Respondi assim que vi o trânsito paralisar a minha frente.

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