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Abril.

Já faziam cinco horas que eu estava sentada no chão da sala. O notebook aberto e alguns papéis espalhados na mesinha de centro davam um ar ainda mais desesperado a pequena sala. Eu estava digitando incansavelmente mais um trabalho atrasado. Os professores já estavam perdendo a paciência comigo e eu só torcia para que eles não parassem de me oferecer segundas chances. Eu continuava dizendo a mim mesma que deveria me esforçar mais, que toda a aposta em mim mesma valeria algo no futuro, mas era difícil manter a cabeça no lugar quando eu nem entendia mais o meu propósito.
Despertei dos meus pensamentos conflituosos ao perceber que já eram quase 21h. Bianca ainda não estava em casa e eu estava faminta. Sem a menor vontade de cozinhar, mandei mensagem para ela, perguntando se ela iria dormir em casa. Também comentei que estava com preguiça de cozinhar e que pensava em pedir sushi. A resposta veio em cinco minutos.

Dei uma risada porque eu realmente estava sem roupas

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Dei uma risada porque eu realmente estava sem roupas. Sentei na cadeira alta da nossa bancada e peguei meu celular, liguei para nosso restaurante japonês preferido e pedi uma barca de sushi e sashimi. Enrolei um pouco para voltar a frente do computar e escrever. Liguei a TV, arrumei a cozinha, vi todas as minhas redes sociais, conversei no whatsapp, lixei minhas unhas, voltei as redes sociais. Aproveitei para arrumar a sala, tentando diminuir a poluição visual que meus papéis jogados estavam causando.

Procrastinação era um dos meus maiores defeitos e eu me sentia um lixo depois. Eu amava trabalhar, gostava de estudar, mas sempre deixava tudo para cima da hora e demorava para fazer. E quando eu não conseguia fazer o que eu tinha planejado por falta de organização, eu quase morria de frustração. Por conta disso, á alguns anos atrás, antes da faculdade, eu desenvolvi um grave transtorno de ansiedade e precisei até tomar remédios por algum tempo. Eu sempre me pressionava muito e quase nunca conseguia suprir minhas próprias expectativas, o que me causava umas crises horríveis de vez em quando. Às vezes, eu sofria um "blecaute" na minha mente. É como se eu ficasse fora do ar por horas e quando eu volto a funcionar, eu quero morrer por ter caído de novo.

Já tinha um tempo que eu não tinha nenhuma reação exagerada, até eu começar a trabalhar no jornal. Um dia, passei 30 minutos paralisada dentro do meu carro, na frente do campus da universidade. Só de pensar no trabalho que eu iria entregar e na prova que eu tinha que fazer, meu corpo se recusou a se mover. Eu chorei um monte e acabei voltando para casa. Fiquei sem nota por conta disso e acabei tendo que implorar para o professor me dar a chance de fazer outra prova. Eu preferi não comentar nada com Bibi sobre isso. Ela ia falar por horas, ia me fazer ir ao médico, ligar para a minha mãe quando eu recusasse e não ia me deixar em paz. Então, para promover a paz na minha vida, preferi me manter em silêncio sobre tudo.

Passaram quase duas semanas desde aquele dia no Carté. Eu, Bianca e os rapazes nos tornamos amigos quase que imediatamente. A rapidez com que nós criamos intimidade um com os outros foi até engraçada. Na quarta-feira passada, nós acabamos almoçando juntos por acaso. Todos nós estávamos perto do mesmo restaurante e por intermédio de Bianca, acabamos nos encontrando. E foi ótimo para quebrar um pouco do constrangimento e da timidez que ainda tínhamos um com os outros. Gabb descobriu que Fane e Bianca tinham se beijado e claro que ele não deixou de implicar com os dois, que nem se lembravam muito bem o que tinha acontecido.
Eu quase não estava vendo Bianca nos últimos dias. Quando eu saia de casa, ela ainda estava dormindo. Quando eu chegava em casa, ela ainda estava na rua. Nossa rotina andava muito puxada e a gente acabava se desencontrando. Nos finais de semana, ficávamos tão cansadas que passamos o dia trancadas no nosso quarto, dormindo ou, no caso dela, trabalhando mais ainda. Nos sábados, nós tomamos uma cerveja enquanto assistimos séries, quando Bianca não tinha o que fazer. Ela andava trabalhando mais como modelo do que publicitária de fato na agência.

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