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Agosto.

Eu nunca tive certeza do que eu queria fazer profissionalmente. Por isso, quando tinha quinze anos, fui em uma feira de profissões que aconteceu no centro comunitário de Thunder Bay, distrito onde eu morava. Toda vez que eu parava em um stand, saia de lá querendo seguir a profissão que me fora apresentada. Lembro que no stand de artes cênicas, uma colega de turma falou que a função do ator é mentir bem. Eu mentia muito bem, logo, quis ser atriz. Hoje em dia, eu sei que foi até desrespeitoso o que a Grazi falou.

Sempre fui curiosa, gostava de aprender coisas novas, minha sede por saber era grande. Pela manhã, eu tinha as maiores vontades do mundo, tipo, fazer trabalho voluntário na África. Pela noite, eu já tinha outras vontades, vontades ínfimas, como aprender a fazer crochê. Eu tentei aprender a tocar piano, mas o tempo acabando rebaixando essa vontade ao esquecimento. Eu também queria fazer bordado e aprender a fazer a torta de limão com merengue que a dona Ana vendia na rua da minha casa aos domingos. Eu sempre fui o tipo de garota que queria muitas coisas, até que algo triste aconteceu comigo. Talvez uma das coisas mais tristes que se pode acontecer com um ser humano.
Eu desisti.
Desisti de ser atriz, desisti do bordado, desisti da torta de limão quando percebi que não tinha amido de milho no armário. De repente, a vida se fez presente, o tempo parecia inexistente e todas as minhas vontades acabaram ficando para trás. Na ânsia de um futuro, a preocupação de ter um emprego, notas boas, uma vida social e todas essas aspirações que tentamos ter, as coisas que não eram essenciais e urgentes acabaram ficando lá, na ilha do "quase".

- Ele está usando o meu texto. Ele simplesmente copiou e colou o meu texto sobre a união europeia! – Expus o acontecimento ao meu chefe, irritada ao extremo. – Eu juro que deixei os papéis em cima do balcão e... – Senti todo o ar que existia no ambiente acumulando-se na minha garganta quando Adam simplesmente levantou uma mão, sinal claro que eu deveria parar de falar.

Adam, meu chefe, designou a mim a tarefa de entregar uma pasta especificamente nas mãos de Jay nollan, o babaca que pedia para ver meus peitos. Eu tinha quase certeza que algum político estava molhando a mão de nollan para beneficiá-lo em suas matérias, mas eu tinha que ficar calada. Porém, quando fui entregar os papéis, acabei vendo o meu texto sobre blocos econômicos em seu computador. O texto que eu tinha escrito a mão em 20 minutos após assistir uma reportagem da BBC e deixei em cima da mesa enquanto ia receber uma entrega de tinta para impressão.

- Deixa eu explicar uma coisa para você, Violet . Você é uma porra de uma estagiária. Nollan trabalha aqui á quase 20 anos. Se ele quiser usar seu rascunho como base de texto, ele pode! E sabe o que você faz? Entrega a merda dos papéis e serve a porra do café a hora que eu mandar. – Gritava e apontava o dedo, quase tocando em meu rosto.

Tudo fica mil vezes pior quando você simplesmente não gosta mais do que faz. Eu escrevia textos que ninguém lia, fazia trabalho que eu não deveria estar fazendo. Eu era assediada, explorada e agora plagiada. Eu não sabia que diabos eu estava fazendo com a minha vida. O jornalismo havia tornado-se um fardo pesado demais para mim. Eu sabia que não devia basear minha profissão inteira em um local de trabalho, que as coisas poderiam ser diferentes fora dali, mas o jornalismo nunca fora uma certeza. E ultimamente, não era nem mais uma vontade. Minhas frustrações estavam a mil. Eu não tinha uma boa noite de sono faziam semanas, minhas olheiras estavam tão profundas que passei a usar base e pó compacto nos dias de semana. Eu era uma pilha de nervos o tempo todo.

Á alguns dias atrás, lembrei de meus tempos conturbados na faculdade e do remédio que fora receitado para mim com o objetivo de apaziguar minha situação. Eu fui burra o suficiente para achar que era uma boa ideia voltar a usar a medicação, com isso, acabei tomando os benzodiazepínicos por alguns dias. A medicação causou-me uma intensa confusão mental e eu tenho quase certeza que fora por conta disso que perdi os malditos papéis. Eu não sabia exatamente o conteúdo que continha nele, mas a julgar pelo jeito que Adam tinha mobilizado o escritório inteiro na busca, devia ser coisa grande. Eu até tentei me envolver na busca dos papéis, mas Adam gritou comigo por mais uns 20 minutos e me mandou embora.

Encarei-me no espelho retrovisor do meu carro e desabei em prantos antes mesmo de conseguir sair da garagem do prédio. Exaltada e atormentada, procurei em minha mente por respostas ao meu descontrole emocional. Não era TPM, não era estresse, eu estava tão desmotivada, que minha ansiedade e frustração estava em níveis alarmantes. Eu nunca havia me sentido tão desnecessária, tão inútil quanto estava me sentindo nos últimos dias. Ter que acordar e sair de casa todos os dias era simplesmente difícil. Eu me odiava por isso, odiava me sentir tão fraca por coisas tão pequenas. A última vez que saí com meus amigos foi para um almoço em restaurante e eu só pude ficar por uns 30 minutos. A vida de todos parecia tão mais saudável e tranquila que a minha, eu odiava isso. Odiava vê-los tendo vidas normais e perfeitamente saudáveis.

É possível ser normal e saudável aos 21 anos?
Odiei ter que deixar o local, atolada de trabalhos para fazer enquanto todos se divertiam e riam das últimas aventuras sexuais de Fane. Fazia tempo que Bianca não tinha tempo para sentar e me perguntar como eu estava. Não que fosse culpa dela, eu também não estava sendo a pessoa mais fácil de lidar nos últimos tempos. Eu odiava agir assim, sentia-me a pessoa mais mimada e dramática do mundo. Quando eu me sentia frágil e exposta demais, tinha tendência a me afastar. Com William, não foi diferente.
Após voltarmos da praia, acabamos vivendo uma semana de lua de mel, por assim dizer. Nós saíamos quase todos os dias da semana, a gente também transou muito e nunca sentamos para conversar sobre o status do nosso relacionamento. Aparentemente, meu breve romantismo e minha doce declaração à beira da piscina fora o suficiente para ele. Tudo estava perfeitamente bem, até ele viajar por duas semanas para outro estado. Quando voltou, William teve que lidar com uma Vivi irritada, impaciente, nervosa e confusa. Eu sabia que ele não tinha obrigação nenhuma em ser legal comigo quando eu estava sendo uma vadia, então preferi me manter longe naqueles dias para que ele não desistisse de mim permanentemente.

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