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Dezembro.

As batidas de Let It Bleed do Rolling Stones começaram cutucando meu ombro e eu os mexi no mesmo ritmo. Meu quadril acompanhou o as batidas ritmadas e quando me dei conta, eu já dançava na ponta dos pés ao redor da mesa de centro. Joguei meus cabelos de um lado para o outro, não notando a confusão que aquilo acarretaria a mim mesma. As luzes psicodélicas piscavam rápido demais e mesmo com os olhos fechados, elas continuavam lá. As luzes começaram a causar uma sensação horrível de confusão, então esfreguei os olhos com força, usando as palmas das mãos. Tudo parece ter gosto de terra e pensando bem essa minha afirmação não tem sentido algum.

- Você achou que íamos acabar assim? – A voz arrastada de Bianca tirou-me do meu delírio de luzes estroboscópicas e quando virei para vê-la, tudo parecia normal. Sem luzes e sem gosto de terra.

- A maconha é uma surpresa. – Murmurei, encarando meus pés, que ainda se mexiam incessantes. Gargalhei ao notar que eu ainda dançava e nem havia percebido.

Eu não sei exatamente que horas eram, mas eu sabia que já devia ser madrugada, pois Bianca e eu estávamos na sala de nossa casa pelo que pareciam ser algumas horas. Desde que cheguei em casa, já pela noite, após passar um dia inteiro em cartórios, bancos e afins, encontrei uma Bibi personificando a palavra "tristonha". Estava deitada no sofá, ouvindo rock antigo e bebendo vinho de segunda. Extremamente convidativo, óbvio que me juntei a ela.

Logo, o vinho transformou-se em vodka e a partir daí, eu já tinha perdido o controle de mim mesma, então não entendi muito bem como os baseados surgiram.

- Não deveria ser uma surpresa. Nós devíamos fazer isso mais vezes. – Sugeriu, sentando e procurando pelo isqueiro em cima da mesinha de centro.

- Ficar bêbadas em uma quinta-feira aleatória? Nós fazemos isso desde que viemos para cá. – Gargalhei, nostálgica. Lembrar de nossas primeiras noites sozinhas na cidade me causava uma enorme melancolia.

Éramos duas adolescentes vivendo longe de casa, morando sozinhas pela primeira vez. A empolgação com a recém liberdade nos fez extrapolar algumas vezes e acabamos perdendo o limite. Sempre prometíamos que íamos mudar, que logo o sentimento de novidade ia passar e nós viveríamos como adultas e responsáveis. Esse dia nunca chegou. Quase seis anos depois, Bianca e eu ainda abusávamos de nossas liberdades, principalmente quando o assunto era diversão.

Senti que as luzes fortes iam voltar aos meus olhos, então sentei no chão também, o que fora uma péssima escolha pois senti um enjoo terrível. A mistura de álcool com a cannabis não fora exatamente uma boa ideia.

- Você odeia fumar. – Comentei, observando Bibi acendendo um cigarro.

- Minha melhor amiga vai embora, eu posso fazer o que eu quiser. – Embolou-se toda para falar e após dar uma baforada para cima, tossiu vigorosamente. – Que saco, eu odeio fumar!

- Então, para de fumar! – Puxei o cigarro da mão dela, tragando um pouco. Isso só piorou minha situação. Antes a sala apenas oscilava, agora a sala fechava-se em minha volta. – De onde surgiu isso, afinal?

- Minha melhor amiga vai embora, eu acho que tenho todo direito de fumar umas coisas que Gabb guarda na bolsa. – Replicou, puxando o cigarro de volta.

- Para de falar isso! – Reclamei, colocando minha cabeça entre as pernas. Eu não gostava de ficar lembrando a cada minuto que eram meus últimos dias na cidade. A música ainda ecoava pelo apartamento, o disco do Rolling Stones quase no fim e eu sentia que estava chapada demais para conseguir, ao menos, brigar com minha garota.

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