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Antes de começar meu - nem tão triste, mas -, injusto solilóquio, eu queria deixar claro que essa não é uma história feliz, mas também não é uma história triste. É apenas uma coletânea de acontecimentos que, eventualmente, irão surgir na sua vida também. Quando acontecer, você provavelmente nem vai perceber. Você vai até se identificar. Todo mundo, em algum momento da vida, acaba identificando-se com a solidão.
Não se preocupe. Eu não vou morrer em um acidente de carro, ou ter câncer. Nem o cara que eu amei vai morrer no final. Também não vou perder a memória, nem vou esbarrar em um corredor contra um cara super gato. Apesar de eu ter conhecido, alguns caras super gatos. É possível que você até dê umas risadas, mas eu não prometo nada. Eu não sou a pessoa mais indicada para falar sobre risos e piadas, visto que meu humor é um pouco… inexistente e ácido. Não sou mal-humorada, só não sou o tipo de garota que sai por aí sorrindo para as árvores e dando bom dia ao sol.

Era uma quinta-feira, dez horas da manhã, quando uma aglomeração no meio da redação do jornal à beira da falência em que eu trabalhava acabou tirando minha atenção dos documentos (provavelmente) ilegais que eu estava lendo. Ivan e Aghata estavam no centro do local. Falavam alto, gesticulavam excessivamente e todos em volta, sedentos por uma fofoca, pararam para ver.
A história era a seguinte: Aghata, uma das melhores colunistas do Daily, havia aceitado um emprego em outro país, mas ela também tinha acabado de se entender com Ivan, depois de muitos anos de atração, amizade colorida e negação de ambas as partes. Agora, Ivan estava no meio de todas as mesas do jornal, fazendo um discurso patético sobre como ele havia passado por situações mais patéticas ainda para chegar até ali, implorando para que ela ficasse no país, pois ele a amava. Eu não sabia qual merda ele tinha feito, mas sabia que ele tinha feito alguma coisa e também sabia como isso ia terminar.
Depois de fazer o famoso "doce", falando que eles nunca dariam certo, que eram muito diferentes e blá blá blá, ela pularia nos braços dele. Trocariam juras de amor, dariam um beijo apaixonado, todos bateriam palmas e eles terminariam juntos, casados e felizes para sempre.
Essa é a verdade sobre histórias de amor. Elas existem, não são inventadas em filmes ou livros de Nicholas Sparks, porém, nem sempre existe um "felizes para sempre".

Existe um "felizes até os primeiros seis meses".
No meio do caminho, acontece a complicação e pronto, fim do amor eterno. Aí vem os dois meses de fossa e então, já é o tempo de sua próxima história de amor começar.
É claro que eu não quero generalizar, não quero dizer que o que eu falo é lei, eu apenas falo por experiências reais e pessoais. As pessoas têm tendência a achar que histórias de amor são de apenas duas pessoas que vão ficar juntas para sempre, quando na verdade, toda pessoa vai ter pelo menos quatro ou cinco histórias de amor na vida, contando com as "não-românticas".
Dei uma risada de escárnio quando vi Aghata pular no colo de ivan, beijando-o e juntei-me aos colegas do estágio nas palmas.
Eu sabia que ia acabar assim. Eu estava familiarizada com grandes cenas de demonstração de afeto em público, eu estive presente em algumas delas. Não por que aconteciam comigo (nunca aconteceu), mas eu conhecia pessoas que tinham ótimas histórias de amor.

Eu sempre fui a garota ao lado, a amiga, a conhecida, e pasmem!, já fui até a vilã.
Por onde começar?

Aurora. Era uma garotinha de cabelos loiros que adorava roubar as brincadeiras que eu inventava na pré-escola e fingia que a criação era dela. O garotinho - cujo nome eu não faço ideia - que eu tinha uma paixonite amava minhas brincadeiras, mas a tal da Aurora acabava levando todo o crédito já que eu era tímida o suficiente para não explanar minhas ideias para os coleguinhas.
E então, para o desespero do meu coração de cinco anos de idade, Rorie e o garotinho brincavam juntos de gangorra. E sentavam um perto do outro. E dividiram seus lanches até o oitavo ano.

Pode parecer estúpido, mas essa foi a primeira vez que me senti irrelevante e descartável, mesmo que eu ainda não soubesse o que essas palavras significavam. E eu lembro perfeitamente do que senti. Claro que eu esqueci deles uns dias depois e já estava concentrada em algum outro livro inadequado para minha idade ou uma brincadeira de rua perigosa demais. Mas eu me lembro.
Jude foi uma das minhas melhores amigas na escola. Nós estudamos juntas desde o pré. Ela conhecia Aurora, inclusive. Eu devia perguntar a ela sobre o garotinho. Se ela lembrasse nome o dele, bastava uma pesquisa no Facebook para eu descobrir se ele era o amor da minha vida ou não. Jude costumava ser bobinha e boazinha demais para seu próprio bem, acho que eu fui sua única amiga por um bom tempo. Eu sempre tive um fraco pelos desajustados e oprimidos, afinal.

Loml? | Will grayson Iv Onde histórias criam vida. Descubra agora