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Um gemido de frustração deixou meus lábios no momento em que abri minha porta e vi minha sala/cozinha em estado deplorável. O cheiro de cerveja, cigarro e queijo embrulhou meu estômago e a careta que surgiu em minha face foi instantânea. Até o chão parecia imundo.
Sabia que, mesmo exausta, não conseguiria pregar os olhos enquanto eu não deixasse aquele lugar, pelo menos, habitável. Comecei separando todos os lixos em categorias. Vidros, plásticos, louça suja e restos de comida. Achei que me ocupando com a limpeza, a imagem de William acenando para mim naquele portão de embarque não ia perseguir meus pensamentos. Eu não poderia estar mais errada.

Não conseguia parar de pensar nele e em tudo o que ele me disse naquela madrugada. Em tudo que nós conseguimos fazer em 15 minutos, eu ainda sentia seus toques por todo meu corpo. E o abraço apertado do adeus, tão dolorido. Ainda era difícil acreditar que William era tão apaixonado por mim quanto eu era por ele.

- Vivi? - Bianca apareceu na sala. O rosto amassado e inchado, o cabelo bagunçado, denunciavam seu estado pós álcool. Seus olhos baixos denunciavam uma possível ressaca que estava por vir.

- Oi, como você tá? - Cumprimentei-a. Agachei para pegar uma fatia de pizza que estava grudada no chão e xinguei qualquer um que tenha feito aquilo. Após essa, eu nunca mais arrumaria a bagunça daqueles selvagens.

- Mal, eu vomitei logo depois que você saiu. Chegou agora? - Perguntou-me, confusa ao me ver com as roupas da noite passada.

- Estava com William. - Olhei-a de soslaio, atenta a sua reação. A loira apenas deu um meio sorriso e seguiu para a cozinha, indo em direção a cafeteira. - Fui ao aeroporto com ele e o pessoal da equipe.

- E como foi? Aposto que você chorou. - A loira brincou. Sentou no balcão após pegar uma garrafa de água grande e bebeu na boca mesmo, desistindo da ideia do café.

- Eu sou de chorar com despedidas, realmente. - Debochei, revirando os olhos. - Chorei antes, na verdade. Nós conversamos.

- Como foi? - Perguntei, atenciosa.

- Difícil e... Esclarecedor, como eu imaginei que ia ser. - Enunciei, jogando o saco de lixo do outro lado da porta. Desviei o olhar para Bianca, que encarava a janela em nossa frente, pensativa. - Como você se sente? Tudo bem eu ter ido lá, não é?

- Eu conversei com William ontem, Vivi. Eu pedi desculpas por tudo, falei que no dia do beijo, eu estava confusa e estressada. Acabei usando-o, confundindo tudo e etc. - Explicou.

- Você mentiu para ele, então? - Questionei. Bianca não estava confusa, nem estressada. Ela nutria sentimentos verdadeiros por William, eu sabia disso.

- Claro! Vivi, é você. Ele é louco por você. E você nunca esteve tão apaixonada e uma pessoa nunca gostou tanto de você como ele. Talvez Luke, mas ele foi otário e estragou tudo. - Exclamou e gargalhei ao notar ressentimento contra Luke em sua voz. - Eu conversei com Gabriel ontem, sobre algumas coisas. Relacionamentos, a história dele com a ex...

- E você chegou a alguma conclusão?

- Ele falou tudo o que eu estava sentindo sem nem saber, Vivi. - Soltou uma risadinha, quase envergonhada. - Eu não sei como ele entrou na minha cabeça dessa forma. Mas cheguei à conclusão que eu não posso forçar William a ter sentimentos por mim, sabe? Eu posso ter me apegado ao imaginário de William ser o cara para mim por que eu não tenho ninguém. Ou talvez eu realmente tenho sentimentos por ele. Mas tanto faz, não importa! - Exclamou, coçando os olhos. - Eu acho que você não percebeu, mas vocês já estão em outro patamar! Seria desrespeitoso da minha parte ficar entre vocês agora. Por isso, eu pedi desculpas a ele. E tenho que pedir a você também.

- Você não tem que pedir nada, Bianca! - Retruquei, arrancando as luvas de plástico das minhas mãos e fui até a loira. - Tudo o que eu fiz foi por você, sim! Mas também foi por espontânea vontade minha.

- Exatamente, você fez por mim. Você faz tudo por mim desde quando nos conhecemos! Está na hora de me deixar retribuir e fazer algo por você também. E William é o começo da minha quitação com você.

O olhar carinhoso que eu via na face de Bianca era o motivo de eu não ter dúvidas em relação a mulher. Ela era minha relação mais recíproca, verdadeira. Assim como todos os relacionamentos do mundo, tínhamos nossas diferenças e algumas desavenças, mas no final do dia, ela era por mim. Me matava notar que Bianca Fane, minha melhor amiga, a garota mais bonita do colégio, era tão (ou talvez mais) solitária que eu. Eu não precisava dizer que ela poderia ser muito mais, porque ela já era algo de outro mundo. Mas ela merecia mais, muito mais.
Impactada com as palavras da loira, estanquei no lugar. Estive tão presa em meu egoísmo e em meu mundo que nunca notei a solidão de Bianca. Nunca notei que a garota tinha tantas histórias de amor falhas quanto eu. E foi por puro azar que a vida fez nós nos encantarmos pela mesma pessoa. Larguei a vassoura e ignorei a limpeza e fui sentar ao seu lado, no balcão. Abracei-a pela cintura, antes que eu pudesse falar alguma coisa, ela enunciou:
- Desculpa por ter feito você desistir dele por mim. Eu sei que compliquei tudo para vocês. - Murmurou, de cabeça baixa.

- Eu faria tudo de novo. - Afirmei, convicta. Encostei meus lábios em sua bochecha e recebi um delicado afago no cabelo. - Eu faria qualquer coisa para você ser feliz, Bianca.

- Eu não mereço isso, Violet . - Retrucou, sentida.

- Você salvou minha vida algumas vezes, pode ter qualquer homem que você quiser! - Exclamei, bem-humorada. Fui bem-sucedida na missão de arrancar uma risada da moça ao meu lado.
Isso era eu e Bianca. Como eu disse a algum tempo atrás, sem muitas complicações. Eventualmente, tudo ficava bem.

- Esse é o preço da sua vida? Homens? Porque eu acho que você vale o preço triplo de todos os homens do mundo. - Bibi exagerou nas estatísticas e acabamos gargalhando juntas.

- Esse é o melhor elogio que uma feminista pode receber! - Sorri quando ela encostou a cabeça em meu ombro. Olhei em volta, prestando mais atenção a minha volta do que o normal.

O lugar ainda estava um nojo, mas o silêncio das 6h da manhã trazia uma calmaria necessária a nós duas, Gabriel ainda dormia no chão em frente a porta do banheiro e nossas janelas de vidro gigantescas nos ofereciam o nascer do sol como um espetáculo particular. Parecia perfeito.
Eu, ela e nosso pequeno (e imundo) mundinho.

Loml? | Will grayson Iv Onde histórias criam vida. Descubra agora