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- Gabriel, cadê você? – Bianca gritou, irritada e com razão. – Eu já liguei mais de dez vezes e você não me atendia!

Gabriel e Bianca decidiram ser parceiros em três projetos: Dois fotográficos e um audiovisual. Os dois primeiros estavam quase prontos, o terceiro, e o mais complicado, seria trabalhado naquela tarde mesmo, mas Gabb estava quase uma hora atrasado e ele quase nunca se atrasava. Bianca sabia que havia algo errado, mas não pôde evitar sentir raiva. Aquele dia já estava sendo um dia infernal e mal havia começado.

- Eu sei, Bibi. Mil desculpas, de verdade. Juro que explico tudo quando eu chegar. – Ele parecia mesmo estar chateado, então Bianca achou melhor não duvidar.

- O estúdio está fechado, não tem como esperar você aqui! – Olhou em volta, vendo todos pegarem suas bolsas e saírem para o almoço mais cedo, devido a uma manutenção interna.

- Tem como você ir para a minha casa? As fotos estão lá mesmo. – Sugeriu, quase arrancando seus próprios cabelos, vendo um trânsito infernal se formar na 10ª avenida.

Era quase horário de almoço, era normal o acúmulo de carros naquele horário. Mas após perceber que nenhum carro havia se movido, Gabb achou melhor olhar no celular, para tentar entender o porquê de o trânsito estar completamente parado. Segundo um aplicativo, havia acontecido um acidente de carro no início da 10ª, próximo de onde ele estava. Gabriel suspirou e não pensou duas vezes antes de entrar em uma rua alternativa para tentar facilitar sua chegada em casa.

- Mas... – A Loira tentou refutar, mas foi interrompida pela voz abatida de Gabb.

- Eu já estou no caminho de casa, chego logo! – Gabriel largou a mão na buzina quando um carro tentou cortá-lo. Já não bastava a noite terrível que tivera, agora tinha que lidar com babacas que claramente compraram a carteira de motorista.

- Tudo bem! – Cedeu, não tinha nada a perder. O dia não estava ruim apenas para Bianca, ela notou. Todos estavam lidando com altas doses de estresse naquele dia. Eles só não sabiam que iria piorar. – Como eu vou entrar?

- Tem uma chave reserva debaixo do tapete da entrada. – Informou.

- Ok, você não tem cachorro? – Bianca perguntou, preocupada.

- Não. Quer dizer, eu tenho o Will IV. – Respondeu, rindo e fazendo-a rir também, mas ela sabia que William estava longe de ser o tipo de cara que pode ser chamado de cachorro. Despediu-se de Gabb e fez seu caminho até sua moto.

Já fazia um tempo que Bianca vinha tendo a sensação que William Grayson estava ocupando um espaço maior que o necessário em seus pensamentos. Desde então, sentia-se incomodada com ele. Exceto, na noite passada.
Ela só estava tomando seu sorvete de chocolate tranquilamente, pensando em como o dia seguinte seria corrido, mas assim que ela o viu saindo sorrateiramente do quarto de Vivi, não conseguiu não fazer piada. Deveria ser só isso. Eles dariam umas risadas, desejariam boa noite e cada um para o seu canto. Certo? Por educação, ela ofereceu o sorvete. Talvez também por educação, ele aceitou. Após ficarem uns bons segundos em silêncio, iniciou-se uma conversa cheia de risos, intimidade e até alguns flertes. Era inevitável, William era um cara lindo, agradável, engraçado e fazia tempo desde que Bibi tivera uma conversa tão boa. Aquela conversa baixinha, sobre assuntos meio sérios, mas com algumas piadas. Conversa com compreensão.
Conversa olho no olho. Todos os caras que ela conversava nos últimos tempos pareciam tão superficiais, exceto Will IV, agora ela sabia.
Geralmente, Vivi era a única que Bianca conseguia entrar nesse tipo de conversa profunda. Quis se estapear quando percebeu que estava dando em cima do cara que tinha acabado de sair de uma provável transa com sua melhor amiga. Em um dado momento, ficaram em silêncio, apenas se encarando ocasionalmente. E a gota de chocolate ali, pendurada no lábio dele. Bibi não sabe o que deu nela para ter a coragem e audácia de limpa-lo e ainda levar seu dedo a própria boca. Fora o contato mais íntimo que tivera com o cantor, e ao notar o olhar surpreso dele e a dimensão do que estava fazendo, ficou nervosa. Desviou o olhar, tentou brincar, mas o estrago estava feito. Ela havia criado um clima. Deu a desculpa que já estava tarde e quase expulsou o coitado do apartamento. E ele, com toda sua educação e carisma, apenas sorriu em compreensão e deu-lhe um beijo na testa.
Seria tão melhor e mais fácil se ele fosse um babaca.

Precisava acabar com isso, antes que sua impulsividade falasse mais alto. Era bem verdade que desde o aniversário de William, Bianca vinha olhando para o rapaz com outros olhos. Não sabia bem o que era, mas sempre queria estar perto dele, sempre queria chamar sua atenção. Amava quando o rapaz lhe dava toda a atenção do mundo, como no dia na praia, em que William percebeu uma Bianca mais quieta e parou de beber e conversar com todos para perguntar o que lhe afligia. Bianca talvez ainda estivesse sentida por toda a discussão com o pai, mas a mão de William no ombro dela, acariciando-a enquanto a garota desabafava, fez uma diferença e causou uma mudança de sentimentos inesperada nela.

Quando chegou até a casa de Gabb, A Fane estava decidida a ignorar qualquer pseudo sentimento que ela poderia estar tendo por William. E seria até fácil, se o mesmo não estivesse deitado no sofá de Gabriel, assistindo TV. Sem camisa. Rindo do Bob Esponja.
Ela pigarreou. Não para chamar atenção dele, mas porque sua garganta tinha ficado completamente seca naquele segundo. Ele a olhou, assustado por uns segundos, mas depois abriu um sorriso, aquele sorriso.

- Oi, Bianca. – Sentou-se no sofá e diminuiu o volume da TV, olhando-a. – O que você está fazendo aqui?

- Eu vim... Trabalho. Gabb. – Ele soltou uma risadinha e ela se sentiu estúpida por ter engasgado. Bianca nunca engasgava, não gaguejava, não se sentia envergonhada. Ela odiou sentir isso, olhar para alguém e se sentir nervosa não era algo que ela queria. Devia ser o contrário. Era como sempre acontecia, afinal. – Ele não me disse que você estava aqui.

- Ele provavelmente acha que eu já não estou mais aqui. – Ela se aproximou e sentou no sofá, mesmo que seu inconsciente estivesse dizendo para não fazer isso.

- Ou ele disse e eu não entendi. – Riu, lembrando de Gabb falando sobre cachorros e citando William. – Está fazendo o quê? Espera, eu sei o que você está fazendo... Você entendeu. – Bianca enrolou-se com suas próprias palavras, acabou ficando ainda mais envergonhada. Jogou a bolsa do seu lado e aproximou-se ainda mais de William. Sua consciência parecia gritar "saia daí agora".
Bianca ignorou sua consciência.

- Gabb tem pacote de canais infantis e eu não. Logo, aqui estou. – Apontou para a TV, onde ainda passava Bob Esponja. Bianca achou fofo que ele parecia meio envergonhado. Ela só não sabia se era por causa do Bob Esponja ou por causa dela. Esperava que fosse por causa dela. Deu uma olhada rápida para a TV, mas ela não estava interessada na ganância de Seu Sirigueijo.
Ela tinha a própria ganância para lidar agora.

- Tudo bem? Como foi no trabalho hoje? – Perguntou, diminuindo o volume da TV e voltando toda a sua atenção a ela.

Bianca ouviu William fazer a mesma pergunta para Vivi à alguns dias atrás e até ousou pensar que ele poderia vê-la do mesmo jeito que via Vivi. Sua mente dizia que aquilo não era nada demais, que William era apenas educado, mas o seu coração…

Não conseguiu evitar colocar-se no lugar de Vivi por alguns segundos, sua mente trabalhou rápido demais. E se fosse ela quem beijasse William naquela noite no Carté? Ele a levaria para jantar na beira do rio?
Ficaria acariciando sua perna e colocaria o braço em seus ombros por puro costume? Será que a relação de William e Vivi era real? Será que eles realmente se gostavam ou só gostavam de curtir um com o outro? Era uma das maiores curiosidade de Bianca. Ela via os raros beijos que os dois compartilhavam quando não estavam sozinhos, eram leves e dóceis. Via o carinho que Will IV sentia por Vivi, via o cuidado que ele tinha com ela. Mas e quando estavam?
Quem eram Violet Valentine e William Grayson quando estavam sozinhos?

William, sempre tão atencioso, devia escutar com prazer cada palavra que Vivi falava. Ou então, William, sempre tão carinhoso, também poderia ser o motivo de estarem sempre no quarto. Pedindo perdão pelo termo, senhoras e senhores, mas a curiosidade é foda. O problema é ainda maior quando a curiosidade e o desejo estão de mãos dadas.

Bianca entrou em um grande conflito interno. A última vez que tinha ficado tão confusa foi com Michael, o fotógrafo, seu último relacionamento sério. Razão e coração brigavam insistentemente.
O rapaz nunca tinha expressado segundas intenções com ela. Sempre fora respeitoso e gentil, talvez por isso ela estivesse confundindo as coisas. Ponto para a razão.

Mas ele a olhava de uma forma diferente. Toda mulher sente quando um homem a olha diferente. Ponto para o coração.

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