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Era segunda-feira e eu estava cheia de coisas para fazer em casa. Bianca já tinha enviado várias mensagens, querendo saber minha localização. Eu precisava voltar para casa, então avisei a William que tinha que ir embora e ele insistiu em me levar.

- Sério, linda. Você não parece bem e eu ainda estou preocupado com esse seu sonambulismo recente. – Enunciou, enquanto vestia uma camisa. – Não vou deixar você dirigir assim.

- Como você sabe que é recente? – Cruzei os braços, questionando-o. Eu não quis colocar minhas roupas novamente, então coloquei um short que eu havia deixado na casa de William, coloquei minhas meias e permaneci com sua camisa.

- Dormi com você nos últimos três meses e nunca tinha notado nada. Imagino que seja recente...
Espantei-me com sua fala. Três meses? Eu estava saindo com William à três meses? Pode parecer pouco, mas para uma garota com o histórico como o meu, já era o suficiente. Fez-me pensar no meu último relacionamento sério e na sua duração.

Eu tinha namorado com Luke durante um ano, oito meses e cinco dias. Em comparação com o último (e único) relacionamento de Bibi – que durou três anos –, parecia bem pouco. Mas algo nos meus três meses com William parecia ser a mesma quantidade dos meus dias com Luke.

- Três meses? Jura? – Questionei, ainda surpresa demais. Eu podia jurar que era menos. Entretanto, quando eu parava para pensar em nós, eu esperava que fosse muito mais.

- Você deve me achar um idiota por saber a quanto tempo estamos juntos, não é? – Indagou. Estava com o sorriso típico de Grayson. O rapaz tinha a ousadia de falar certas coisas, mas suas bochechas avermelhadas explanavam o cara doce e gentil que ele era.

- Estamos juntos? – Descruzei os braços e coloquei as mãos na cintura, com as sobrancelhas erguidas. Perguntei de novo, dessa vez, foi apenas para perturbá-lo.

- Violet ! – Exclamou, revirando os olhos quando percebeu que eu estava claramente o zombando.

- Me leva para casa, baby. – Ordenei, beijando seus lábios rapidamente e jogando as chaves do meu carro para ele.

- Você está bem mesmo? – Perguntou mais uma vez, parecendo genuinamente preocupado enquanto seguíamos para fora da casa.

- Só estou cansada, Will IV. – Garanti.

E eu estava mesmo. Fui o caminho inteiro deitada no banco de trás do meu carro e dormi de novo quase imediatamente. O dia inteiro tinha sido um borrão e agora eu estava ainda mais confusa em estar no meu quarto. Apertando meus olhos para ter a certeza que o cômodo em que eu estava era realmente meu quarto, passei a mão na testa, arrancando um post-it que estava preso lá.

"Você apagou de novo. Sério, estou preocupado. Estou escrevendo na sua testa e você nem se mexe. Me liga quando acordar.
Will IV."

A caligrafia torta de William fazia-me crer que ele realmente tinha escrito aquilo apoiado em mim e eu não senti nada. Procurei pelo meu celular e não achei. O relógio na minha parede mostrava que já era uma da manhã. Eu estava no meu quarto e definitivamente não lembrava de ter vestido os meus pijamas. Será que William me trouxe? Levantei, ignorando a dor de cabeça e fui procurar bibi, na esperança de que ela pudesse me dizer o que estava acontecendo comigo, mas eu nem me atrevi a sair do quarto. Ignorei a sede, sentindo minha garganta ainda mais seca ao ver a cena a minha frente.

Eles estavam sentados, um de frente para o outro. Separados pelo balcão da cozinha, inclinados na direção um do outro. Olhavam-se de um jeito diferente, eu não sabia explicar. Não falavam, apenas dividiam um pote de sorvete. Seria algo inocente, se não fosse pelos olhares compartilhados a cada colherada. O sentimento de deja vu atacou-me ferozmente. Aquilo já tinha acontecido tantas vezes, toda vez parecia a mesma cena com pessoas diferentes.

Um movimento rápido me pegou desprevenida e pelo olhar surpreso, fisgou William também. Bianca esticou o braço, limpando com o polegar, um traço de sorvete que se acumulou no lábio inferior do cantor. Ela levou o dedo até a própria boca, sugando o liquido e abaixou o olhar para o pote de sorvete. Naturalmente. Como se fizessem isso todos os dias. Soube que eu precisava voltar ao quarto quando notei seus olhos se encontrando novamente.

Fechei a porta com cuidado, evitando fazer barulho para não ser notada. Eu piscava insistentemente, pois não podia chorar. Eu não ia chorar. Aquela tristeza conhecida instalava-se dentro de mim e mesmo parecendo ser uma velha amiga, eu não podia deixar ela fazer-se presente. Seria fatal para minha sanidade. Parte de mim queria ir até lá, quebrar todo aquele clima que tinha se instalado ali. Mas a outra parte de mim, (a parte boazinha) sabia que quando tinha que acontecer, até os ventos sopravam a favor.
Eu acabaria sendo mais uma peça descartável naquela história.

A noite fria e meu coração machucado fizerem encolher-me mais na cama, cobrindo-me quase que completamente. Queria sumir do mundo por alguns minutos. Estava magoada, triste, com raiva e com o ego ferido. E para piorar, o sono tinha se esvaído completamente. Justo agora que eu precisava ficar fora de ar por um tempo. Como queria voltar a dormir, procurei pelo antigo remédio, aquele que me fazia dormir instantaneamente. Engoli a cápsula sem nem tomar água e me joguei na cama.
Não conseguia entender como diabos eu tinha parado em uma outra história de amor que não era minha. Não entendia como eu tinha acabado presa em um escritório fazendo o que eu odiava. Não entendia minhas notas estarem cada vez mais baixas. Não estava entendendo como, em um minuto, eu estava na casa de William, com ele inteiramente para mim. E no outro minuto, eu tinha voltado a ser uma garota solitária e bagunçada, a coadjuvante. Então, algo triste aconteceu: Eu desisti de novo.
Só que dessa vez de algo maior que uma simples vontade. Desistir de algo mais forte que eu seria fatigante.

No dia seguinte, acordei grogue, tão zonza que devo ter passado quarenta minutos sentada na beira da cama, tentando entender que eu era uma pessoa. Comecei a pensar em como o dia anterior tinha sido um grande borrão e eu sentia que tinha tido um pesadelo. Encarei a caixinha azul em meu criado mudo, a faixa preta em volta do medicamento quase gritava comigo. Bati a mão na testa várias vezes.

Burra, burra! Eu era uma garota estúpida! Preferia passar por maus bocados e prejudicar minha própria saúde, do que lidar de forma racional e madura com meus problemas.
Eu tinha entrado em piloto automático. Com muita dificuldade, consegui tomar banho e arrumar-me para o trabalho. Passar o dia no jornal ouvindo o diretor gritar comigo por conta da perda de papéis do dia anterior fora mais fácil do que pensei. Os efeitos do remédio ainda estavam pelo meu corpo, deixando-me anestesiada. Perder aqueles malditos papéis acabou atrapalhando o trabalho de todo mundo e acabei sendo hostilizada e ignorada pelo resto do dia. Ainda tive que aguentar a arrogância e o desdém do babaca de Jay nollan.

Quase suspirei de alívio quando Jay me mandou ir embora mais cedo novamente, mas minha respiração travou e minha cabeça quase explodiu quando eu lembrei que teria que ir para a universidade lidar com o Conselho, que queria minha cabeça numa bandeja e todo o dinheiro investido em mim de volta.

Acontece que a minha faculdade era patrocinada pelo governo e quando eu não atingi as médias altas, agora eu era perda de tempo para eles, desnecessária. Agora o Conselho me pedia explicações do porquê da queda no meu desempenho e eu não sabia como me defender. Não sabia como dizer que eu não tinha mais interesses, motivos e vontades. Eu sentia meu estômago revirar, estava com muita ânsia, minhas mãos tremiam e eu sentia como se tivessem pedras gigantes dentro dos meus bolsos. Tentei esperar minha respiração normalizar para ir, mas quando percebi que nada iria mudar, liguei o carro e saí mesmo assim.

No meio do caminho, eu vi meu pai. Gritava no banco de trás, mandando-me olhar para frente. Ao seu lado, minha mãe chorava e dizia que sentia minha falta. Quando virei para frente, subitamente, já não estava mais a avenida, apenas um policial covarde levantando a mão para me bater. A bofetada dele doeu pelo meu corpo inteiro. Então, entre a gravação da melodia de uma música inacabada de William e alguma canção do Radiohead, senti minha cabeça pesar abruptamente. Então, eu apaguei.

Loml? | Will grayson Iv Onde histórias criam vida. Descubra agora