Capítulo 1: Escola Nova

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Nervosa, ansiosa e preocupada, era assim que eu me sentia naquela noite de domingo. A mudança estava iminente, e logo cedo toda a família se mudaria para o centro da cidade. O fato de que a mudança girava em torno de mim me incomodava profundamente. No interior, as alunas do 9º ano costumavam continuar seus estudos na escola do bairro. Mas minha família queria que eu tivesse "as melhores oportunidades" e, por isso, fui "matriculada na melhor escola do centro, o Instituto Vidal", como minha mãe sempre dizia, mesmo sendo apenas uma escola pública comum.

O problema não era a escola em si; era o sentimento de que o mesmo sofrimento me esperava em qualquer lugar. Meu maior pesar era deixar a casa onde sempre vivi, meu porto seguro. A ideia de que o motivo da mudança era estudar em uma escola distante me atormentava.

Uma parte de mim, a mais otimista, esperava que, por ninguém me conhecer nesse novo lugar, talvez eu escapasse do bullying e do isolamento social que sempre vivi. Talvez as pessoas me recebessem melhor. Ou, quem sabe, fossem ainda mais cruéis do que os conhecidos.

Eu abraçava meu ursinho de pelúcia, tentando ignorar as piores possibilidades. A partir de amanhã, minha vida seria completamente nova, para melhor ou para pior. Eu seria uma aluna nova no 1º ano do Ensino Médio em uma escola no centro da cidade. Minha mãe me garantia que tudo seria melhor agora, pois eu não teria que carregar os preconceitos que já tinham sobre mim.

Nunca entendi por que sofria tanto bullying. Não era a mais inteligente nem a mais burra da sala, não era a mais gorda nem a mais magra. Apenas não era bonita. Era um pouco infantil, talvez, e bastante insegura, com certeza. Mas isso não deveria justificar o olhar de reprovação que recebia, como se eu fosse uma doença contagiosa. O bullying começou no Ensino Fundamental e nunca parou, isolando-me e humilhando-me sempre que podiam. Meu medo era que a história se repetisse na nova escola.

Com esses pensamentos martelando na cabeça, tentei me concentrar em possibilidades positivas. Talvez eu encontrasse uma verdadeira amiga, quem sabe um namorado, e, quem sabe, pudesse dar meu primeiro beijo, igual ao do final de "O Diário da Princesa." Talvez eu me destacasse como a melhor aluna da turma. Nessa noite, prometi a mim mesma que iria tentar ser uma garota normal. Socializaria, faria amizades e evitaria conflitos. Eu prometi que desta vez seria diferente.

Chegamos ao novo apartamento, que era pequeno, mas tinha uma vista decente da escola. Os móveis estavam no lugar e quase tudo estava arrumado. Minha mãe tinha feito a maior parte do trabalho no dia anterior. Hoje, apenas nos instalávamos. Eu precisava me organizar rápido, pois queria estar pronta para a escola às 13h em ponto.

- Raquel, seu quarto fica naquela porta!

- Tá certo, mãe! Vou começar a arrumar minhas coisas.

- A caixa com suas roupas e outros itens já está lá dentro. Se você tivesse deixado, já teria tudo pronto, mas como você queria fazer do seu jeito... tá tudo aí. Faça como quiser!

- Obrigada, mãe! Depois, pede pro pai para trazer minha mochila, que eu esqueci no carro.

- Qual mochila? A do material da escola ou a outra?

- As duas.

- Certo.

Entrei no quarto e senti um alívio ao ver que era bem iluminado, com uma janela branca que oferecia uma vista da nova escola. Era até agradável. Organizei as roupas e meu PC, e me preparei para o novo começo. Depois do banho, vesti o uniforme sem graça da escola. Tentei pentear o cabelo, mas ele estava tão seco e volumoso que parecia ter vida própria. Olhei para meu rosto, cheio de espinhas, e meus dentes tortos. A sensação de desconforto foi inevitável.

Quando o relógio marcou quase meio-dia, minha ansiedade estava no auge. Olhei novamente para o espelho, tentando me convencer de que estava tudo bem, mas a imagem refletida parecia tão distante do ideal de beleza e popularidade que eu almejava. Mesmo assim, respirei fundo e saí do quarto.

Na cozinha, minha mãe preparava algo com rapidez, enquanto meu pai, visivelmente cansado, organizava as últimas caixas. Eles me desejaram boa sorte com sorrisos encorajadores. Agradeci, mas sabia que aquelas palavras não eram suficientes para acalmar meu nervosismo. Pensava em como seriam as pessoas que eu encontraria na escola, se seriam tão duras quanto as que conheci anteriormente.

Às 13h em ponto, saí de casa com a mochila nas costas e um misto de expectativa e receio no coração. A escola parecia imensa e um pouco intimidadora. Senti um frio na barriga ao cruzar o portão principal, pronta para enfrentar o desconhecido.

O interior da escola parecia um turbilhão. Corredores movimentados, grupos de alunos conversando, e a sensação de estar completamente fora de lugar. Estava decidida a seguir minha promessa e me encaixar. Enquanto procurava minha sala, ouvia conversas e risadas desconexas que, embora fragmentadas, pareciam formar uma melodia própria, um ritmo que eu ainda precisava aprender a acompanhar.

Finalmente, encontrei minha sala e entrei. O olhar curioso de alguns colegas me fez sentir ainda mais ansiosa, mas respirei fundo e procurei um lugar vazio. Ao me sentar, meu coração disparou ao pensar no que me esperava. A professora começou a introduzir o conteúdo, e, enquanto tentava me concentrar nas palavras dela, minha mente vagava. Me perguntei se haveria alguém disposto a me conhecer, alguém que pudesse suavizar a primeira impressão e tornar o meu novo começo um pouco mais suportável.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora