A Semana passou tão rápido que eu mal tive tempo de processar tantas informações. Os trabalhos do segundo bimestre já haviam começado, e a rotina escolar estava em plena atividade. Naquela sexta-feira, Erick e Gabriel foram chamados logo depois do intervalo para se prepararem para o jogo. Pouco depois, Gabriel apareceu na porta da sala, já com o uniforme do time. Ele tinha uma postura confiante.
— Vamos lá, Raquel — ele disse com ansiedade.
Seguimos para a quadra, onde os jogadores do Colégio Santa Cruz já estavam preparados, esperando apenas o apito inicial. O time deles era imponente; os jogadores eram grandes, fortes, e exibiam uma confiança quase arrogante. Era como se já tivessem certeza da vitória antes mesmo de começar. Aquilo me deu um frio na barriga. Ao entrar na arquibancada, vi que, além de mim, havia apenas duas outras meninas – as mesmas namoradas de jogadores do time da escola que também foram no ônibus no jogo anterior – e alguns poucos alunos do Colégio Santa Cruz, que vieram acompanhar o jogo.
Os jogadores do nosso time estavam nervosos. Era visível. Gabriel, em particular, parecia decido a dar o seu máximo. Ele não estava ali só para jogar, estava ali para provar algo. Não estava disposto a deixar ninguém tirar dele o posto de centro das atenções. Quando o juiz apitou o início da partida, o clima tenso que pairava sobre a quadra se materializou em cada movimento dos jogadores. Era como se o ar estivesse carregado, e cada passe de bola era uma batalha em si.
Até mesmo eu que nunca me importei com o jogo, me sentia emocionada com cada movimento. Havia algo no clima que fazia tudo parecer mais importante. Esse não era uma partida comum.
O início do jogo foi uma verdadeira disputa de território. Os jogadores se movimentavam rapidamente, mas os passes eram imprecisos, e o nervosismo era palpável. O Colégio Santa Cruz jogava com uma estratégia clara, buscando pressionar nosso time a todo momento, sem deixar espaço para erro. Mas Gabriel estava decidido a fazer um gol nessa partida. Ele corria como nunca, roubava bolas e tentava armar jogadas. A cada tentativa, eu prendia a respiração, esperando que ele conseguisse superar a defesa adversária.
Enquanto o jogo avançava, eu percebia a tensão aumentando. Gabriel estava dando tudo de si, como se sua vida dependesse disso. Ele lutava por cada bola, se lançava em cada jogada, como se estivesse em uma corrida contra o tempo. A cada lance, a irritação nos jogadores do Colégio Santa Cruz se tornava mais evidente. Eles não esperavam tanta resistência. A frustração deles era visível, e a partida se tornava cada vez mais agressiva.
Mas foi Erick quem conseguiu se destacar primeiro. Em uma jogada rápida e inesperada, ele se desvencilhou dos defensores e avançou em direção ao gol. O momento parecia se arrastar, como se o tempo desacelerasse só para aquele instante. Ele se posicionou, preparou o chute, e quando a bola saiu de seu pé, o som foi abafado pela minha respiração presa. O goleiro do Colégio Santa Cruz se esticou, mas a bola balançou a rede, e Erick fez o primeiro gol da partida.
Eu gritei de alegria, mas notei que Gabriel não compartilhou do meu entusiasmo. Ele ficou de lado, os punhos cerrados, a frustração clara em seu rosto. Para ele, aquele deveria ter sido o seu momento de brilhar, e ver Erick roubando os holofotes o deixava visivelmente abalado. Aquele era o jogo em que Gabriel queria se destacar, e ver Erick à frente só aumentava sua determinação — e, ao mesmo tempo, sua raiva.
O Colégio Santa Cruz não ia deixar aquilo passar. Eu percebi um olhar de determinação feroz nos olhos dos jogadores adversários, e meu coração acelerou. Algo estava para acontecer, e eu não sabia o que era, mas podia sentir.
O jogo continuou, e a tensão aumentava a cada minuto. O ritmo estava frenético, e Gabriel não dava sinais de cansaço, mesmo depois de ver Erick marcar o gol. Ele corria mais, lutava mais, como se quisesse provar que merecia estar ali, que poderia fazer a diferença. Mas havia algo estranho na movimentação dos jogadores adversários. Eles estavam focados em Erick de uma maneira quase obsessiva, como se ele fosse o único obstáculo entre eles e a vitória. Meu corpo inteiro estava em alerta. Eu observava cada detalhe, tentando entender o que estava acontecendo.
Então, num piscar de olhos, aconteceu. Em uma jogada aparentemente normal, um dos jogadores do Colégio Santa Cruz se aproximou de Erick. A bola estava a poucos metros, mas ele não parecia interessado em pegá-la. Em vez disso, ele fez um movimento brusco, um chute baixo e rápido que acertou em cheio a canela de Erick. Foi um instante, mas o som foi inconfundível. Eu vi a perna de Erick dobrar de uma maneira estranha, antinatural. Ele tentou dar mais um passo, mas escorregou e caiu, como se todo o peso do mundo tivesse desabado sobre ele.
Eu paralisei. Minha mente não conseguia processar o que meus olhos estavam vendo. Algo estava muito errado. Erick tentou se levantar, mas caiu novamente, e foi então que eu vi. Vi a perna dele, o osso se projetando de uma forma que não deveria estar. Eu senti meu coração parar. Um grito saiu da minha garganta, mas eu não ouvi nada além do som do impacto na quadra e os passos apressados dos jogadores e técnicos que corriam para socorrê-lo.
A quadra se transformou em um caos. Os jogadores do nosso time cercaram Erick, enquanto os do Colégio Santa Cruz ficaram parados, sem saber o que fazer. O árbitro apitou furiosamente, chamando a atenção de todos. Eu queria correr até ele, mas minhas pernas não respondiam. Fiquei ali, parada, assistindo à cena como se fosse um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.Tudo parecia um borrão. A única coisa clara na minha mente era o rosto de Erick, contorcido de dor. Os técnicos e professores tentavam acalmá-lo, mas era evidente que ele estava em choque. A ambulância chegou rapidamente, e os paramédicos entraram em cena, movendo-se com uma eficiência fria que só tornava tudo mais real.
Eles colocaram Erick na maca com cuidado, imobilizando sua perna de maneira que parecia mecânica, mas necessária. E eu só conseguia pensar no quanto ele devia estar sofrendo. Minha mente se recusava a aceitar que isso estava acontecendo.
Os professores me afastaram da quadra, me levando para a sala da coordenação. Eu estava em choque, mal conseguia respirar, meu corpo estava dormente. Minhas amigas, Milena e Vitória, tentaram me consolar, mas eu mal conseguia ouvir suas palavras. Tudo o que eu conseguia pensar era em Erick, em como ele estava, em como tudo mudou em um segundo. Eu não tinha certeza do que sentia, mas sabia que era profundo. Era como se uma parte de mim estivesse sendo arrancada naquele momento.
Foi nesse momento que percebi o quanto ele significava para mim. O medo de perdê-lo, a preocupação que me consumia, tudo indicava o que eu não tinha conseguido ver antes. E agora, enquanto eu estava ali, perdida em meus pensamentos, Erick estava sendo levado para uma sala de cirurgia, e eu não sabia se ele ficaria bem.Os minutos que se seguiram foram intermináveis. As palavras do coordenador eram apenas um ruído de fundo, enquanto minha mente revivia cada segundo daquele jogo, cada detalhe que eu pudesse ter perdido. O jeito como Erick se esforçou, o olhar de determinação, o sorriso de satisfação ao marcar o gol... tudo fazia sentido agora. E, ao mesmo tempo, nada fazia sentido.
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Entre Ódio e Desejo
RomanceRaquel se muda do interior para a cidade e começa a estudar com Milena, uma garota popular e carismática. No entanto, Raquel se vê atraída por Erick, o namorado dela. Enquanto Erick usa Milena para satisfazer seus próprios desejos e alimentar seu eg...