Capítulo 74: Eu Sei

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A aula tinha acabado, e eu estava indo em direção ao portão quando vi o Ricardo pelos corredores. Ele estava com uma pasta na mão e parecia estar à procura de algo. Decidi me aproximar.

— Oi, Ricardo! — chamei, acenando.

Ele sorriu ao me ver e se aproximou.

— Oi, Raquel. Como é que você está? — perguntou, com um tom amigável.

— Dentro do possível... E você? — respondi, tentando esconder um pouco da ansiedade que estava sentindo.

— Na mesma. Só vim resolver uns assuntos sobre as notas do Erick. Já me disseram que, como ele é do time, ele vai ficar com média 6 nas matérias e eu já entreguei o atestado. Então, está tranquilo.

— Que bom. — disse, aliviada. — Na verdade, eu queria aproveitar que você está aqui e conversar um pouco com você, se não for incomodar.

— Claro, sem problemas. Vamos ali naquele banco, onde fica mais calmo. — ele sugeriu, apontando para um canto mais isolado do pátio.

Nos dirigimos para lá e nos sentamos. O lugar era tranquilo, longe do burburinho dos alunos.

— Então, o que você queria conversar? — perguntou Ricardo, olhando-me com curiosidade.

Eu respirei fundo antes de falar.

— É que eu e o Erick, bem, eu acho que você já sabe sobre nós... — comecei, tentando encontrar as palavras certas.

Ele deu um sorriso compreensivo e acenou com a cabeça.

— Sim, eu sei. Relaxa, eu estou a par de tudo.

— Tudo... tudo? — perguntei, um pouco surpresa.

— Tudo, tudo. O Erick sempre foi muito aberto comigo. A gente conversa sobre tudo. Quando eu estava fora, ele nunca deixou de me atualizar sobre a vida dele. Na verdade, ele só me falou sobre a Milena e você e o negócio da carta e etc... só depois daquele jantar em que ele te apresentou pra mim... mas não foi porque eu forcei nada. Eu só perguntei. Foi aí que ele falou da besteira que fez com a Milena só porque disseram que ele não ia conseguir... ele sempre foi competitivo... mas como ele perdeu a cabeça porque se apaixonou por você. Aí ele falou de tudo, de como ele achava que você só queria... a mesma coisa que ele queria com a Milena... mas quando ele percebeu que você não era mesmo desse tipo e que ele realmente queria mais do que só aquilo contigo... aí foi aquela situação lá sobre a carta, ficar sem falar contigo, voltar a falar... ele me contou tudo.

— Ah, é? — falei, tentando entender.

— Sim, ele sempre foi muito próximo de mim. A gente tem um relacionamento muito sincero e aberto. Eu sei que por a gente morar longe, pode parecer que eu sou muito distante dele, mas na verdade, quando eu deixei ele morando com o Davi, a gente começou a ter uma relação de pai e filho bem mais saudável. Então ele falou sobre tudo... sobre o que sente por você... sobre o beijo... sobre tudo.

— E o que ele sente por mim? — perguntei, um pouco nervosa.

— Ele gosta de você, Raquel. De verdade. Ou melhor, ele te ama. Ele fica com um sorriso bobo no rosto só de falar sobre você. E eu vejo o quanto você se importa com ele, e isso é importante para mim.

Eu estava aliviada, mas ainda um pouco preocupada.

— Eu nunca senti o que eu sinto pelo Erick antes. É diferente... principalmente do que eu sinto pelo Gabriel... eu já te falei dele, né? Do Gabriel... meu... namorado? Pois é... eu nunca senti nada por ele... mas ele veio do nada, começou a me chamar de "gata", jogou no Instagram que a gente tinha um compromisso... e eu... fiquei com medo... medo de ser ingrata... tinha medo de terminar com ele e ficar solteira pra sempre.

Ricardo me olhou com empatia.

— Olha, você não é feia, muito pelo contrário. E acima de qualquer coisa, você é responsável! A forma como você cuidou do Davi e se preocupou pelo Erick... faz eu ter certeza que se você e o Erick ficarem juntos... meu filho vai estar com a pessoa certa... Mas esse não é o ponto. O ponto que eu quero chegar é: um relacionamento pode ter muitos sentimentos, mas não medo. Se você sente medo de parecer ingrata, é porque ele deve estar fazendo você se sentir pior do que você realmente merece. E se um cara não te valoriza e ainda faz você se sentir assim, foge dele. Você não é obrigada a ficar com homem nenhum que não te faz se sentir bem.

— É... você tem razão... obrigado! Só que eu nunca terminei um relacionamento antes, e não sei bem como fazer isso.

— Bem, existem formas simples e formas dramáticas de terminar. Você pode falar diretamente com ele e explicar a situação. Ou, se achar que precisa, pode até mesmo terminar na frente de todo mundo para que não haja dúvidas.

— Sério? — perguntei, um pouco chocada.

— É, você pode fazer isso. E se precisar, eu posso ajudar a pensar numa estratégia. E eu estou aqui para apoiar meu filho e você. Se precisar de ajuda, me avisa. Mas não pensa que eu tô tentando te influenciar em nada. Eu quero que você fique com o Erick? Quero. Mas você faz o que achar melhor.

— Eu sei disso. Muito obrigado. Sabe... é muito bom conversar com você.

— Eu também gosto de conversar contigo. — respondeu ele, sorrindo. — Mas... assim... Está um tempo que eu não me meto em coisas de adolescente, mas agora, se é você que está me chamando, vai ser um prazer ajudar. Pode me chamar para o que precisar.

— Obrigada. — concordei, sentindo um peso sair dos meus ombros.

Nos levantamos e nos abraçamos. Eu me senti muito grata pelo apoio de Ricardo e pela forma como ele se importava. Senti que a proximidade com ele era algo muito especial e que o pai do Erick era uma pessoa realmente incrível. Agora, estava mais confiante sobre meu futuro e sobre minhas decisões.

Eu até planejei ir pro hospital à noite, mas precisei ficar em casa para fazer alguns trabalhos da escola. Foi chato, mas a conversa com Ricardo me deixou tranquila sobre as confusões que estavam na minha mente. Eu sabia que Erick estava bem e seguro. E agora tinha a certeza de que eu não precisava ficar com alguém que não fazia eu me sentir bem. Ricardo sem perceber, havia me dito algo que eu sempre precisei ouvir, mas nunca soube.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora