Entre Ódio e Desejo

Capítulo 81: Tem Certeza?

A segunda-feira chegou voando, como eu sabia que aconteceria. Logo cedo, mandei uma mensagem para Gabriel pedindo para a gente conversar na escola. Ele respondeu rápido, animado, cheio de expectativas. Mal sabe ele o que vem pela frente. Eu estava decidida. Não dava mais para adiar isso.

Quando o vi se aproximando, sorrindo como se o mundo fosse dele, já fiquei preparada para o pior. Ele sempre teve essa confiança meio desmedida, como se tudo e todos ao redor dele fossem apenas parte de algum plano grandioso que ele havia criado.

– E aí, Raquel – ele disse, já se aproximando para me abraçar. Mas eu dei um passo para trás. – Qual foi? Tá na defensiva por quê?

Respirei fundo. Sabia que essa conversa não seria fácil, mas era necessária. Olhei nos olhos dele, firme.

– Gabriel, a gente precisa terminar.

Ele piscou algumas vezes, como se não estivesse acreditando no que ouviu. Por um segundo, ele congelou, e depois riu, como se eu estivesse fazendo uma piada.

– Terminar? Ah, qual é, gata? Mas você sempre foi a namorada perfeita. Tá com alguma crise, é? Relaxa, princesa.

A forma como ele falou, me chamando de gata, só me deu mais certeza do que eu precisava fazer. Ele estava usando as mesmas palavras que antes me faziam sentir especial, mas que agora, mais do que nunca, soavam vazias, manipuladoras. O sorriso forçado dele mostrava que ele estava tentando manter o controle da situação, mas eu não estava disposta a jogar o jogo dele.

– Não, Gabriel, dessa vez não. Acabou. Eu não quero mais nada com você. – respondi, sem alterar o tom de voz.

A expressão dele mudou. O sorriso sumiu, e o que surgiu foi uma mistura de incredulidade e raiva.

– Você tá brincando, né? Você sabe que nunca vai encontrar outro cara como eu. Eu fui o primeiro cara que te deu atenção, que te fez sentir bonita. Quem mais vai te querer? – a voz dele começava a subir, e eu só olhei para ele, entediada.

Essas palavras teriam me destruído há alguns meses. Lembrar de como eu me sentia insegura, esperando que alguém, qualquer um, me notasse. Mas agora, ao ouvir isso saindo da boca dele, tudo o que senti foi pena. Pena por ele achar que minha autoestima dependia dele, que eu precisava de sua validação para me sentir bem.

– Ah, é? – respondi, mantendo a calma. – É isso que você acha?

Ele se exaltou ainda mais.

– Claro! Você era feia! Dente torto, cheia de espinhas, cabelo ruim... Eu te valorizei quando ninguém mais te notava! Eu te fiz quem você é agora, Raquel!

Eu continuei a olhar para ele, sem demonstrar qualquer emoção.

– Tem certeza?

Ele começou a gritar, tentando convencer a si mesmo mais do que a mim. A voz dele chamava a atenção das pessoas ao redor, que paravam para assistir à cena. Ele começou a gesticular, exasperado, enquanto eu mantinha a expressão serena, quase indiferente.

– Você é ingrata, Raquel! Eu sou o melhor que você já teve! Quem mais vai querer uma garota que...

Antes que ele pudesse terminar, o coordenador apareceu, cortando a fala dele.

– Gabriel, por favor, deixe de gritos e venha comigo. Agora.

Ele estava furioso, mas sabia que não tinha escolha. Enquanto ele se afastava com o coordenador, percebi que algumas pessoas estavam olhando para mim, sussurrando entre si. Eu esperei que ele estivesse a alguns passos de distância e então o chamei.

– Gabriel.

Ele se virou, irritado.

– Pelo menos, por um instante, você conseguiu o que queria. Foi o centro das atenções.

Ele ficou ainda mais vermelho, tentando responder, mas o coordenador o puxou de volta. Senti uma satisfação tranquila ao vê-lo sendo levado, mas o que realmente aqueceu meu coração foi ver as minhas amigas se aproximando.

– Amiga, tô tão orgulhosa de você! – Milena disse, me abraçando forte.

– Você foi incrível, Raquel – Vitória completou, sorrindo. – A gente tá muito feliz por você.

— Ela é poderosa! — Penha falou rindo.

Enquanto elas me abraçavam, percebi que eu finalmente havia encontrado meu equilíbrio. Eu sabia que poderia resolver minhas questões sozinha, mas também sabia que não precisava passar por nada disso sozinha. Eu tinha minhas amigas, e isso me dava ainda mais força.