Entre Ódio e Desejo

Capítulo 72: Amiga

Após sair do quarto do Erick, me despedi rapidamente do Ricardo e do Davi. Senti que não precisava dizer mais nada, e o olhar do Ricardo me passou uma mensagem silenciosa, como se ele soubesse exatamente o que tinha acabado de acontecer. Era um tipo de cumplicidade que me pegou de surpresa, mas que, de certa forma, me tranquilizou.

Minha mãe também me observou com curiosidade enquanto íamos para o carro, mas não disse nada. Talvez suspeitasse, talvez apenas percebesse que algo tinha mudado. E, na verdade, tudo tinha mudado. Eu ainda estava nas nuvens, revivendo o momento em que o Erick e eu nos beijamos. Foi como um sonho que se tornou realidade, e eu não queria sair dessa sensação tão cedo.

Mas, assim que entramos no carro, e minha mãe deu a partida, meu celular vibrou. Uma mensagem. Gabriel. A realidade começou a se infiltrar lentamente no meu mundo perfeito.

**Gabriel:** Desculpa por tudo, Raquel. Sinto muito, de verdade. Vamos conversar?

Quando vi, foi como se uma nuvem escura se aproximasse da minha felicidade. Eu ainda era namorada dele. Isso trouxe de volta todas as inseguranças, todos os medos que eu tinha mantido afastados nos últimos minutos. E, de repente, a realidade bateu com força.

Já não sabia mais o que sentir. O medo da reação do Gabriel me dominava, e a culpa começou a corroer a minha alegria. Não era justo, não era certo... Eu não queria mais estar com ele, mas a coragem de dizer isso em voz alta me faltava. Eu sentia que estava presa, e essa sensação me acompanhou durante todo o caminho de volta para casa.

Quando finalmente cheguei, fui direto para o meu quarto, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Me joguei na cama e encarei o teto, sentindo o turbilhão de emoções girando dentro de mim. O que eu sentia pelo Eric era tão claro, tão certo, mas ao mesmo tempo, a sombra do Gabriel pairava sobre mim, trazendo insegurança e dúvida.

Tentei encontrar algum lugar seguro dentro da minha própria mente. Um lugar onde os pensamentos não corressem tão rápido, onde eu pudesse, por um segundo, simplesmente... parar. Mas não havia um refúgio. Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo: as dúvidas, as respostas incertas, os medos e as lembranças. Um segundo atrás eu achava que sabia o que estava sentindo, mas no instante seguinte, tudo se desmanchava, como se as minhas próprias certezas tivessem virado areia nas minhas mãos.

Olhei para a mochila ao lado da cama, a que a Milena trouxe hoje. Aquele gesto simples, de levar uma mochila até a casa de alguém, mexeu comigo. Milena não sabia tudo o que estava acontecendo na minha cabeça, mas ela estava lá, sem julgamentos, sem pressa. E foi aí que uma coisa nova, quase estranha, me atravessou: eu não preciso passar por isso sozinha.

Não era a Raquel de antes, aquela que encarava tudo com os próprios punhos fechados, porque não tinha outra escolha. Aquela Raquel ainda estava aqui, mas agora ela tinha um círculo ao redor dela. Pequeno, mas forte. Eu pensei na Milena, em como ela foi a primeira pessoa para quem eu realmente consegui falar sobre o que estava sentindo, sem medo de ser rejeitada ou mal compreendida. Ela estava ali para mim, e isso... isso era novo.

Milena, sempre tão sincera e direta, havia me perguntado sobre o que eu sentia pelo Gabriel, e depois, sobre o que eu sentia pelo Eric. Ela foi tão honesta, tão aberta comigo, sem me julgar, sem me pressionar. E foi ali que eu percebi que ela me entendia, que ela respeitava meus sentimentos. Eu não estava sozinha. Milena me mostrou que eu podia confiar nela, que eu não precisava carregar tudo sozinha, como tinha feito tantas vezes no passado. E talvez... talvez ela devesse ser a primeira a saber do que aconteceu hoje.

A lembrança de todas as vezes que enfrentei minhas batalhas internas sozinha, por medo de falar com minha família, por medo de que se sentissem culpados por algo que tivesse acontecido comigo, me fez sentir uma pontada no peito. Sempre fui tão solitária nesses momentos, mas agora, eu sabia que Milena estava lá para mim.