Capítulo 60: Treinos

0 0 0
                                    

As últimas duas semanas passaram em um ritmo surpreendentemente tranquilo. Erick e eu retomamos a comunicação com certa frequência, embora eu tentasse manter as conversas equilibradas para não despertar ciúmes em Gabriel. A amizade estava se ajustando a um novo padrão.

Eu estava no ginásio assistindo ao treino de time, coisa que Gabriel sempre insistia que eu acompanhasse. Davi estava por ali também, como ele e o irmão moravam sozinhos, ele não tinha com quem ficar em casa e vinha junto. Às vezes, ele estava mais interessado, outras ele preferia cochilar um pouco nas arquibancadas ou jogar o mesmo jogo até acabar a bateria do celular. Hoje, no entanto, ele parecia mais envolvido com o treino, observando os exercícios que o time fazia.

— Ei, Raquel! — Erick me cumprimentou quando se aproximou. O time estava no meio de uma pausa.

— Oi, Erick. — Respondi, tentando soar casual enquanto observava o treino. — Como está indo o treino?

— Está indo bem. — Ele sorriu.

Eu olhei para Gabriel, que estava rindo com os amigos do time.

— O Gabriel insiste pra eu vir, mas o mais importante pra ele é ser os centro das atenções. — Comentei, quase como se aqui tivesse escapado da minha boca. — Às vezes ele passa o tempo todo e não fala comigo.

— Ele gosta de ser visto. — Erick disse com um sorriso afetuoso. — Lembra que no começo do ano a gente até esquecia que ele era da nossa sala? Ele sempre quis isso pra ele... deixa ele aproveitar.

Quando o treino chegou ao fim, Gabriel apareceu, sua presença.

— O que achou do treino hoje, Raquel? — Gabriel perguntou, tentando parecer interessado, mas havia um tom de possessividade na sua voz que eu já estava começando a me acostumar.

— Foi bom. — Respondi, com um sorriso amigável. — O time está se entrosando bem.

Todos foram para os vestiários. Depois de um longo periodo em que Davi já começava a reclamar de fome, todos saíram. Gabriel se despediu me beijando como de costume. Ele segurava meu rosto pela bochecha com uma mão e, depois encostava os nossos lábios. Eu sempre fingia sorrir, mas eu nunca gostava.

Erick chega, chama o irmão e finalmente eu decido que já chegou a hora de ir pra casa.

No dia seguinte, quando cheguei na escola, percebi que algo estava diferente. A agitação era evidente, e não demorou muito para entender o motivo. O cronograma do campeonato interescolar daquele semestre finalmente havia sido divulgado, e todo mundo estava reunido ao redor do mural de informações, curioso para saber quais seriam os primeiros jogos.

Fui até lá, e, ao me aproximar, pude ver a tabela completa. As partidas já estavam todas planejadas, e a expectativa no ar era visível. O campeonato seria realizado às sextas-feiras, uma escolha que parecia prática, já que dava aos jogadores e torcedores o final de semana para descansar. Os jogos se estenderiam até o final do semestre, culminando na grande final, programada para a penúltima semana de aulas.

Os jogos do Instituto Vidal já estavam marcados. Primeiro, enfrentaríamos a Escola Campos Verdes no Colégio Santa Cruz. O segundo jogo seria contra o Colégio Santa Cruz, só que em casa, no Instituto Vidal. O terceiro, que também seria em nossa escola, seria contra o Colégio Ágape. A fase final dependeria dos resultados das primeiras partidas, mas já dava para sentir a tensão crescente entre os alunos.

Eu sabia que teria que me preparar para esses jogos. Gabriel, como sempre, estaria ansioso e, sem dúvida, faria questão de que eu estivesse presente em cada partida, torcendo por ele e pelo time. Embora eu não tivesse um interesse genuíno em assistir aos jogos, era claro que eu não teria muita escolha. Sabia que seria mais fácil ceder do que argumentar com Gabriel, que sempre fazia questão de me arrastar para os treinos, e agora, com certeza, também para os jogos.

Quando Gabriel veio falar comigo, já foi avisando que deveria me preparar para não perder nenhum dos jogos dele. Nasa surpresa, eu disse já estava me planejando.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora