Capítulo 71: Até Amanhã

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Assim que nossos lábios se separaram, o mundo pareceu parar por um instante. Erick e eu permanecemos ali, em silêncio, ainda tão perto um do outro que eu podia sentir sua respiração leve e quente contra a minha pele. Meu coração batia descompassado, como se tentasse acompanhar o turbilhão de emoções que explodiam dentro de mim.

O que acabou de acontecer?

Eu não conseguia entender. Ao mesmo tempo em que me sentia incrivelmente feliz e leve, uma parte de mim estava em choque, como se meu cérebro estivesse tentando processar a ideia de que eu, Raquel, tinha acabado de beijar Erick. O Erick. Há menos de um ano, nada disso passaria pela minha mente, mas hoje tudo era uma realidade.

Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero, e pareceu entender que eu estava perdida em meus próprios pensamentos. Talvez ele estivesse sentindo a mesma coisa, ou talvez estivesse tão confuso quanto eu. Mas antes que eu pudesse dizer algo, fazer alguma piada para aliviar a tensão, Erick colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha com delicadeza, e o gesto me fez arrepiar dos pés à cabeça.

– Você tá bem? – ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de cuidado.

Eu acenei, tentando disfarçar o nó na garganta. – Acho que sim. Só... meio surpresa.

– Eu também.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, o som distante do hospital e as luzes frias ao nosso redor contrastando com o calor do que tinha acabado de acontecer. A mão de Erick ainda estava na minha, o toque suave me trazendo uma sensação estranha de conforto.

– Raquel... – ele começou, mas não terminou a frase. Havia algo em seus olhos, como se ele estivesse tentando encontrar as palavras certas. Talvez ele também não soubesse o que dizer, assim como eu. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas carregava um peso de coisas não ditas, de sentimentos que ainda precisavam ser explorados. O silêncio parecia dar a ilusão de que aquele momento poderia ser eterno.

– Acho que preciso ir... – falei, sem jeito. – É melhor você descansar.

Erick assentiu, e soltou minha mão com suavidade, como se quisesse prolongar aquele toque por mais um instante. Me levantei devagar, ainda sentindo o calor daquele beijo nos meus lábios, como se ele tivesse deixado uma marca que eu jamais esqueceria.

– Até amanhã? – perguntei, com um sorriso tímido, já de pé ao lado da cama dele.

– Até amanhã – ele respondeu, seu sorriso agora mais evidente, embora ainda carregasse uma sombra de cansaço. – Raquel...

– Sim?

– Obrigado.

Saí do quarto com o coração batendo tão forte que parecia ecoar pelos corredores do hospital. Passei pela recepção, onde minha mãe estava esperando, e ela notou algo diferente em mim, mas não perguntou nada. O caminho até em casa foi uma mistura de silêncio e pensamentos agitados.

No meu quarto, sozinha e com a cabeça no travesseiro, tudo voltou à tona. O toque dos lábios de Erick nos meus, seu olhar, as palavras não ditas que ficaram entre nós. Eu sabia que a partir daquele momento, as coisas tinham mudado. Não tinha como voltar atrás, e por mais que isso me assustasse, havia também uma parte de mim que estava ansiosa para ver o que o futuro nos reservava.

Não precisamos falar o que sentíamos, os nossos olhos já contaram tudo um pro outro. Não precisamos pensar sobre o que seria do futuro, nem precisamos criar coragem para mais declarações. A letra da música e o contato de nossa pele falou o que nenhum dos dois seria capaz de dizer usando apenas suas próprias palavras.

Fechei os olhos, tentando acalmar meu coração, mas tudo o que consegui foi sorrir. Porque, pela primeira vez em muito tempo, eu não me sentia mais perdida. Parecia que tudo fazia sentido.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora