A semana passou como um nevoeiro, denso e sufocante. Cada dia parecia igual ao anterior, mas dentro de mim, uma tempestade de pensamentos se formava. Eu me convencia de que talvez gostasse do Gabriel, de que talvez ele fosse o cara perfeito para mim. Mas esse "talvez" parecia ecoar mais alto a cada vez que eu tentava acreditar nele.
Eu me obrigava a sentir algo, a acreditar que o Gabriel era tudo o que eu sempre quis. Ele era o tipo de cara que deveria me fazer feliz. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que algo faltava. Não havia aquela faísca, aquele frio na barriga que eu sempre imaginei que deveria sentir por alguém que amasse de verdade.
Quando estávamos juntos, ele tomava as decisões por nós, decidia onde íamos, o que faríamos. Eu deveria achar isso reconfortante, mas ao invés disso, me sentia pequena, como se minha opinião não importasse. Mas eu me forçava a pensar que isso era normal, que era assim que as coisas deveriam ser. Afinal, ele havia escolhido estar comigo, e eu deveria ser grata por isso.
Um ano atrás, tudo parecia diferente. Nunca vou me esquecer de quando fui encurralada por um grupo de colegas que riram de mim, dizendo que eu nunca namoraria com ninguém. Disseram que eu era feia demais, que era ridícula e sem noção. Palavras que me marcaram profundamente. E agora, eu tinha Gabriel. Eu tinha aquilo que eles disseram que eu nunca conseguiria. Eu deveria estar feliz, deveria me sentir realizada, mas ao invés disso, havia essa insegurança constante, esse medo de que ele percebesse que eu não era suficiente.
Meus pensamentos giravam em torno disso, da necessidade de ser perfeita para Gabriel. Eu queria ser a namorada dos sonhos, a garota que ele merecia. E, com isso em mente, lembrei de uma vez que ele mencionou, casualmente, sobre a minha acne. Não foi cruel, eu não acreditava que ele não fosse esse tipo de pessoa, mas a maneira como ele disse fez com que eu me sentisse pequena, como se aquela fosse mais uma imperfeição que eu precisava corrigir.
Naquela tarde, decidi que ia começar a cuidar melhor de mim. Eu faria o possível para melhorar, para ser a garota que Gabriel queria ao seu lado. Tomei essa decisão com uma determinação feroz, como se isso pudesse apagar todas as minhas inseguranças.
Estava perdida nesses pensamentos quando meu pai me chamou da sala.
— Raquel, vem cá um instante.
Fui até ele, que estava sentado no sofá da sala, esfregando as têmporas com os dedos.
— Estou com uma dor de cabeça horrível — ele disse, sem abrir os olhos. — Você pode ir até a farmácia e comprar algum remédio? Não temos mais nenhum aqui em casa.
— Claro, pai — respondi, já pegando o dinheiro que ele me entregava. — Eu volto rapidinho.
Na farmácia, enquanto procurava pelo remédio, meus olhos se fixaram na seção de cuidados com a pele. Havia tantos produtos que prometiam milagres, tantos potes e frascos coloridos que pareciam gritar meu nome. Um creme para acne, um sabonete especial para o rosto, um gel secativo para espinhas... Antes que eu percebesse, já estava com uma cesta cheia de produtos.
A sensação de controlar algo em minha vida, mesmo que fosse minha aparência, me deu um alívio momentâneo. Eu nunca mais tinha sentido que podia controlar nada. Paguei por tudo sem pensar duas vezes, ignorando o preço que subia rapidamente na tela do caixa. Quando saí da farmácia, me senti estranhamente leve, como se tivesse dado um passo na direção certa.
Chegando em casa, meu pai levantou uma sobrancelha quando viu as sacolas.
— Cadê o troco? — ele perguntou, curioso.
— Eu... acabei comprando algumas coisas a mais — respondi, tentando não parecer nervosa. — Para a minha pele.
Ele olhou para mim por um longo momento antes de suspirar.
— Você sabe que eu não gosto quando você gasta dinheiro sem avisar, Raquel. Mas... eu sei que eu tinha prometido te levar ao dermatologista e não levei. Só... não faça disso um hábito, certo?
Assenti, sentindo um misto de alívio e culpa. Eu não queria decepcioná-lo, mas, ao mesmo tempo, sentia que precisava fazer isso por mim.
No meu quarto, comecei a reorganizar tudo. Queria criar um espaço onde pudesse me dedicar à minha nova rotina de cuidados com a pele, onde pudesse me transformar na garota que Gabriel merecia.
Enquanto mexia nas gavetas, organizando meus novos produtos, meus dedos tocaram algo familiar. Puxei o moletom e, por um momento, todo o ar pareceu sair do meu corpo. Era o moletom de Erick. O cheiro dele ainda estava impregnado no tecido, uma fragrância que imediatamente trouxe à tona memórias do nosso encontro na biblioteca. Na verdade, todos os segundos em que já estive perto dele.
Por um instante, todos os meus pensamentos sobre Gabriel desapareceram. Minha mente se tornou um borrão, confusa e sobrecarregada. Eu estava ali, no meio de um quarto bagunçado, segurando aquele moletom e sentindo o cheiro de Erick, e tudo pareceu parar.
Era como se eu estivesse em um limbo, sem saber o que pensar, sem saber o que sentir. Parte de mim queria jogar a jaqueta longe, queria se livrar de qualquer vestígio dele, mas outra parte, mais profunda, não conseguia. Eu sabia que aquilo era errado. Eu tinha um namorado, e precisava ser fiel a ele. Eu precisava ser perfeita para Gabriel, porque eu tinha que ser grata pelo fato de ele estar comigo, de ele ter me escolhido.
Sacudi a cabeça, tentando me livrar dessas emoções confusas. Dobrei a jaqueta de Erick com cuidado e a coloquei no fundo da gaveta. Eu não podia me deixar levar por esses pensamentos. Eu precisava focar no que era importante. Eu ia ser a namorada perfeita para Gabriel. Eu tinha que ser.
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Entre Ódio e Desejo
Storie d'amoreRaquel se muda do interior para a cidade e começa a estudar com Milena, uma garota popular e carismática. No entanto, Raquel se vê atraída por Erick, o namorado dela. Enquanto Erick usa Milena para satisfazer seus próprios desejos e alimentar seu eg...