Capítulo 13: Olhares

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O despertador tocou e já era segunda-feira, sem que eu tivesse tempo para processar tudo o que aconteceu. Entrei na escola com um misto de ansiedade e apreensão. À medida que caminhava pelos corredores, meu olhar se deteve em uma cena estranhamente nova.

Vi Penha e Erick conversando com uma intensidade que chamou minha atenção. Penha falava com um sorriso malicioso, bem ao ouvido de Erick, como se estivesse com medo que alguém além dele ouvisse. Parecia estar mostrando algo no celular. Enquanto eu passava pelo corredor olhando essa cena, Erick levantou o rosto e olhou diretamente nos meus olhos. Seu rosto de estava sério, extremamente sério, o que me deu um frio na minha espinha. A expressão dele era tão intensa que me fez sentir um calafrio. Sem saber exatamente o que estava acontecendo, eu mudei rapidamente meu foco e apressei o passo para chegar à sala de aula.

Sentei na minha cadeira e fui tomada por uma crise existencial. Meu cérebro estava em um turbilhão de perguntas e inseguranças. Será que Erick sabia que eu ouvi a conversa dele com Maurício? O que exatamente Penha estava mostrando para ele? Lembrei-me do aviso de Penha, que havia me alertado para me preparar, mas para o quê? O que Erick poderia estar planejando ou fazendo? Será que era contra mim?

Enquanto eu lutava contra esses pensamentos, ouvi uma voz me chamando ao longe. O som de palmas me tirou do transe e, ao olhar para frente, vi Vitória bem ao meu lado.

— Raquel, amiga, você está bem? — Vitória perguntou, com um tom de dúvida e preocupação genuína.

— Tô sim. Só estava tentando me preparar psicologicamente para falar na apresentação do trabalho de sociologia amanhã. Sabe como é, né? Eu sou muito nervosa — respondi, tentando forçar um sorriso que não conseguia esconder minha inquietação.

— Sério, me fala. O Erick fez alguma coisa contigo na casa dele? — Vitória perguntou com uma seriedade que não era comum. — A Milena me mandou uma mensagem preocupada, dizendo que você tinha medo de que ele magoasse ela... Agora eu te vejo assim, só pode ter alguma coisa errada.

A pergunta direta de Vitória me pegou de surpresa. Tentei encontrar as palavras certas para explicar sem revelar demais.

— Olha, comigo ele não fez nada — disse eu, procurando me manter calma. — Mas eu ouvi uma coisa que talvez eu tenha ouvido errado. Então, vou esperar até ter certeza se é verdade ou não.

— Mas o que foi? — Vitória insistiu, com um olhar curioso e preocupado.

— Não quero falar disso, amiga — tentei permanecer calma. — Minha cabeça está a mil e eu preciso relaxar, principalmente porque parte de mim ainda acha que eu ouvi errado.

— Você que sabe — respondeu Vitória, um pouco desanimada. — Mas se você descobriu algo comprometedor sobre o Erick e não contar para a Milena, e depois ela sofrer, a culpada vai ser você, e ninguém vai passar pano para você ter ficado calada com medo de ter ouvido errado.

Eu estava prestes a responder quando uma voz conhecida interrompeu nossa conversa.

— Oi, meninas — disse Milena, se aproximando e interrompendo o momento.

— Eu atrapalho? — perguntou, com uma expressão preocupada.

— Não, imagina. A Raquel só me disse que estava com muita cólica hoje e eu estava falando de um remédio que eu uso e que me ajuda muito — respondeu Vitória, tentando mudar o clima para algo mais leve.

— Ah, eu também estou com cólica, eu trouxe um na mochila. Quer tomar agora? — disse Milena, começando a procurar o comprimido na mochila.

— Não, amiga, deixa. Eu já tomei um em casa — disse eu, quase desesperada para evitar mais atenção.

— Tá bem então — disse Milena, com um olhar de espanto, e se sentou na sua cadeira.

A primeira aula passou sem grandes incidentes, mas o intervalo trouxe novas tensões. Quando o sino soou, todos começaram a sair da sala. Erick se aproximou por trás de Milena e a beijou no pescoço.

— Eu já disse que não gosto que você faça isso, me dá agonia — falou Milena, com uma falha tentativa de esconder um sorriso.

— Mas eu gosto — respondeu Erick com um sorriso safado no rosto. — E eu sei que você também gosta.

Eles se deram um longo selinho. Eu observei de canto de olho, sentindo uma mistura de medo e inveja. O olhar que Erick me lançou nos corredores ainda me perturbava. Após o beijo, Erick me olhou e disse:

— Urubu, a gente precisa conversar.

— Eu? Contigo? — perguntei, com clara dúvida e insegurança.

— Sobre o quê? — perguntou Milena, curiosa.

— Nada demais, é só para finalizar uns detalhes sobre o trabalho de sociologia que a gente vai apresentar amanhã.

— Entendi — respondeu Milena, aliviada.

— Vem comigo — disse Erick, começando a andar. Eu o segui, insegura, acenando com as mãos para as meninas.

Eu não tinha ideia para onde Erick estava me levando, e o medo do desconhecido era quase palpável. Erick nunca foi um valentão, mas sua presença imponente e atlética, fruto de sua dedicação ao futebol, fazia o medo crescer dentro de mim. Cada passo que eu dava parecia carregar um peso maior, e a sensação de ansiedade era quase tangível. O que quer que Erick tivesse planejado, eu estava prestes a descobrir, e o medo de todas as possibilidades estava tornando o caminho mais pesado do que eu poderia imaginar.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora