Capítulo 51: Vestiário

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Cheguei na escola sentindo o vento noturno acariciar meu rosto. Estava arrumada, bonita até, talvez até demais só para ficar na torcida. Tudo para tentar suprir as expectativas de Gabriel. Passei a mão pelo cabelo, ajeitando algumas mechas rebeldes, enquanto olhava para a quadra de esportes.

A escola estava escura, mas as luzes da quadra já estavam acesas, destacando o caminho que eu teria que seguir. A quadra ficava em um prédio separado, embora fosse tudo no mesmo terreno. Ela era grande, bonita, e coberta, mas as arquibancadas ficavam desprotegidas. Nunca entendi o porquê, mas sempre me perguntei como seria assistir a um jogo em um dia de chuva.

À esquerda, o prédio dos vestiários chamava minha atenção. Não era imponente, apenas uma construção simples com duas portas, uma para cada vestiário, mas era bem grande. Enquanto me aproximava, vi que as arquibancadas já estavam começando a encher com poucas pessoas, mas não reconhecia ninguém de imediato. Até que, ao olhar mais atentamente, vi Milena e Davi sentados juntos.

- Davi! - exclamei, correndo até ele.

Assim que me viu, Davi se levantou num pulo e correu em minha direção.

- Raquel! Eu tava com saudade de você! - Ele me abraçou com força, como se nunca mais fosse me soltar.

- Eu também, Davi. Fico tão feliz de te ver. - Sorri, acariciando seus cabelos bagunçados.

Milena nos observava, um sorriso suave no rosto.

- Oi, Raquel. - disse ela, com sua habitual doçura. - Está bonita.

- Obrigada, Milena. - Respondi, tentando esconder o desconforto. - E você, como está?

Antes que Milena pudesse responder, os meninos começaram a sair dos vestiários. Todos estavam vestidos com uniformes diferentes, mas nenhum parecia ser oficial. Acho que por ser só um teste, todos foram com a roupa de futebol que já tinham.

Observei enquanto os jogadores se alinhavam na quadra. Gabriel, meu namorado, me viu na arquibancada e fez um coraçãozinho com as mãos para mim. Forcei um sorriso, fingindo estar feliz, mas por dentro, a confusão reinava.

A primeira fase do teste começou com uma correria desenfreada. Havia saltos e movimentos que eu mal conseguia entender, mas percebi que Gabriel era razoavelmente rápido. No entanto, meus olhos se fixaram em Erick. Ele era incrivelmente ágil, sua velocidade me impressionou.

- Ele é muito rápido, não é? - sussurrei para Milena, que apenas assentiu com um sorriso.

Assisti enquanto os meninos eram divididos em quatro times para a segunda fase. Gabriel jogou na primeira partida, mas seu desempenho foi apenas razoável. Quando o jogo terminou, ele veio até mim, suado e sujo, e do nada me beijou na boca. O cheiro forte de suor invadiu minhas narinas, e senti minha roupa ficar grudada ao corpo, suja pelo suor dele.

- Você podia ter torcido de verdade, Raquel. - disse Gabriel, com um tom de desapontamento. - Parece que nem estava ligando para o que estava acontecendo.

- Desculpa... - murmurei, desviando o olhar. - Não quis te decepcionar.

- Pois decepcionou. - Ele se afastou, balançando a cabeça, e voltou para junto dos amigos no vestiário.

Tentei disfarçar o incômodo, mas sabia que não tinha conseguido.

Vi quando ele saiu do vestiário, sem se despedir, apenas acenando à distância.

A segunda partida começou e, dessa vez, Erick entrou em campo. Ele era brilhante, movendo-se como se fizesse parte do jogo. Sua camisa já estava encharcada de suor, delineando cada músculo do seu corpo. Não conseguia tirar os olhos dele, e um pensamento traiçoeiro cruzou minha mente: Erick era muito mais bonito... mais alto... mais habilidoso... mais tudo que Gabriel, especialmente jogando futebol.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora