Entre Ódio e Desejo

Capítulo 14: No Fundo da Biblioteca

Eu o segui sem ter ideia de para onde iríamos até a frente da biblioteca. Ele abriu a porta, esperou que eu entrasse e começou a avançar pelos corredores repletos de estantes de livros. Durante todo esse tempo, eu observava cada passo seu, sem entender o que ele queria e por que não dizia logo o que tinha a dizer.

Quando chegamos à parede mais isolada e distante da porta, onde ficavam os livros que ninguém parecia procurar, ele rapidamente puxou meu braço, me fez ficar de costas para a estante encostada na parede e posicionou seus braços, um de cada lado, me prendendo com sua postura intimidadora.

Ele não me machucou; claramente, essa não era sua intenção. Parecia que ele fazia aquilo apenas para me intimidar e me forçar a revelar o que ele queria saber. Havia raiva evidente em seus olhos, que me encaravam fixamente, no entanto, era visível que também existia algo além disso. Ele estava com o rosto tão próximo ao meu, que eu sentia sua respiração quente. Seu cheiro era marcante. Ele permanecia em silêncio, aparentemente me analisando. Por um milésimo de segundo, quase cheguei a acreditar que ele iria me beijar.

- Por que isso? - perguntei, tentando não demonstrar todo o medo, a insegurança e uma pontinha de desejo que essa situação me causava.

- Eu que pergunto - respondeu ele, quase sussurrando, com uma voz grave e marcada - o que foi que você disse para a Milena ontem?

- Eu? Eu não disse nada - respondi, tentando parecer convincente.

- Disse sim - ele retrucou lentamente com um tom quase desafiador, como se eu acabasse de chamá-lo de mentiroso. - Eu vi as mensagens que a Milena mandou para a Penha, dizendo que você falou que não queria que eu magoasse ela. Anda, me conta, por que eu magoaria a Milena? Por que você tentaria abalar o meu namoro com ela? Fala.

- Eu ouvi - disse eu, com firmeza.

- Ouviu o quê? - questionou ele, com um tom de dúvida genuína.

- Ouvi você conversando com o Maurício e falando que tinha apostado que conseguiria transar com a Milena - comecei, tentando mostrar alguma força.

Ele afastou os braços de perto de mim, começou a sorrir e se afastou, dando leves risadas sinceras enquanto mexia a cabeça em negação.

- Está rindo de quê? - perguntei, realmente confusa.

- Eu não apostei nada - respondeu ele, em um tom de calma sincera. - Eu só disse que, para mim, fazer aquilo com a Milena é como um desafio, mas não tem nada de aposta nisso.

- Mas você não gosta dela de verdade; só quer transar com ela. Fazer com que ela abandone os princípios dela. Você só quer provar para seus amigos que é o machão que consegue a menina que quiser - afirmei, tentando parecer segura.

- Sim, e tem algo errado nisso? - ele disse, relaxado.

- Claro que sim - eu falei, indignada. E antes que eu pudesse dizer outra coisa ele já retrucou.

- Não, não tem. - ele declarou, baixando o tom de voz novamente e se aproximando de mim, ao ponto de eu voltar a sentir sua respiração em meu rosto. - E você vai me ajudar.

- E por que eu faria isso? - perguntei, me esforçando para esconder os efeitos que aquela respiração e o seu cheiro me causavam.

- Você vai me ajudar sim. Vai me apoiar em tudo que eu chamar a Milena, sabe por quê? - ele falava lentamente com um sorriso malicioso, em um tom delicioso de sussurro, olhando diretamente nos meus olhos e para o desejo que eu não conseguia evitar deixar visível no rosto - Porque se não fizer isso, eu conto para a Milena que a melhor amiga dela morre de tesão por mim.

Fiz uma expressão de surpresa, ao passo que ele deu um grande sorriso safado e se afastou um pouco.

- O quê? Mas de onde você tirou isso? - eu queria parecer surpresa, mas parecia uma criminosa descoberta.

- Você sabe que eu percebi o que você fez ontem. Aproveitou que eu não tranquei a porta pra ficar me espiando pelado. - ele falou, sorrindo como um vencedor humilhando aquele que foi derrotado.

- A Milena me pediu para ser legal com você ontem. Mas eu qposto que ela não sabia que a amiga dela, que fala mal de mim, na verdade era uma tarada, que fica olhando os outros atrás da porta. - ele falou em um tom de vitória que me deixou arrepiada.

- Mas se você disser isso, eu vou dizer que é mentira - eu falei, tentando parecer desafiadora.

- Então eu vou falar pra ela que você tranzou comigo ontem e que só falava mal de mim pra tentar separar a gente. - ele falou, mudando sua expressão para séria, mas com um leve sorriso malicioso no canto da boca.

Eu fiquei indignada, mas emudecida. Não tinha ideia de como ele poderia ter pensado em algo tão absurdo. Quando finalmente abri a boca, pensando que seria capaz de dar uma boa resposta, ele falou:

- Você deixou sua roupa, inclusive a sua calcinha, na minha casa. E o meu moletom usado, com o meu cheiro, está na sua casa. - Ele falava com as sobrancelhas sérias, mas um sorriso malicioso na boca, que me deixava ainda mais sem reação. - Eu tenho provas. Provas de uma coisa que não aconteceu, é claro, mas provas.

Ele voltou a se aproximar de mim, dizendo:

- Em quem você acha que ela vai acreditar? No lindo namorado dela, cheio de provas comprometedoras, ou na amiga que chegou agora?

- Você fez tudo isso de propósito, não é? - eu disse, transbordando insegurança e medo. - Você planejou toda a situação. Deixou a porta aberta de propósito pra que eu visse. Me jogou na piscina sabendo que eu não tinha levado outra roupa só pra...

- Eu jamais faria isso, mas... eu tenho sorte... e as coisas sempre cooperam ao meu favor - disse com um sorriso de vitória no rosto.

- E o que você quer que eu faça? - perguntei, tentando disfarçar minha insegurança.

- Por enquanto, só toma cuidado com o que fala de mim para a Milena. Depois... - ele fez uma pausa, me examinou dos pés à cabeça. Não disse mais nada, começou a andar e falou alto, tranquilamente, como se nada tivesse acontecido, em um tom amistoso e descontraído: - Depois a gente se fala.

E eu fiquei ali. Perdi a força das pernas e caí no chão, incrédula com o que acabara de acontecer e incapaz de reagir.