Acordei com o som abafado de panelas, vindo da cozinha. Era cedo demais para o meu gosto, mas algo me deixou estranhamente alerta. Uma curiosidade crescente me fez decidir que precisava descobrir o que estava acontecendo.
Levantei-me devagar, tentando não fazer barulho. Quando abri a porta do quarto, a visão que tive me fez parar no meio do caminho. Erick estava saindo do quarto de Milena completamente nu. Ele parecia à vontade, sem a menor preocupação em ser visto. O sol da manhã começava a entrar pelas janelas, destacando cada linha de seu corpo.
Imediatamente, fiquei paralisada, observando-o em silêncio. Ele não parecia ter notado minha presença, mas mesmo que tivesse, parecia claro que ele não se importaria em ser visto. Meu olhar seguiu seus movimentos, notando o short jogado no chão da sala, exatamente onde ele havia deixado na noite anterior. Com passos despreocupados, ele foi até lá, pegou o short e o vestiu, como se não tivesse a menor pressa. Esperei até ele terminar de se vestir e se dirigir às escadas para finalmente sair do quarto.
Soltei um suspiro silencioso, decidindo que era melhor acordar de vez e começar o dia. Eu não sabia o que esperar do dia de hoje. Já era domingo, esse vai ser nosso último dia na casa de Erick. Mas eu não tinha ideia do que esperar. Ontem a noite, a visão de Erick nu e excitado não me causou nenhuma emoção além de surpresa e, talvez, um pouco de repulsa. Porém a mesmo visão, hoje pela manhã, me causou o mesmo efeito de quando o vi sem roupa pela primeira vez.
Eu decidi estar no controle da situação, mas não consigo controlar nem meus sentimentos.
Ao chegar na cozinha, encontrei Milena ocupada com alguma coisa no fogão. Ela estava de pé, radiante, como se tivesse tido a melhor noite de sono de sua vida.
— Bom dia, Raquel! — Milena me cumprimentou com um sorriso doce, se escorando no balcão. — Já acordou?
— Bom dia. — Respondi, esforçando-me para parecer bem-humorada. — Já. Ontem todo mundo dormiu cedo... menos você e o Erick.
Ela sorriu, com um brilho nos olhos.
— O café já tá pronto? — Perguntou Erick, entrando na cozinha com Davi ao lado.
— A água já ferveu. Mas quem é o chef aqui é você — disse ela, ainda sorrindo.
Sua expressão estava fechada, sem demonstrar qualquer emoção enquanto se dirigia ao fogão. Milena, no entanto, parecia não perceber ou ignorar a frieza dele, continuando a segui-lo com os olhos cheios de carinho.
Eu observava a interação entre eles, percebendo o contraste na forma como Milena olhava para Erick e como ele a tratava. Havia uma distância, uma barreira invisível entre eles que só ficava mais evidente a cada momento.
Erick já havia usado Milena o suficiente. Ele já tinha conseguido o que queria. Ela alimentou o ego dele tanto quanto ele queria. Erick nunca precisou fingir sentimentos que não existiam, mas enquanto ela servia ao seu propósito, ele manteve a fachada. Agora que Milena não lhe trazia mais nenhuma vantagem, ele não via mais sentido em continuar fingindo amor.
Depois de um silêncio desconfortável, Erick, sem olhar diretamente para mim, comentou, com a voz um pouco mais seca do que de costume:
— Dormiu bem?
Olhei para ele, tentando decifrar o que estava por trás daquela pergunta. Havia um tom de provocação velada, um desafio escondido nas palavras. Mas decidi jogar o mesmo jogo.
— Não tão bem como você — respondi com uma leveza que não sentia.
Ele deu um meio sorriso, mas seus olhos não acompanhavam a expressão.
— Dormi o suficiente.
Davi, alheio à tensão que pairava no ar, começou a puxar assunto com Milena, distraindo ela enquanto Erick e eu mantínhamos o contato visual por mais alguns segundos. Era como se estivéssemos travando uma batalha silenciosa, uma que nenhum de nós queria perder.
Observei o olhar dele por um momento, frio e calculista, como se estivesse avaliando cada movimento que eu fazia. Não havia mais espaço para disfarces ou fingimentos. Erick estava irritado, eu tinha certeza, mas eu sabia que ele não era do tipo que abandonava o jogo na primeira derrota. Agora que as cartas estavam na mesa, ele não tinha mais por que fingir. O desafio estava lançado, e eu podia sentir que ele estava decidido a não me dar nenhuma vantagem, a não ser que fosse para virar o jogo a seu favor.
O café da manhã foi servido de forma simples. Erick respondia com monossílabas a cada tentativa de criar uma conversa. Eu apenas observava a interação, cada vez mais consciente do quanto Milena estava envolvida e de como Erick parecia distante, preso em seus próprios pensamentos.
Depois do café, Milena sugeriu que fôssemos todos a piscina de novo. Davi se animou imediatamente. Eu demorei a responder, mas acabei concordando, sentindo que a manhã ainda guardava surpresas.
Fui até o meu quarto para me trocar, escolhendo um biquíni simples, sem muitos detalhes. Quando voltei à área da piscina, Erick já estava lá, encostado na borda, olhando distraidamente para a água. Milena estava ao lado dele, tentando puxar conversa, mas ele parecia distante.
Davi, já na piscina, chamava por Erick, tentando convencê-lo a entrar na água. Erick olhou para o irmão com uma expressão de desinteresse, mas acabou cedendo, mergulhando na piscina com um movimento rápido. Milena sorriu, contente com a cena, e em seguida me chamou para nos juntarmos a eles.
— Vem, Raquel! A água tá ótima! — Milena exclamou, com entusiasmo.
Sorri de volta, mas meu olhar estava fixo em Erick. Ele saiu da água e ficou na borda, com a água escorrendo pelo corpo. Seus olhos se encontraram com os meus por um instante, e eu senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo.
Entrei na piscina, tentando ignorar o calor crescente que a presença de Erick provocava em mim. A água estava fria, um contraste bem-vindo com a tensão que eu sentia. Milena nadava perto de mim, animada, mas meu foco estava em Erick, que observava a cena com uma expressão indecifrável.
— Raquel, você está bem? Parece que está com a mente em outro lugar. — Milena comentou, nadando ao meu lado.
— Eu só lembrei que tenho algumas atividades atrasadas. — Respondi, sorrindo de forma tranquilizadora.
Ela não pareceu convencida, mas não insistiu. Já Erick, ao ouvir minha resposta, fez um comentário em tom baixo, como se falasse mais para si mesmo do que para mim.
— Pelo visto eu não o único que acordou pensando demais.
O tom seco e enigmático de Erick me fez querer saber o que se passava em sua mente, mas antes que eu pudesse responder, Davi chamou por Milena, pedindo sua ajuda para fazer um jogo na água.
Milena nadou até ele, deixando Erick e eu sozinhos novamente. Ele entrou na água e se aproximou, mantendo o olhar fixo em mim. Havia uma tensão no ar, algo não dito, algo que ambos sabíamos que estava lá, mas nenhum de nós queria admitir.
— Ontem à noite... — Ele começou, a voz baixa e firme.
— Não precisa falar sobre isso. — Interrompi, tentando evitar que o assunto voltasse.
— Talvez eu precise. — Ele insistiu, o olhar se intensificando. — E você também.
Eu sabia a que ele estava se referindo, mas não estava pronta para entrar naquela discussão. Não ali, não com Milena por perto, não com Davi observando de longe. Então, simplesmente dei um sorriso enigmático e saí da piscina, deixando Erick sozinho com seus pensamentos.
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Entre Ódio e Desejo
RomanceRaquel se muda do interior para a cidade e começa a estudar com Milena, uma garota popular e carismática. No entanto, Raquel se vê atraída por Erick, o namorado dela. Enquanto Erick usa Milena para satisfazer seus próprios desejos e alimentar seu eg...