Fiquei sentada conversando com Davi por alguns minutos antes que finalmente ver todos que estavam na quadra saindo em direção ao portão da escola. O costureiro inclusive, saia com uma sacola cheia, provavelmente os uniformes que ele iria ajustar.
Gabriel passou por nós e me olhou com curiosidade.
— Por que você ainda está aqui? — perguntou ele.
— Estou conversando com o Davi — respondi.
Sem mais palavras, Gabriel se inclinou e deu um beijo em meus lábios. O gesto foi rápido, mas o suficiente para me deixar um pouco atordoada.
— Até amanhã, gata — disse ele, com um sorriso arrogante, antes de se afastar.
Ele se afastou, me deixando com Davi. Eu sentia que merecia um pedido de desculpas. Se não fosse por Davi, eu teria ficado todo esse tempo sozinha. Mas essa não era minha prioridade. Aquele era o momento certo para falar com Erick.
Davi me acompanhou em direção aos vestiários.
— Fica aqui fora, Davi. Vou resolver uma coisa e já volto — pedi ao pequeno.
Davi confirmou com a cabeça.
A respiração ficou um pouco mais rápida ao entrar, e logo percebi Erick. Ele estava nu e se dirigia ao chuveiro, que ainda não havia sido ligado. Seu corpo nu era uma visão que sempre mexia com cada parte do meu corpo. Cada músculo parecia perfeitamente esculpido, e havia algo incrivelmente atraente na maneira como ele se movia com naturalidade, como se sua presença fosse uma obra de arte viva, que eu não conseguia evitar admirar.
Erick, percebendo minha presença, virou-se lentamente, com o olhar desconfiado.
— Você não cansa de me ver assim? — ele perguntou, o tom de voz misturado entre desafio e curiosidade.
Pensei em voz alta, sem perceber que falava mais alto do que pretendia:
— Eu nunca me cansaria.
Ao perceber o que havia dito, minha face corou instantaneamente. Um riso escapuliu dos lábios de Erick, e ele perguntou:
— O que foi?
Envergonhada, comecei a me afastar, desistindo de tentar uma conversa. Antes que eu saísse completamente, ele se virou, ligando o chuveiro.
Mas eu precisava falar com ele. Não podia deixar essa bagunça interna continuar. Eu voltei para onde estava. Olhei para ele e chamei:
— Erick — falei, hesitante.
Ele ignorou, continuando seu banho sob o chuveiro. Chamei novamente:
— Erick.
Ele estava tão concentrado em seu banho que parecia não me ouvir. Mas eu precisava falar com ele. Aguardei um pouco e falei:
— Eu li a carta.
O chuveiro parou. Ele não se virou para mim, mas a tensão era palpável.
— Leu? — perguntou ele, a voz revelando uma mistura de esperança e insegurança.
— Li — respondi, a voz suave, quase um sussurro.
Ele pegou uma toalha e se enrolou nela, finalmente virando-se para me olhar. Seus olhos estavam cheios de uma emoção que ele tentava esconder.
— E? — perguntou ele, o olhar profundo e carregado de sentimento.
— Sinto muito por não ter lido a carta no dia em que você a escreveu — disse, a voz tremendo com a sinceridade do pedido de desculpas.
Erick parecia emocionado, com um sorriso pequeno que ele tentava esconder.
— Você não tem culpa — ele disse, sua voz baixa e suave. — Eu deveria ter entregue a carta diretamente nas suas mãos... Na verdade, deveria ter falado isso pessoalmente.
— Eu sei que não teria te ouvido — respondi. — E não precisa se culpar. Entendo que depois de tanto tempo, seus sentimentos possam ter mudado. Eu acho que você ainda não fala comigo só para cumprir uma promessa.
Ele tentou falar, o rosto tenso e os olhos lutando para manter a compostura.
— Raquel, eu...
— Não quero mais que você mantenha essa promessa — eu continuo, interrompendo Erick. — Eu ainda embro do dia em que cantamos "Cuando Nadie Vê" perto da piscina na sua casa.
— Eu lembro disso todo dia. — murmurou Erick, como se estivesse sem fôlego. Sua voz estava carregada de emoção.
— A Milena já te perdoou... — continuei, tentando encontrar as palavras. — Eu te perdoo... você... você mudou, e foi pra melhor... e eu... eu... eu sinto falta... de você...
— Por favor Raquel, eu... — Ele começou a falar novamente, um sorriso tímido surgindo.
— Quero começar do zero... esquecer o que já aconteceu de ruim... começar uma amizade sincera, sem complicações. — Eu o interrompi mais uma vez.
Erick hesitou, o olhar assustado e a expressão confusa. Eu esperei ansiosamente, o coração batendo forte, sem saber o que esperar. Finalmente, perguntei:
— Então... amigos?
Estendi a mão, e ele hesitou por um momento antes de apertar a minha com uma leve decepção no rosto.
— Ok... amigos então.
Nesse instante, Davi entrou, cortando novamente todo o clima. Ele comemorava a nossa amizade. Nós dois forçamos um sorriso para tentar acompanhar a felicidade dele, mas era claro em nossos olhos que ainda não tínhamos acabado nossa conversa.
— Eu tive uma ideia — anunciou ele, interrompendo o clima. — Como você está tão arrumada, Raquel, por que não vai com a gente para o jantar com o pai? Seria uma boa!
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Entre Ódio e Desejo
RomantikRaquel se muda do interior para a cidade e começa a estudar com Milena, uma garota popular e carismática. No entanto, Raquel se vê atraída por Erick, o namorado dela. Enquanto Erick usa Milena para satisfazer seus próprios desejos e alimentar seu eg...