Capítulo 39: Calmaria

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O dia seguinte amanheceu mais tranquilo, mas eu temia que essa paz fosse apenas superficial. Quando encontrei Milena e Vitória no corredor, o rosto da Milena já estava carregado de desconforto.

— Raquel, Vitória, vocês já notaram que o Erick está diferente, ou é só comigo? — Milena perguntou, com uma ansiedade evidente na voz.

Vitória franziu a testa, tentando entender. — Diferente como, Milena?

— Ele está tão seco comigo... — Milena desabafou, mexendo no celular como se esperasse desesperadamente por uma resposta. — Mal responde às minhas mensagens, e quando responde, é sempre com no máximo quatro letras, como se não quisesse falar comigo.

Meu coração apertou. Eu sabia exatamente o porquê desse comportamento, mas não podia contar para Milena. Ela não merecia isso.

— Talvez ele esteja passando por alguma coisa, Milena, — Vitória sugeriu, tentando aliviar a tensão. — Às vezes, as pessoas precisam de um tempo para si mesmas.

Milena balançou a cabeça, claramente insatisfeita com a resposta.

— Eu não sei, Vitória. Sinto que tem algo errado.

Permaneci em silêncio, tentando forçar um sorriso para parecer solidária. A verdade é que eu não conseguia pensar em nada para dizer que não piorasse ainda mais a situação.

O intervalo chegou, e tudo o que eu queria era me esconder, ficar longe de todo mundo. Caminhei pelos corredores da escola, procurando um lugar tranquilo para ficar sozinha, mas, quando virei uma esquina, dei de cara com Erick.

— Raquel, posso falar contigo? — Ele me perguntou, a voz grave e carregada de uma tensão que parecia vibrar no ar.

Eu não queria ouvir nada do que ele tinha para dizer. Cada palavra que saía da boca dele me machucava, e eu sabia que, se deixasse, ele poderia manipular meus sentimentos de novo.

— Não, não pode, — respondi, tentando manter a voz firme. Virei as costas para ele e continuei andando.

Ele deu alguns passos na minha direção, mas desistiu logo depois. Eu sentia sua frustração como uma sombra me perseguindo, mas precisava de espaço, precisava de tempo para tentar entender o que estava acontecendo dentro de mim.

O resto do dia passou como um borrão. Eu tentei evitar qualquer contato com Erick, focando nas aulas e ignorando o burburinho ao meu redor. Quando o sinal para o fim das aulas finalmente tocou, saí rapidamente, desejando apenas chegar em casa e me esconder no meu quarto.

Mas, enquanto me aproximava do portão da escola, ouvi uma voz familiar chamando meu nome. Erick, de novo.

Apertei o passo, não queria dar a ele a chance de falar comigo. Porém, quando percebi que ele estava se aproximando muito rápido, parei abruptamente e me virei, tentando esconder minha irritação.

— O que é, Erick? Fala logo, — disse, sem paciência.

Ele parecia prestes a dizer algo importante, mas, em vez disso, hesitou por um momento antes de falar suavemente:

— Sua mochila está aberta.

Fiquei momentaneamente desarmada. Esperava um confronto, ou mais jogos. Mas em vez disso, ele mostrou uma preocupação simples, quase banal. Suspirei, mais frustrada comigo mesma do que com ele.

— Deixa que eu fecho, — ele se ofereceu, se aproximando de mim.

Virei de costas, sentindo o toque breve dos dedos dele enquanto puxava o zíper da mochila. Era um gesto simples, mas que me deixou desconfortável de uma maneira que eu não queria admitir.

— Pronto, — ele disse, com uma voz baixa e gentil.

Eu não respondi. Apenas assenti e saí rapidamente, sem olhar para trás. Meu coração estava acelerado, mas não por causa de Erick, e sim pela frustração de ainda me deixar afetar por ele.

Quando cheguei em casa, fechei a porta do meu quarto e me joguei na cama. O silêncio era um alívio, mas não o suficiente para acalmar os pensamentos que giravam na minha cabeça. Eu precisava entender por que ainda deixava Erick me afetar, quando tudo o que eu queria era distância.

Fechei os olhos, tentando organizar os pensamentos, mas as lembranças e as palavras dele não paravam de ecoar na minha mente. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que confrontar esses sentimentos, mas naquele momento, tudo o que eu queria era um pouco de paz.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora