Capítulo 77: Meu Pai Pode Ajudar

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A chamada demorou alguns segundos para conectar. Quando a voz do Erick finalmente soou do outro lado, senti um misto de alívio e nervosismo.

— Oi, Raquel — ele disse, com um tom de preocupação evidente.

— Oi, Erick... Desculpa ter sumido assim. — Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria, mas era difícil esconder a tensão que eu sentia. — Aconteceram umas coisas...

— Ah... entendi. Prnsei que eu tinha feito alguma coisa. Você parou de vir e falar comigo do nada... e logo depois daquilo... eu pensei que...

— Não é nada disso! — suspirei, tentando encontrar as palavras certas. — A Penha... Ela tá aqui em casa. A mãe dela tá passando por uns problemas, e a Penha não tá conseguindo lidar com tudo isso sozinha.

Houve um silêncio do outro lado da linha. Eu sabia que ele estava processando o que eu tinha acabado de dizer.

— Caramba, Raquel... Eu nem sei o que dizer. Isso é sério. E a Penha? Como ela tá?

— Ela tá tentando ser forte, mas eu sei que tá machucada. E, pra ser sincera, eu também tô tentando entender como ajudar ela.

— E você? Como você tá com tudo isso?

— Eu tô bem, na medida do possível. Eu dei a ideia de ela morar aqui em casa enquanto elas não conseguem resolver a situação, e minha mãe tá ajudando com isso. Mas... sabe, é complicado. Eu quero ajudar, mas não sei se estou fazendo o suficiente.

— Só de estar ao lado dela já é muito, Raquel. Ainda tô surpreso de você colocar ela na sua casa depois de todo aquele espetáculo que ela fez contigo lá na escola...

— Eu sei... — hesitei um pouco antes de continuar. — Parte de mim também tá surpresa. Mas eu acho que isso é mais sobre mim do que sobre ela.

— Como assim?

— Eu perdoei a Penha. Pelo que aconteceu entre a gente... mas fazer isso com ela... é como terminar de curar alguns dos meus traumas. Eu tô ajudando alguém que já me fez mal... mas hoje ela é minha amiga... antes de eu vir estudar no Instituto, eu era muito humilhada por qualquer motivo e eu sentia que passava por tudo sozinha... aqui eu tenho amigas. Tenho pessoas que me apoiam... e... ser o apoio de alguém... me faz bem... é como se de alguma forma eu estivesse ajudando eu mesma... não se se faz muito sentido. Mas é isso.

— Raquel, isso é... Eu nem sei o que dizer. Você é incrível. — A surpresa na voz dele era evidente. — Eu sei que não foi fácil pra você, mas fico feliz que tenha conseguido fazer isso. Eu tenho muito orgulho de você... eu sei que você não percebe, mas você tá tão diferente da menina que eu chamava de urubu... Não só pelo cabelo! Pela tua força! Te ver assim tão mais forte... segura... me faz ficar ainda mais apaixonado por ti.

— Obrigada... eu... ainda não me vejo com tanta segurança assim... mas... ajudar a Penha me ajuda. Você entende?

— Entendo, sim. E acho que a gente pode até fazer mais.

— Como assim?

— Talvez meu pai possa ajudar. Ele é bom em ouvir as pessoas e em encontrar uma forma de lidar com essas situações. Onde a gente morava antes de vir pra cá, muita gente vinha pro meu pai pedir ajuda.

— Será? — Eu não queria parecer cética, mas era difícil imaginar como o pai dele poderia ajudar. — Você acha que ele poderia falar com a mãe dela?

— Acho que vale a pena tentar. Vou chamar ele aqui.

Enquanto Erick ia buscar o pai, eu sai do quarto em busca  de Penha, que estava sentada no sofá, tentando não demonstrar o cansaço que claramente sentia.

— Penha, o Erick tá tentando ajudar... — comecei, incerta sobre como ela reagiria. — O pai dele pode conversar com a sua mãe, talvez encontrar uma forma de ajudar nessa situação.

Penha levantou os olhos, surpresa.

— Você acha que isso pode dar certo? — A dúvida era evidente em sua voz.

— Eu não sei, mas... não custa tentar, né? Ele tá vindo aqui pra conversar com a gente.

Ela assentiu, um pouco hesitante, mas sem muita escolha. Eu sabia que ela estava desconfiada, mas ao mesmo tempo, qualquer ajuda parecia melhor do que nada.

A ligação reestabeleceu, e ouvi Erick de novo, agora com o pai dele ao fundo.

— Oi, Raquel, Erick me contou mais ou menos o que tá acontecendo. Me explica melhor a situação?

— Oi, Ricardo... Então, a Penha tá aqui comigo porque a mãe dela e ela foram expulsas da casa delas pelo pai da Penha. A gente não sabe exatamente como ajudar, porque a mãe dela não tem nenhum tipo de trabalho ou coisa em que ela possa se sustentar.

Ricardo ouviu com atenção, e depois de alguns segundos de reflexão, ele falou:

— Entendi. Olha, eu não sei no que posso ajudar exatamente agora, mas se eu conseguir falar com a mãe dela, talvez eu descubra alguma coisa. Pode ser que eu consiga entender melhor a situação e pensar em uma solução. Mas, por enquanto, o mais importante é que ela se sinta segura aqui com você.

Penha ouviu as palavras dele e, pela primeira vez em muito tempo, pareceu relaxar um pouco. Havia algo no jeito como Ricardo falava que transmitia confiança.

— Obrigada, Ricardo... Eu nem sei como agradecer — Penha disse, a voz dela saindo mais suave, quase emocionada.

— Não precisa agradecer agora, eu ainda não fiz nada. Deixa o muito obrigado pra quando eu tiver realmente feito alguma coisa.

— Você acha mesmo que pode ajudar? — A insegurança ainda estava lá, mas agora misturada com uma pequena esperança.

— Vou fazer o possível. Não prometo milagres, mas vou tentar entender o que tá acontecendo e ver o que eu posso fazer.

O alívio no ar era notório. Mesmo que ainda houvesse incertezas, só de saber que Ricardo estava disposto a tentar já era algo.

— Obrigada, de verdade, Ricardo — Pemha disse, sentindo um peso sair das minhas costas.

— Pode contar comigo. E, Raquel, qualquer coisa, me avisa, ok? Tô aqui pra ajudar também.

— Vou avisar, sim. Obrigada.

Depois de desligar, me virei para Penha, que ainda parecia um pouco atordoada com tudo.

— Obrigada, Raquel... E obrigada por ter me perdoado. Isso significa muito pra mim.

— Fica tranquila. Já passou.

Penha assentiu, e pela primeira vez, parecia acreditar que as coisas poderiam melhorar.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora