Capítulo 70: Aprender a Quererte

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Cheguei ao hospital e encontrei Davi sentado numa das cadeiras da sala de espera, balançando as pernas ansiosamente. Ele parecia perdido em pensamentos, os olhos fixos em algum ponto distante do corredor, como se estivesse tentando fugir do peso da realidade que o cercava. Ele sempre pareceu muito novo pra idade, mas hoje... ou melhor, desde sexta-feira, ele parecia diferente. Foi como se em dias ele tivesse amadurecido muito rápido. Assim que ele me viu, seus olhos se iluminaram, mas havia uma sombra de cansaço por trás daquele aceno tímido.

– Oi, Davi – eu disse, tentando esconder a apreensão na minha voz.

– Oi, Raquel – ele respondeu, endireitando-se na cadeira e tentando parecer mais relaxado, mas seus ombros ainda estavam tensos, e suas mãos apertavam os joelhos com força.

O silêncio entre nós durou alguns segundos, o tipo de silêncio que pesa, onde nenhuma palavra parece ser suficiente para preencher o vazio deixado pela preocupação. Eu estava prestes a perguntar como Erick estava, quando ouvi passos leves atrás de mim.

Ricardo se juntou a nós, trazendo dois copos de café que pegou na máquina. Ele parecia ainda mais cansado do que da última vez que o vi, com olheiras profundas e a expressão séria que, de alguma forma, ainda carregava sua habitual gentileza. Ele me ofereceu um dos copos, e eu aceitei com um sorriso que foi mais para tentar tranquilizá-lo do que qualquer outra coisa.

– Obrigada – eu disse, soprando levemente o vapor que subia do café quente.

Conversamos mais um pouco, trocando frases soltas sobre como o café do hospital não era dos melhores, como estava o clima lá fora, e outros assuntos que, no fundo, não importavam. Era evidente que todos nós estávamos falando por falar, tentando preencher o silêncio, tentando ignorar o medo que todos nós compartilhávamos.

Ricardo, sempre atento, percebeu minha hesitação. Ele me observava de um jeito quase protetor, como se soubesse o que estava passando pela minha mente antes mesmo de eu conseguir colocar em palavras. Depois de alguns minutos, em meio àquela conversa superficial, ele parou de falar, e me olhou de um jeito especialmente carinhoso. Era um olhar cheio de compreensão e encorajamento, como se estivesse me dando permissão para parar de fingir, para ser honesta com meus sentimentos.

A expressão no rosto dele dizia tudo: eu não precisava continuar com essa conversa protocolar. Eu não precisava fingir que estava calma, que não estava morrendo de medo do que encontraria ao entrar no quarto de Erick. Ele entendia, e, de certa forma, estava me dizendo que estava tudo bem em sentir tudo aquilo. Estava tudo bem em querer estar perto de Erick, em querer estar ao lado dele, mesmo que eu não soubesse exatamente o que dizer ou fazer.

– Vai lá falar com ele – Ricardo sugeriu com uma voz suave, que parecia carregar todo o amor e a preocupação que ele tinha por Erick. – Ele já deve ter acordado. Aposto que ele estava esperando por você.

Essas palavras fizeram meu coração disparar. O pensamento de que Eric estava acordado, que talvez estivesse esperando por mim, fez com que um misto de ansiedade e expectativa tomasse conta de mim. Eu sabia que, assim que eu entrasse naquele quarto, não haveria mais volta. Tudo o que eu estava sentindo, tudo o que eu estava tentando esconder de mim mesma, viria à tona.

Ricardo estendeu a mão e tocou meu braço suavemente, como um gesto de encorajamento. – Ele vai ficar feliz em te ver, Raquel. E acho que você também precisa ver ele, não é?

Eu acho que sim – respondi, minha voz um pouco trêmula.

Eu respirei fundo, tentando reunir toda a coragem que tinha dentro de mim. A cada passo que eu dava em direção ao quarto de Erick, sentia meu coração acelerar, meu estômago se revirar, como se algo estivesse prestes a mudar de forma irreversível.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora