Capítulo 43: Calmo Demais

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Já se passaram dois meses desde que o mundo ao meu redor mudou drasticamente. Nesse período, o que antes parecia uma tempestade incessante se transformou em uma calmaria inquietante. Era como se a vida tivesse tirado um intervalo, e eu não sabia se amava a tranquilidade ou se sentia falta da agitação que marcou o começo deste ano letivo.

Durante esses dois meses, Erick não falou comigo uma única vez. Nada aconteceu entre nós, nenhum sinal de vida ou tentativa de contato. A ausência de suas palavras tornou-se uma constante que eu, de alguma forma, já esperava. O silêncio dele era quase ensurdecedor, uma lembrança constante do quão dramática nossa última interação havia sido.

E nesse silêncio, comecei a me perder em meus próprios pensamentos. Inicialmente, eu tinha certeza de que o odiava, que a raiva que sentia era justa e merecida. Mas, com o passar do tempo, esse ódio parecia esmaecer, como uma chama que vai perdendo força. Eu odiava o que ele fez com Milena, eu sabia que odiava, mas então por que essa sensação de falta surgia quando eu menos esperava? Por que eu sentia falta da voz dele, do calor que ele trazia ao meu redor? Isso me deixava confusa, como se eu não soubesse mais diferenciar o que sentia. Talvez eu estivesse apenas me apegando à certeza de que o odiava, porque era a única coisa que fazia sentido em meio a toda essa confusão.

Os dias passaram, e a rotina escolar seguiu seu curso. Atividades, trabalhos e provas surgiram e se foram, cada um ocupando um espaço temporário em minha vida. As aulas pareciam intermináveis, e os intervalos eram momentos de pausa que eu preenchia com conversas triviais e sorrisos que tentavam esconder a monotonia. O tempo passava, mas Erick permanecia um enigma distante.

Eu me pegava pensando se o que eu sentia falta era realmente dele ou apenas da adrenalina que ele trazia para minha vida. Esses dois meses foram calmos demais, previsíveis demais, e parte de mim desejava que algo, qualquer coisa, acontecesse. Talvez eu só quisesse quebrar essa calmaria sufocante. Talvez eu não sentisse falta de Erick, mas sim da intensidade dos momentos que passamos, do inesperado, da emoção que ele despertava. Mas, então, por que eu continuava dizendo a mim mesma que o odiava? Era mais fácil dizer que eu o odiava do que admitir que estava confusa, que não sabia mais o que sentia.

Milena havia perdoado Erick, e isso era evidente em seu comportamento. Ela estava completamente superada, e a energia que exalava era de uma garota que havia encontrado paz após uma tempestade. Apesar de ter sido ferida, Milena havia encontrado uma forma de seguir em frente, e isso me dava um certo conforto. Eu a via feliz e aliviada, e essa mudança positiva em sua vida também me ajudava a enfrentar o meu próprio silêncio.

Durante esse período, eu evitei procurar qualquer informação sobre Erick. A última coisa que queria era me prender ao passado ou ficar obcecada pelo que estava acontecendo na vida dele. No entanto, as notícias sempre encontravam uma forma de chegar até mim. Boatos sobre Erick surgiam ocasionalmente - uma conversa aqui, um comentário ali. Diziam que ele havia saído com algumas meninas, mas nada era confirmado. O fato era que ele nunca havia começado um relacionamento sério com ninguém desde o fim de seu namoro com Milena. Esse detalhe, de alguma forma, alimentava a curiosidade que eu tentava manter sob controle. O único fato certo é que ele tinha conseguido entrar no time da escola.

E, no fundo, isso me deixava mais confusa ainda. Como eu poderia odiá-lo tanto se ainda sentia essa curiosidade, essa vontade de saber mais sobre ele? Eu dizia a mim mesma que o odiava, que nunca o perdoaria, mas a verdade é que, quanto mais eu pensava sobre isso, menos certeza eu tinha do que realmente sentia. Talvez eu só estivesse insistindo nesse ódio porque era o único sentimento que parecia real, concreto. Mas, ao mesmo tempo, sentia falta da voz dele, do jeito como ele me fazia sentir viva, mesmo que de forma turbulenta. Era uma mistura estranha de emoções que eu não conseguia controlar.

Havia algo de intrigante em como a vida parecia seguir sem maiores incidentes. O ambiente escolar estava mais tranquilo, e eu me encontrava em uma rotina que, embora previsível, também tinha seu próprio charme. As conversas com as amigas eram alegres, e o dia a dia parecia fluir sem grandes interrupções. No entanto, havia uma parte de mim que sentia falta da emoção que os primeiros meses trouxeram. O inesperado, a intensidade e a adrenalina - todos esses sentimentos tinham desaparecido, deixando um espaço que eu ainda tentava entender.

Eu me perguntava se a ausência de Erick em minha vida era um sinal de que eu realmente havia superado o que sentia por ele, ou se eu estava apenas me forçando a acreditar nisso. O silêncio dele era um lembrete constante de que o que tivemos foi um capítulo que se encerrou abruptamente. Mas, e se eu estivesse enganada? E se, no fundo, eu ainda estivesse presa àquele turbilhão de sentimentos, só que de uma forma diferente? Eu queria acreditar que o odiava, que ele não significava mais nada para mim. Mas a verdade é que eu sentia falta de algo, e talvez esse algo fosse justamente o que eu estava tentando ignorar.

Em momentos de reflexão, eu me perguntava se a ausência de Erick em minha vida era um sinal de que eu realmente havia superado o que sentia por ele. O silêncio dele era um lembrete constante de que o que tivemos foi um capítulo que se encerrou abruptamente. Eu havia aceitado a realidade e estava tentando seguir em frente, mas a dúvida persistia.

O tempo passou, e eu continuei a buscar um propósito no meio dessa calmaria. Mas a confusão permanecia. Eu sabia que odiava Erick, ou pelo menos queria acreditar nisso. Mas, quanto mais o tempo passava, mais eu me perguntava se estava apenas me enganando. E isso me deixava ainda mais perdida, como se eu estivesse presa em um ciclo interminável de incertezas.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora