Capítulo 50: Perdão

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No dia seguinte, quando eu entrei na sala de aula, o Gabriel já estava lá, me esperando.

— E aí, gata, tá pronta pra torcer pelo amor da tua vida hoje à noite? — ele perguntou, um brilho nos olhos.

Eu fiquei parada, confusa.

— O quê? — eu questionava mentalmente. A confusão me impediu de responder diretamente, e eu apenas olhei para ele, esperando alguma explicação.

Gabriel pareceu perceber meu estado de perplexidade e se inclinou um pouco para frente, como se estivesse revelando um grande segredo.

— Nossa, você não se atualiza de nada? Hoje são as seletivas pro time da escola! Eu vou estar lá hoje à noite, na quadra, e eu vou passar. Quero que você esteja aqui pra ver o novo jogador se tornando oficial. Cancela qualquer coisa que tenha planejado, você vai vir pra cá.

Ele me fez sentir uma mistura de alívio e desconforto. Eu havia planejado fazer minha nova rotina de skincare, mas parecia que isso não importava mais. Gabriel estava pedindo para que eu priorizasse sua presença em vez de meus próprios planos. Tudo bem, eu pensei, seria mais fácil do que eu imaginava. Eu só precisava me ajustar às suas expectativas.

Mais tarde, no intervalo, eu estava com as meninas — Penha, Milena e Vitória. Sentadas juntas na cantina, o assunto foi, inevitavelmente, a noite de hoje.

— Eu não sabia de nada sobre isso, meninas — eu disse, tentando entender melhor. — Que história é essa? Vocês sabiam que ia ter essa seletiva?

— Eu não sabia — disse Vitória, mexendo no celular distraída.

— Eu sabia, mas não tinha muito o que fazer lá — Penha comentou, olhando para a tela do seu smartphone.

— Eu sabia e eu vou — disse Milena, com uma expressão tranquila.

Nós todoas olhamos para ela, esperando mais detalhes.

— Mas por que você vai? — perguntou Penha. — Tipo, qual é a sua relação com isso?

— Eu vou trorcer para o Eric — respondeu Milena, sem rodeios.

O silêncio caiu sobre nós como um manto pesado. Nós olhamos para Milena com uma mistura de surpresa e curiosidade.

— Hã?

— O que?

— Como assim?

Cada uma falava uma coisa diferente, em um coro de perguntas confusas.

Milena levantou as mãos, tentando acalmar a situação.

— Gente, calma! Não é como se ele tivesse tentado me matar ou me espancado. Calma, não precisa ter tanto ódio. Eu já perdoei ele. Ele já me pediu perdão um monte de vezes. Não tinha porque eu continuar com esse ódio.

As meninas ouviram com atenção enquanto Milena continuava a explicar.

— Depois que eu conversei com o Levi, meu vizinho, eu fiquei com mais raiva dele do que do Eric. O Levi me conhece desde sempre. Quando eu contei pra ele, ele riu da minha cara e disse: "Então quer dizer que ele conseguiu?". Eu fiquei sem entender nada.

Enquanto Milena falava, o clima ficou tenso. A revelação parecia estar pegando as meninas de surpresa.

— A verdade é que o Erick viu a minha foto e comentou sobre isso, mas ele não tinha pedido meu numero nem nada. O Levi falou que eu não era pro bico dele, que ele nunca conseguiria ficar comigo, porque eu era "santinha demais." Ele desafiou o Erick a tirar minha virgindade. O Erick foi escroto, sim, não foi legal. Mas, enquanto estávamos namorando, ele foi um namorado legal. Nunca foi babaca comigo. Mas o Levi sempre foi meu amigo, ele não tinha o direito de me expor desse jeito e ainda desafiar o cara pra fazer um negócio desse.

Milena pausou para tomar um gole de água e continuou.

— Quando o Erick terminou comigo, foi de forma honesta. Não disse imediatamente que isso foi por um desafio, talvez até por respeito. Ele nunca espalhou que havia vencido o desafio. Ele respeitou a minha imagem e não falou mais com o Levi. Então, eu comecei a ficar com mais raiva do Levi do que do Erick. O Erick já me pediu desculpas várias vezes, então eu não tinha motivo para não perdoar ele. Eu perdoo ele, de verdade. Não vamos voltar a ter alguma coisa, porque ele nunca sentiu nada por mim, mas eu consigo olhar para ele como um amigo agora.

Voltamos à sala com o fim do intervalo. E passei todo o resto do dia pensando, sem saber se seria capaz de voltar a ser amiga do Erick, se seria possível tentar algo. Mas, talvez, eu devesse tentar.

Ele não contou pra ninguém que transou com a Milena... Se afastou do Maurício que também sabia dessa história... se afastou de todos os imbecis que ele andava... aliás... nem parecia o mesmo de antes... sorria menos que antes... parecia menos confiante...

Era um conflito interno difícil de resolver. O Eric tinha mudado, mas o que eu faria com isso? Meu coração estava dividido entre o desejo de entender o novo Eric e o medo de reviver o trauma que eu sentia por causa de tudo o que havia acontecido.

No fundo, o que eu queria era que as coisas fossem mais simples. Mas, por enquanto, eu só precisava me concentrar em estar ao lado de Gabriel naquela noite. E, quem sabe, talvez mais tarde eu encontraria uma maneira de lidar com os novos sentimentos e as descobertas que surgiram.

Eu olhei para Milena, que parecia estar em paz com sua decisão, e me perguntei se eu conseguiria encontrar a mesma paz, se conseguiria resolver esse emaranhado de emoções e, de algum modo, seguir em frente, seja como amiga ou algo mais. O futuro estava aberto, e eu ainda precisava decidir o meu caminho.

Entre Ódio e DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora