56. Entre Fraldas e Desafios

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A noite estava longe de terminar. Sophia chorava sem parar, o sol ecoando por toda casa. Noah estava no quarto ao lado, tentando balançar a bebê para acalmá-la, enquanto Sina lidava com Maria Alice, que também não conseguia dormir.

— Mamãe, a bebê não para de chorar. — Maria Alice reclamou, sua voz pequena e frustrada. — Eu quero dormir, mas ela faz muito barulho!

Sina suspirou, passando as mãos pelo rosto cansado. Já era a terceira vez que Maria Alice acordava, incomodada pelo choro da irmã. Ela olhou para a filha, sentindo uma pontada de culpa. A chegada de Sophia tinha virado o mundo deles de cabeça para baixo, e a exaustão estava começando a pesar.

— Eu sei, querida. — disse ela, com a voz baixa e cansada. — A mamãe está tentando, mas a sua irmã ainda está se acostumando com tudo. Vamos tentar dormir, tá bom?

Maria Alice cruzou os braços e fez um bico, claramente insatisfeita. Sina sentou-se na beira da cama da filha, tentando acariciar seus cabelos loiros, mas Maria Alice afastou a cabeça.

— Você só liga pra ela agora — a menina resmungou, virando o rosto para o travesseiro.

Aquelas palavras atingiram Sina em cheio, fazendo seu coração afundar. Ele respirou fundo, sem saber o que dizer. O cansaço estava começando a consumir sua paciência, e tudo o que queria era que a noite terminasse. Ela saiu do quarto em silêncio, fechando a porta com cuidado.

Ao voltar para o quarto de Sophia, encontrou Noah andando de um lado para o outro com a bebê nos braços, ainda chorosa.

— Ela não quer parar — ela disse, em um suspiro derrotado. — Acho que troquei a fralda umas três vezes e dei de mamar, mas nada adianta.

Sina se aproximou, pegando o bebê nos braços. Sophia soluçava baixinho, o rosto pequeno e vermelho de tanto chorar.

— Talvez ela só esteja assustada — Sina murmurou, balançando-a suavemente. — É tudo muito novo pra ela... e pra gente também.

Noah passou as mãos pelos cabelos, o cansaço claramente estampado em seu rosto. Ele olhou para o relógio na parede. Já era quase três da manhã.

— Parece que não estamos conseguindo — ele disse, a voz carregada de frustração. — Toda noite é assim. E de dia não é muito melhor.

Sina apertou os lábios, sentindo o peso das palavras dele. Ela sabia que Noah não estava tentando culpá-la, mas o comentário atingiu um nervo exposto.

— Eu sei que está difícil — ela respondeu, sua própria frustração começando a aparecer. — Mas o que você quer que eu faça? Eu estou exausta, Noah! Maria Alice também precisa de mim, e eu não consigo estar em dois lugares ao mesmo tempo!

Noah soltou um suspiro pesado, esfregando o rosto. O silêncio que se seguiu estava carregada de tensão, até que ele finalmente falou.

— Desculpa. Eu só... eu só não sei mais o que fazer.

Sina sentiu seus olhos arderem de cansaço e frustração. Ela também não sabia o que fazer. Não sabia como equilibrar tudo. Não sabia se estava sendo uma boa mãe para Maria Alice, e tampouco sabia como lidar com a recém-chegada de Sophia. Tudo parecia estar desmoronando.

— Às vezes, eu me pergunto se eu ainda quero voltar pra medicina — ela sussurrou de repente, as palavras saindo sem que ela tivesse planejado. Noah a olhou, surpreso.

— O quê?

— Eu tranquei a faculdade, e... não sei se quero destrancar. Não sei mais se amo aquilo. Eu não sei mais se consigo ser a Sina de antes — confessou, sua voz tremendo levemente. — Tudo mudou desde os últimos acontecimentos. Eu mudei.

Noah a encarou, os olhos refletindo preocupação.

— Sina, você sempre amou a medicina... sempre foi seu sonho. Não acha que está apenas cansada agora? Que, depois que as coisas se acalmarem, você vai voltar a sentir isso de novo?

— Eu não sei — ela respondeu, mordendo o lábio. — Talvez. Ou talvez não. Mas eu sinto que estou perdendo partes de mim. Eu não consigo fazer tudo isso, ser tudo isso.

Sophia finalmente adormeceu em seus braços, o choro cessando gradualmente. Sina a colocou de volta no berço com cuidado, mas a sensação de peso ainda estava ali, em seu peito. Ela se virou para Noah, que a observava com uma expressão suave, embora cansada.

— Eu também estou perdido — ele admitiu, sua voz baixa e sincera. — Não sei como equilibrar tudo, como ser o pai que quero ser para Maria Alice e Sophia. Mas... vamos descobrir isso juntos. Sempre conseguimos, de algum jeito.

Sina assentiu, embora ainda se sentisse incerta. Ela sabia que Noah estava tentando, assim como ela, mas o cansaço, tanto físico quanto emocional, tornava tudo mais difícil de ver com clareza.

Antes que pudesse continuar, um barulho veio do corredor. Maria Alice, com os olhos sonolentos e o cabeça bagunçado, apareceu na porta do quarto, abraçando seu ursinho de pelúcia.

— Eu quero ver a Sophia — disse ela, a voz baixa e tímida.

Noah sorriu, apesar do cansaço, e pegou a filha mais velha no colo, levando-a até o berço.

— Ela está dormindo agora, mas pode olhar — ele disse, sussurrando.

Maria Alice olhou para a irmã com curiosidade, seus olhos brilhando levemente sob a luz fraca do quarto. Ela estendeu a mão pequena e tocou o braço de Sophia com cuidado, sorrindo.

— Ela é tão pequena — Maria Alice murmurou, com um sorriso suave. — Será que ela vai brincar comigo quando crescer?

Sina e Noah se entreolharam, uma pequena chama de esperança acendendo em meio ao caos.

— Vai sim — Sina respondeu, ajoelhando-se ao lado de Maria Alice. — Ela vai ser sua melhor amiga, eu prometo.

Maria Alice sorriu, ainda olhando para Sophia com admiração. Sina sentiu um alívio momentâneo, como se, por um segundo, as coisas estivesse se encaixando. O caminho à frente ainda era incerto, e o futuro parecia pesado, mas havia momentos como aquele que lembravam Sina de que, apesar das dificuldades, eles estavam juntos.

E talvez, só talvez, isso fosse o suficiente.

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