Capítulo 4

9.1K 902 375
                                    

O coração do pequeno Vincent parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso Sr. Harrington.

— Como disse, senhor?   

       O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera. Apenas não conseguia respirar sem parecer afoito diante do que lhe fora proposto.

      Vincent podia sentir a pulsação do coração agitar-se na ponta dos dedos, em forma de pequenos tremores. Aquele vecchio deveria estar com um parafuso a menos naquela cabeça. Deveria ter bebido vinho em demasia para falar tamanha barbárie para uma criança como ele. 

Louco, não conseguia deixar de pensar. Timóteo Harrington é louco. Os olhos do garoto tremiam, planejando como escaparia do velhote de feição inabalável. 

— Que seja um Assassino.

— Eu... me tornar um... Assassino? — O garotinho gaguejara.

       Assassino. Matar alguém. Ser o cane rognoso daquele senhor. Vincent agitou-se. Estava oferecendo uma horrível proposta para assassinar pessoas. Ceifar outras vidas assim como a vida de sua família. Era terrível. O coração parecia não caber no peito. Queria fugir daquele velhote com ideias malucas. Lançou as mantas que o cobria, e cambaleou da cama, muito fraco. Harrington apenas observava o garoto rastejar-se pelo chão, encostando o corpo contra a parede, fitando-o feito um gatinho retraído com uma expressão de medo. 

— O que foi, caro Vincent?

— Me deixe ir embora! — Exclamou em uma voz arfante. — Por favor, me deixe sair daqui!

       Harrington fechou os olhos, soltando uma lufada de ar, que poderia ser interpretada como aborrecimento. O garoto assustado entendera tudo errado.

— E por que desejas ir?

— Porque não farei o que pedes! Isso, não! Matar pessoas, não! 

        Parecia querer acordar de um pesadelo.

— Achas que estou querendo transformá-lo em um facínora qualquer? — questionou em uma voz mansa.

— A ideia de ser um assassino é errada! — o garoto o olhou com uma expressão assustada. — Está louco se pensa que vou aceitar.

— Ah! — Harrington parecia lembrar-se de um fato relevante. — Deixe-me dizer um fato, Vincent, mas para isso, preciso que te acalmes. Sente aqui. — Batera com a ponta da bengala na cama, instigando-o a sentar-se.

       Ainda muito desconfiado, Vincent fungou, passando a manga encardida da camisa no nariz, e obediente, sentou-se na cama. Temia que Harrington o trancafiasse naquele quarto e o torturasse até que ele concordasse em ser um matador. Já fizera um imenso esforço para livrar-se do bando de marginais mirins, e agora mais esta pedra no caminho. 

— Quando eu era jovem e sonhador — dissera Harrington, — passei metade da vida no colégio interno. Voltava para casa apenas uma vez ao ano, e logo meu pai trancafiava-me no internato, pois, segundo ele, queria criar um homem de negócios, e para isso eu precisava ser inteligente e sábio.

— O que isso tem a ver? — Vincent estava inquieto. Tinha certeza que aquele homem queria ludibriá-lo.

— Acalma-te, Vincent. Che cosa! — Repreendeu-o. — Chegarei ao ponto.

       Pigarreou, olhando para a janela, fitando a escuridão lá fora. Sua mente remexia em busca das memórias intocadas e proibidas. Era necessário. Aquele garoto precisava saber. Tudo estava relacionado a ele, como tênues fios vermelhos entrelaçados.

BRAVURAOnde histórias criam vida. Descubra agora