A madrugada impaciente empalidecia no declínio da ofuscante Lua cheia, pregada majestosamente no manto azul, repleto de pequenos pontos cintilantes que aos poucos sumiam, dando espaço para a grande estrela diurna. Tal madrugada parecera sonolenta e preguiçosa para alguns, exceto para o menino de olhos rubros.
Vincent não conseguira pregar os olhos, relembrando das confabulações de Timóteo Harrington. Assassinos. Illuminatos. O descobrimento de um pai em sua vida, e a sua função como ceifador... Tudo isto mexia com a cabeça do garoto. Em sua antiga vida como marginal, era apenas um grão de areia à parte, e agora, sentia que pertencia a algo maior.
No entanto, algo remexia incessantemente em sua consciência. Deveria ser um matador, como o pai. Era obrigado a ser um Assassino. Ora, não demonstrava coragem sequer para matar uma mosca. Até o presente momento, a única pessoa que machucara fora Guelra, e arrependia-se por ter fraturado o braço do rival.
Levantou-se, sentando à beira do leito, apartando a manta fria. Não restavam escolhas. Não existiam outras opções. O destino parecia regozijar-se ao brincar consigo, atormentar a sua alma e destruir as suas expectativas.
Aiutami, Dio!
Fechou os olhos, impedindo as temidas lágrimas ressurgirem outra vez.
Vincent tinha esperanças em sua mãe passar pela porta e abraçá-lo, ouvir mais uma vez sua doce voz dizer ao seu ouvido que tudo estava bem, mas havia um grande problema; Enna, sua mãe, não estava mais viva.
Deixara uma lágrima desobediente escapar. Ainda doía recordar-se de sua falecida mãe.
Chorou baixinho, mas ainda podia sentir a garganta queimando a fim de libertar o choro. Mordera o lábio inferior com bastante força, e um gosto metálico brotou em sua língua. Cortara o lábio com os dentes.
Esfregou as palmas na face, repetidas vezes, enxugando tais rastros molhados. Precisava esclarecer certos pontos e, o primeiro deles, era justamente recusar-se a machucar alguém. Vincent não iria aniquilar pessoas como Harrington sugeriu. As levaria à justiça, onde pagariam por seus crimes, principalmente os malfeitores que destruíram sua vida.
Saiu do quarto, com a intenção de ter uma conversa franca com Harrington. Não deixaria seu destino ser moldado pelo vecchio.
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O escritório de Harrington ficava no segundo andar do casarão, o que era necessária a subida dos inúmeros degraus de mármore cercados por corrimões de marfim. Na entrada do escritório, haviam dois vasos em cor ébano de origem grega, com desenhos de lutas, na cor de argila. Vincent curvou-se para olhar os desenhos mais de perto, e logo enrubesceu ao notar que os lutadores pelejavam despidos. Abanou a cabeça, por conta da tola distração e prosseguiu para encontrar-se com Harrington.
Abriu a porta do escritório, e logo reparou as os dois conjuntos de janelas amplas de vidro fosco. O denso verde das árvores, do lado de fora, eram apenas um borrão esquecido. O teto e as paredes eram suavizados, ornamentado todo em gesso, o que impediam ruídos externos de propagar-se no ambiente. As hastes das luminárias acopladas na parede eram em dourado, o que fazia a luz das velas transpassarem das caixas de vidro, despejarem uma certa luz nívea.
Harrington estava sentado de frente para a janela, vislumbrando o nascer do sol. Havia muita fumaça subindo pelas ventas, e mesmo longe do cheiro nauseante, Vincent tossiu, denunciando a sua presença.
— Vincent, amico mio, acordastes um tanto cedo, não?! — levantou-se da cadeira, apoiando-se na bengala.
Olhou firmemente o menino, com as sobrancelhas unidas, fitando as marcas arroxeadas debaixo de seus olhos rubros. Percebera que o menino mal dormira.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...