🚨AVISO: O CAPÍTULO CONTÉM DESCRIÇÕES FORTES, QUE PODEM SER PERTURBADORAS PARA ALGUNS LEITORES.🚨
Vincent encontrava-se sentado no chão da estufa do collegio Toulose, relendo o livro que Harrington lhe presenteara. Aquela estufa virara seu canto secreto do mundo, onde podia abrigar-se e esconder-se dos meninos petulantes ou dos professores que faziam questão de atormentá-lo. A estufa era um mundo só seu. Em meio às hortênsias e samambaias desfrutava de pequeninos momentos de gáudios.
Virou a página do livro de capa de couro em púrpura.
Já havia lido os outros livros da biblioteca secreta do tutor, porém, gostava mais de reler aquele. Crônicas de um coração partido havia conquistado-o por inteiro. Sabia a história de cor. Era sobre um rei velho e amaldiçoado, que no fim de sua vida, lista as coisas das quais arrependera-se de fazer quando era jovem. Vincent sentia certa empatia por Salomon, o personagem do livro, pois cometia seus atos achando que teria um futuro glorioso, e as pessoas esperavam que ele fosse um grandioso rei, como o seu pai.
Era essa mesma questão que ele vivia em casa. Os treinamentos de Harrington eram árduos, mas nunca brutais. Vincent gostava de fazer esgrima, era um ótimo exercício, mas que perdia toda a significância quando Timóteo Harrington lhe falava que era uma sensação maravilhosa quando a lâmina furava a carne do rival.
Suspirou, com certa tristeza. Estava há meses naquele colégio, e não fizera amigos. Decerto que Pierre falara com ele no primeiro dia de aula, porém, o mesmo não se repetiu no dia seguinte, e nem na semana seguinte, ou no mês seguinte. Tudo por conta dos boatos maldosos que Aaron espalhava sobre ele. Diziam que o garoto de olhos rubros era perigoso, e que o tal falava com demônios na calada da noite. Vincent tentava fingir, por inúmeras vezes, que os boatos não eram relacionados a sua pessoa, entretanto, magoava a forma como os alunos olhavam para ele.
Olhares carregados de julgamento.
Pierre era agora o melhor amigo do filho do diretor, e por esta razão, esquecera Vincent. Durante aqueles meses, depois de quase estrangular Aaron, o mesmo não cruzou o caminho de Vincent, porém guardava um rancor que infectou a sua alma.
Repousou o livro nas pernas esticadas. De repente, ouviu latidos, eram baixos demais e aparentavam estarem perto. Atentou-se ao barulho que vinha detrás dos vasos com azaleias. Colocou o livro no chão e inclinou-se para os vasos.
E, então, fora surpreendido quando uma bola tão alva quanto a neve, pulou sobre seu colo. Era um filhotinho de cachorro.
— O que faz aqui, amiguinho? — acariciava a cabeça do cachorrinho, e logo notou sua patinha machucada. — Está tudo bem. Não irei te machucar.
Vincent desfizera o nó do laço-gravata em seu pescoço, e com carinho, enrolou na patinha do cãozinho. O filhote soltou grunhidos, como se estivesse sentindo uma grande dor. O coração de Vincent apertou. Aquele animalzinho estava amedrontado. Com cuidado, escondeu o cachorrinho sob o seu casaco, apanhou o livro do chão e saiu da estufa.
Levaria o cachorro consigo.
Para casa.
(...)
— O que levas aí contigo, bastardo? — Aaron barrou o caminho de Vincent, ficando à sua frente, pondo o braço na parede.
— Deixe-me passar, Aaron.
— Mostre-me o que escondes.
— O que eu tenho escondido aqui, não lhe interessa.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...