Capítulo 44

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      O chão era frio e duro. Sua cabeça doía de tal forma como marteladas cruéis tivessem sido desferidas contra ela. Aos poucos, Vincent recuperava a consciência. Sabia que havia se passado quinze horas, isso por conta de seu instinto de Assassino. Mexia os dedos das mãos muito devagar, os dedos doloridos como se tivessem sido esmagados por marretas. Sentia falta do braçal, de suas botas, das adagas, e principalmente, de Arcanjo. Desarmado e indefeso como uma criança pequena, aquilo somente poderia ser um castigo divino. Não, seu pensamento era inconsistente. Nada tinham a ver com as coisas do destino, somente Illuminatos que desejavam ter a sua cabeça.

Seu plano para consumar sua vendetta dera errado. O miserável Malquior estava bem à sua frente... tão perto. Lamentava-se por não ter cravado a espada no peito do infeliz quando tivera a chance. Porém, o Cavaleiro Negro ademais esperto sabiamente fizera uso de venenos para ludibriar o rapaz de olhos rubros.

Maldição! O veneno ainda queimava em suas veias. Na mente de Vincent, recordações dispersas e fragmentadas serviam somente para confundi-lo. Recordava-se amargamente que Malquior o derrotara, lembrou-se dos corredores da masmorra por onde fora arrastado, com pouco nitidez lhe veio à mente a imagem da moça de cabelos negros que chorava por ele. A jovem que o beijara. Vincent não conseguia lembrar-se de mais nada depois disto. Doía os ferimentos no ombro e em seu flanco causados pela espada do maldito Cavaleiro Negro.

— Diabos... — praguejou baixinho, o gosto metálico do sangue maculando seus lábios.

Firmou as palmas da mão e os dedos dos pés sobre o chão gélido e escorregadio. O cheiro de limo e urina era forte e fez um esforço grande para respirar sem sentir-se enojado. Encostado no canto da cela, jazia um loiro jogado de qualquer jeito, como uma boneca de pano sem modos.

— Jer...vaise... — pôs a mão sobre as costelas doloridas, falar somente fazia a dor aumentar. — Jer... Jervaise.

Vincent engatilhou até o amigo, sacolejando-o para que despertasse. O germânico por fim acordou, muito assustado, entre murmúrios e gemidos. Sobrepôs a mão na testa com sangue seco.

— Que lugar é este, Vince? — Jervaise gemia. — Há quanto tempo estamos aqui?

— Fomos transportados durante a noite — Vincent sentou-se no chão, muito desconfortável. — Os Illuminatos nos mudaram de lugar.

Se antes encontravam-se na masmorra de Florença, sob a supervisão da major DiFerrazo, naquele momento Vincent tinha uma vaga ideia do local onde encontrava-se.

— Estou todo quebrado... Vince — a cabeça de Jervaise latejava. — Completamente quebrado. Malditos Illuminatos. Nos torturam a fim de divertir-se com nossas dores. Por que não nos matam logo?

— Duvido que isso ocorra depressa. Eles querem saber a localização do Clã. Desejam arrancar essa informação somente para nos matar em seguida.

— Creio que eu esteja surtando — sobrepôs a palma da mão sobre os olhos. — Como toda esta desgraça foi acontecer? — Jervaise continuava esparramado no chão. — Eu nunca falhei em nenhuma missão. Senti-me tão desprevenido quando aquele bastardo atingiu-me. Decepcionei o meu Clã, o Sr. Sameque, e você.

— Foi minha culpa. Deixei meu sentimento de justiça tornar-se algo diferente e monstruoso.

A porta da cela abriu-se e dois indivíduos de manto escarlate por ela passaram. Vincent tentou levantar-se, esforçando-se em lutar mas suas forças já haviam se esvaído há muito tempo. Caiu fraco no chão, a face tocando o chão com limo.

— Assassinos! — cuspira o homem conhecido como Omar.

— Corja maldita. Abutres. — dissera o outro, chamado de Urien.

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