Calor. Areia. Fadiga.
O treinamento naquela tarde escaldante de céu de nuvens em tom encarnado, sucedeu-se incrivelmente árduo. Ora, sequer parecia um treino, mas sim, uma peleja pessoal repleta de rancor.
Nos lábios de Vincent coexistiam pequenas linhas em vermelho e a sua garganta, implorava por um pouco de água. A lâmina da espada empunhada na mão direita parecia pesar entre dez e vinte quilos, e fora a couraça frente ao tórax, que servia como armadura, que era deveras apertada e esquentava seu torso mais rápido.
Era um martírio levantar a espada, com todos os músculos do corpo exauridos, por causa daquele insano treinamento.
— Por que parou? — Yusuf, seu treinador, berrou da outra extremidade do plaino arenoso. — Estais pensando no teu funeral?
Vincent respirou fundo e arrastou a lâmina no chão de areia, a avançar na direção do treinador severo, acabando por levar um inesperado pontapé na couraça que protegia o seu tórax, fazendo-o rolar metros de distância e a espada de lâmina grossa escapulir de sua mão. Receber um golpe daqueles, por pouco, não quebrara a clavícula de Vincent. Porém seus pulmões sofreram com o impacto. Tossiu e, por fim, expeliu sangue pela boca.
Yusuf era grande como uma montanha, forte como um touro e de cabelos muito avermelhados como o fogo. Era conhecido por aquelas bandas como o "bravo guerreiro de Jerusalém", um nome muito pomposo, segundo Vincent, para alguém cuja boca vivia a cuspir palavras desenfreadas para engrandecer o próprio ego.
— Contemple isto — Yusuf fizera pose, mostrando os músculos no braço esquerdo tatuado. — Chama-se "poder e força de vontade"! Algo que um franguinho como tu, nunca terás!
Naquele breve momento, o já irritado Vincent almejou costurar a boca de Yusuf para que cessassem tais falações irrelevantes.
Todos os Assassinos olhavam para aquele treinamento, ou como estavam a dizer, viam a humilhação do novato.
— Levante-se! — gritara o carrasco. — Estais com saudade da mamãe? — Yusuf indagou, crapuloso.
O rapaz de olhos escarlates limpou o sangue dos lábios, arfando muito, batendo a poeira em sua calça larga e camisa.
— Vamos, moleque! — Yusuf o agitou.
Moleque? Vincent ficou sisudo. Por acaso Yusuf estava a lidar com uma criança? O corpo de Vincent desenvolveu-se nos últimos meses que passara na guilda. Tinha, agora, um torso com cicatrizes de combate e músculos rijos.
— Queres desistir? — Yusuf passou a espada de uma mão para a outra com um sorrisinho sarcástico.
— Nunca! — bramiu o jovem de olhos rubros.
— Achas que só por que és discípulo do respeitável Harrington, que pegarei leve contigo?
— Cale a boca e vamos acabar logo com isso! — Vincent exprimiu entre dentes.
O espadachim gigante correra na direção de Vincent, que desviou-se rapidamente a rolar na areia, mirando o ruivo bárbaro fincando a espada na terra. Era um treinamento e não uma autêntica peleja. O que raios Yusuf estava a pensar? Vincent ergueu-se, batendo os grãos de terra que ficaram no cabelo. Caminhou com precaução até a espada, sem tirar os olhos do lunático ruivo. Por fim, Vincent apanhou a espada, arrastando a lâmina pesada da espada.
— Miserável! — o ruivo gritou. — Deveria ter ficado no chão!
Veremos quem caíra até o findar deste dia. Vincent o mirava com a ferocidade de um lobo.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...